MS 40 anos: Índios lutam para manter tradições vivas em meio a fazendas
Agricultura e artesanato são as fontes de sustento
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Agricultura e artesanato são as fontes de sustento
Rodeada por aldeias, Miranda se tornou uma cidade com uma forte presença de indígenas em suas ruas. Uma das grandes aldeias da região fica cerca de 17 quilômetros da entrada do município e tem o nome de Cachoerinha, com uma população estimada em 10 mil índios. Apesar de sua grandeza, a aldeia luta para sobreviver da lavoura e do artesanato que produz, tendo sua dificuldade iniciada ainda na inserção escolar.
A aldeia é composta por cinco outras comunidades menores, sendo elas a Mãe Terra, Babaçu, Argolinha, Morrinho e Lagoinha. O sustento da comunidade vem de duas grandes atividades, sendo elas a agricultura e a produção de peças em cerâmica.
Conforme o cacique Marcus de Arruda, líder da comunidade, a aldeia conta com 175 lavouristas, mas a produção é baixa por uma série de dificuldades enfrentadas por eles, a começar na etapa do plantio. “Nós temos um trator que foi dado pelo governo do Estado, mas como vou manter o maquinário se o cacique não recebe salário?”, contou.
Arruda ainda explicou que em setembro é necessário começar o plantio para poder colher no início do ano, mas por mais um empecilho, a safra está atrasada. “Já está passando a época de plantio e nós, até agora, não temos óleo [diesel]. Temos somente 250 litros que conseguimos através da prefeitura [de Miranda], só que até agora não consegui ir buscar”, contou. O pouco combustível é insuficiente para os 175 produtores da aldeia.
Além das dificuldades técnicas, o solo empobrecido pelo uso é outro fator que derruba a produtividade dos indígenas. “Muitos antepassados nossos já trabalharam nessas terras. Acho que era o caso de um técnico ver o tipo de solo porque uma pessoa planta um hectare, mas não aguenta. Antes da planta nascer, vem o mato”, explicou.
Para tentar poupar a terra, os indígenas interrompem a produção por um período. “Não é que a pessoa não está plantando, ela está descansando a terra para tentar replantar daqui alguns anos”, comentou Arruda.
Conforme o cacique, boa parte da produção é consumida pelos próprios índios já que não há um local onde eles possam estocar os alimentos. Outro fator também é a falta de transporte para chegar até o Ceasa (Central de Abastecimento) de Campo Grande, onde poderiam tentar vender sua produção. Em mercados próximos como de Miranda e Aquidauana, a burocracia vence na hora da negociação.
Se na lavoura, a situação não é tão favorável, na atividade da cerâmica as dificuldades são semelhantes. Os índios fazem o processo de misturar e assar a cerâmica, tudo de maneira artesanal. As peças, filtros de água, panelas, louças, são todas pintadas à mão. Apesar de belas, os trabalhos são frágeis e falta de um transporte adequado pode condenar as obras.
“É frágil igual a porcelana. Qualquer coisa, já quebra a peça”, explicou o artesão André de Arruda, de 53 anos. Ele e a família trabalham na criação das peças, sendo que a esposa e as duas filhas são responsáveis por moldar as obras.
É uma tradição familiar. O índio explicou que a esposa aprendeu com a mãe, que também recebeu de herança o conhecimento para produzir ar obras. Dependendo do tamanho da peça, a cerâmica pode levar até 15 dias para ficar pronta.
A dedicação ainda sim não é garantia de vendas. O artesão explicou que as obras demoram para ser vendidas. “Meses, até um ano pra sair”, contou. Para ele, o horário de funcionamento da casa, que fica fechada no fim de semana, não favorece a visitação dos turistas.
A demora, segundo o cacique, se deve ao fato de não há uma divulgação em cima do trabalho da comunidade. “Nós temos o nosso artesanato e não temos onde vender. Temos uma casa em Miranda que se diz indígena sendo que é um branco que trabalha lá. Já teve gente aqui da aldeia que reclamou comigo sobre a cerâmica ficar lá mais de um ano. Como isso é possível?”.
Mesmo com todas as dificuldades, um dos sonhos do cacique é construir um espaço para receber turistas dentro da comunidade. O local é onde fica as ruínas do antigo posto da Funai (Fundação Nacional do Índio), destruído após a queda de uma árvore. Para Arruda, o projeto permitiria que os viajantes conhecessem a cultura da aldeia e geraria empregos para os próprios índios.
Os terenas resistem
Dentro da comunidade, há um colégio que é fruto de uma parceria municipal e estadual. A escola Cacique Timóteo alfabetiza suas crianças em linguagem terena, chamada pelos moradores locais de língua materna. Uma das responsáveis por educar as novas gerações de índios é a professora de 59 anos, Maria de Lurdes Elias, que venceu as barreiras culturais e conquistou seu mestrado em educação, relatou o que o índio supera para se formar no ensino superior.
A professora, formada no campus da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) em Aquidauana, contou que os alunos que saem para tentar uma faculdade, precisam enfrentar a primeira barreira. “São muitas dificuldades, começando pela língua”, explicou. A maioria dos alunos falam a linguagem da própria etnia, tendo que se adaptar posteriormente à língua portuguesa.
A professora também pontuou outros empecilhos que ela também enfrentou quando cursou pedagogia. “A questão do alojamento, de não conseguirem emprego, ficam dependentes dos parentes. Muitos acabam voltando”, contou.
Após a conquista do seu mestrado, em 2010, hoje ela dá aula na aldeia para os futuro estudantes de ensino superior e já tem o próximo passo em mente. “Eu já planejo fazer um doutorado”, comentou.
Veja abaixo a explicação do cacique e da professora em linguagem terena:
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