Público X privado: mães passam horas esperando por consulta pediátrica ‘a jato’
VÍDEO: em posto de saúde, demora é de quase 4 horas
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VÍDEO: em posto de saúde, demora é de quase 4 horas
O Jornal Midiamax publicou, ao longo desta semana, série de reportagens sobre o atendimento no setor de pediatria em Campo Grande. Entre os principais problemas no atendimento está a longo espera, provocada pela falta de profissionais, problema crônico, que, a despeito de ser antigo, parece não ter solução. Diariamente, são recebidas pela reportagem denúncias, reclamações, fotos e vídeos de leitores indignados com a saúde pública na Capital.
As mães e pais que possuem convênio médico também não ficam livres dos problemas ao levar os filhos à urgência. São horas esperando por atendimento para uma consulta ‘a jato’. Na quarta-feira da semana passada, dia 5 de abril, duas mães foram acompanhadas: no Hospital Infantil São Lucas, na Avenida Afonso Pena e na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Dr. Alessandro Martins de Souza, na Vila Almeida.
No primeiro, a servidora municipal Ariana Geraldo Amorim, 32 anos, levou a filha Yanguia, 12 anos, que estava com tosse. No segundo, a operadora de caixa Deise Flávia Melo, 25 anos, levou a filha Yngrid, 11 meses, que vomitava desde a noite anterior. Ariana também é mãe de Endrius, 2 meses e Deise, de Yngrid, 4 anos. Sem ter com quem deixar os filhos, as duas tiveram que levá-los para a maratona enquanto esperavam atendimento.
“Postão”
O Hospital Infantil São Lucas leva o apelido de “postão” pelos pais que possuem o plano mais simples da Unimed. Ao perguntar como é o atendimento, a opinião geral é: melhor do que posto de saúde, mas, já vão sabendo que vai ter de esperar pelo menos duas horas. Não é bonito, mas o atendimento médico é bom.
Às 9 horas do dia 5 de abril, Ariana esperava do lado de fora do São Lucas, com Endrius no bebê conforto e Yanguia ao lado. O motivo é o receio do bebê de dois meses ficar em meio às outras crianças, que tossiam e espirravam, enquanto esperavam atendimento. A mãe preferiu ficar em pé, mas, em local aberto.
Dentro do hospital, mais de 50 crianças esperavam atendimento. Ariana diz que 40 já haviam sido chamadas na mesma manhã. A mãe chegou por volta das 8 horas. Yanguia não mora com ela, vive com a avó e, às 6 horas, foi acordada com o telefonema da mãe, dizendo que a menina poderia estar com pneumonia, pois, estava tossindo e com a garganta ‘ruim’.
Aos 12 anos, Yanguia, já teve alguns problemas de saúde, talvez, seja esse o motivo da preocupação da avó. Ao todo, a espera dos três foi de quase duas horas. O nome da menina foi ouvido às 9h30. Ela, a mãe e o bebê atravessaram a porta de vidro. Exatos 5 minutos depois, Ariana retorna e diz: vamos? Já acabou. Já foi a consulta”.
Como já previa a mãe, a situação de Yanguia não era grave. Ariana conta que o diagnóstico do médico foi: tosse por causa do tempo. A medicação receitada foi um anti-histamínico, pedido por ela mesma.
O que diz a mãe: Faltam médicos.
Ariana diz que o atendimento é bom no São Lucas, o problema é a espera. Geralmente são apenas dois pediatras para atender no local. Sobre os postos de saúde, ela prefere evitar: falta médico, demora mais e o tratamento dos funcionários nem sempre é cordial com as mães que estão aflitas.
Yanguia, que tem opinião sobre tudo e conta que vai ser médica obstetra quando crescer, diz que entre o Hospital da Criança, também particular, e o São Lucas, prefere o segundo. “Divertido mesmo”, nas palavras dela, foi a internação no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, por causa de um problema no joelho.
A mãe conta que no HU queriam prolongar a internação da filha para uma bateria de exames e enquanto isso, ela subia e descia das macas. Pelo menos nessa vez, o atendimento médico deixou uma boa recordação para a menina.
Senta e espera
Logo após a consulta de Yanguia, ligamos para o 192, para saber em quais unidades de saúde havia pediatras em Campo Grande: Só no [UPA – Unidade de Pronto Atendimento] Coronel Antonino e na Vila Almeida. Chegamos à Vila Almeida às 10 horas, junto com Deise e duas meninas. A operadora de caixa perdeu o dia de trabalho para levar a filha ao médico e a mais velha, Yasmin, perdeu o dia no Ceinf (Centro de Educação Infantil), pois não tem como levar uma ao médico e a outra, no médico.
