Agressão ocorreu após vítima questionar a causa do ‘monitoramento’

​Um estudante de jornalismo e militante negro, que preferiu não se identificar, denuncia que foi agredido por seguranças de um supermercado localizado na Spipe Calarge, em Campo Grande. Segundo a versão dele, as agressões teriam sido motivadas em resposta a ele ter questionado sobre suposto “monitoramento explícito” dos seguranças.

Um boletim de ocorrência de lesão corporal e constrangimento foi registrado na Polícia Civil e um desabafo publicado nas redes sociais. Ao Jornal Midiamax, o jovem disse que ainda não acredita no que aconteceu.

A reportagem questionou a atitude dos seguranças e solicitou posicionamento da rede, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

Militante negro diz que foi 'seguido' e agredido por seguranças de mercado da Capital

Confira relato da vítima publicado no Facebook –  os envolvidos foram preservados:

“Era pra ser uma noite comum, como qualquer outra após a faculdade, eu e meu amigo seguíamos em direção ao supermercado. Nossa intenção era cozinhar um jantar (strogonoff).

Na ocasião estávamos acompanhados de outros dois amigos que presenciaram toda a constrangedora agressiva e lamentável situação – estou em choque – nó na garganta, trêmulo e com o psicológico “em outro planeta”. Isso tem que acabar!

Eu estava indo fazer uma compra tranquilamente, os seguranças prontamente se atentaram a nossa presença, em especial a minha. Nós somos cidadãos comuns, trabalho, estudo e vivo minha vida naturalmente como qualquer cidadão de bem, apenas um detalhe, sou negro, tenho cabelo blackpower, teoricamente “marginalizado” pela sociedade preconceituosa que vivemos.

NÃO! Eu NÃO preciso passar por situações como essa no supermercado, eu fui comprar a minha janta com dinheiro suado que eu ganhei com muito esforço e trabalho. A compra seguia naturalmente, depois de pesar a carne eu seguia para pegar molhos e milho, para complementar o delicioso strogonoff.

Meu amigo notou a presença insistente de um vigilante do mercado, com olhar desconfiado e com contato via fone de ouvido o segurança não hesitou em disfarçar o “incômodo ” com nossa presença (em especial minha presença).

No momento em que percebi a situação, entrei em choque, me exaltei e fui prontamente tirar satisfações para saber o real motivo da abordagem (eu entendi pelo olhar, entendi pela desconfiança, entendi que o racismo era mais forte que eu), não me segurei, em alto bom tom passei a externar aquilo que estava acontecendo em minha frente, comigo, um estudante que frequenta o lugar desde a inauguração.

Meu amigo em minha defesa partiu e prontamente me ajudou, apareceu um segundo segurança, passaram a nos tratar como os marginais que estavam “perturbando a ordem privada” frase usada pelo vigilante.

Ninguém está preparado para passar por essa situação, a gente nunca sabe reagir, ficamos em choque. Situação difícil, de repente a situação havia saído do controle, fomos agredidos e forçados a sair do mercado.

Eu nunca entendi o racismo, nunca entendi o real motivo de ter que sustentar a ideia de que simplesmente pelo meu “estilo” devo passar por essas deploráveis. Isso não vai ficar impune, como cidadão de bem, como comunicador social e jornalista, não vou deixar isso passar.

Tenho testemunhas que o único foco dos vigilantes era minha pessoa, eu estava distraído e não percebi o que meu amigo fingiu não ver e viu. Estou em choque, com medo e extremamente inseguro de ir nesse mercado, não fiz nada que justificasse a atitude, fui humilhado e exposto para quem quisesse ver, fui salvo pelos amigos, pelo meu grande amigo.

Cena de terror ver ele sendo agredido por me defender, deu aquele sentimento de não entender o real sentido da vida. Perdi meu chão. Resumo do ocorrido, fiquei sem meu strogonoff, com dores físicas e psicológicas, com medo e angustiado do que pode ocorrer se eu voltar no mercado de novo, é uma dor na alma (sic)”.