Desde a noite anterior, a bebê estava vomitando, sem comer direito e deixando a mãe preocupada:
-Criança assim desidrata fácil. Essa [a Yasmin] já teve anemia. Não dá para deixar.
As três moram no São Conrado, mais perto, está localizada a UPA Leblon, mas por não havia pediatra naquela manhã. Deise não sabia nem chegar à unidade de saúde e precisou pegar carona para chegar. Primeiro, nome na recepção. Depois, senta e espera. Quase 1h30 até a triagem. Uma sala para adultos e uma para as crianças. Depois de um tempo sem chamar ninguém, as crianças começam a ser chamadas. Yngrid só é atendida às 11h25.
Enquanto espera, Deise conta sobre rotina no atendimento nos postos de saúde às duas filhas. No bairro dela, há posto de saúde e a mãe conta que o atendimento é satisfatório. Há o ‘sacrifício’ de madrugar para conseguir a consulta, mas o atendimento às crianças é bom. Deise dizque a filha mais velha já teve um problema de pele, foi ao posto de saúde e que em menos de uma semana ficou tudo bem.
Em outros atendimentos em UPA, a mãe se queixa da falta do pedido de exames e do diagnóstico feito apenas no ‘olhômetro’, da falta de um exame de sangue. Durante a gravidez, ela também se recorda de procurar atendimento e, com a pressão alta, ter de esperar por longas horas.
Depois da triagem, que dura 2 minutos, vamos para a sala de espera. No local, faltam cadeiras para o tanto de mães com crianças esperando. Deise passa mais de 1 hora com Yngrid nos braços, em pé. Enquanto isso, Yasmin repete ‘mãe, eu estou cansada’.
Nos outros bancos, a cena não é muito diferente. Mães consolam crianças que choram, bebês que choram e pais indo à recepção saber se os pediatras estão atendendo. Durante a troca de plantão, os nomes no telão param de chamar. Às 13h15, os médicos voltam a chamar. Yngrid é chamada às 13h41. Exatamente às 13h48, Deise sai do consultório com as duas meninas.
Yngrid tem virose, segundo o médico. Com a sala de hidratação lotada, mãe volta para casa com a recomendação de retornar à UPA se a bebê não melhorar e a medicação padrão: dipirona e bromoprida.
O que diz a mãe: Faltam médicos. O problema é a demora.
O que diz a Sesau
A pediatria na rede pública de saúde é um problema crônico não só em Campo Grande, mas em todo o país. Na Capital, por exemplo, nós contamos com 76 profissionais na rede para atender toda a população infantil. Consequentemente, existem problemas recorrentes, principalmente para compor a escala de plantão deste profissionais.
Na Capital, nós contamos com 10 portas de atendimento para urgência e emergência, sendo seis Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e quatro Centros Regionais de Saúde (CRS). Existe uma dificuldade muito grande para alocar os profissionais em todas unidades em decorrência do deficit existente, principalmente durante a manhã e tarde, onde estes profissionais preferem atender em consultórios e clínicas particulares.
Para tentar amenizar esta situação, a prefeitura reeditou um decreto que foi publicado na edição do dia 04 do Diogrande assegurando uma gratificação de até R$300, acrescido ao valor de R$908 já pago por plantão, para que o pediatra possa trabalhar durante o dia. Essa é uma forma de atrair este profissional e garantir o atendimento durante o dia.
A prefeitura estuda ainda concentrar o atendimento em 4 unidades (UPAS Coronel Antonino, Vila Almeida, Universitário e Leblon) garantindo o atendimento com a escala preenchida 24 horas. É importante ressaltar que toda a estrutura de atendimento destas unidades está em processo de readequação a fim de otimizar e garantir o atendimento adequado à população.
Outro ponto a destacar é que a atual gestão está investindo na reorganização da atenção básica para garantir a resolução de casos mais simples, onde o paciente não precisa ir até uma unidade de urgência e consequentemente ter que aguardar por um período longo, tendo em vista que em tais unidades o que determina a celeridade no atendimento não é a ordem de chegada e sim a gravidade dos casos que, em sua maioria, são casos mais simples.
São Lucas
O Jornal Midiamax tentou contato com o hospital São Lucas, mas não obteve respostas sobre a situação.
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