Festa e reivindicações marcam celebração do Dia do índio e centenário de Reserva

Reserva acumula muitos problemas.

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Reserva acumula muitos problemas.

Os mais de quinze mil índios das etnias Guarani, Terena e Kaiowá estão comemorando hoje o Dia do Índio e o Centenário de criação da Reserva Indígena de Dourados.

Com danças, rezas e atividades culturais e esportivas nas escolas e em várias regiões das aldeias Bororó e Jaguapiru que compõem a reserva, o Dia do Índio também está sendo marcado por uma série de reivindicações de obras e serviços para as comunidades.

O antropólogo Levi Marques Pereira afirmou que a Reserva Indígena de Dourados foi criada pelo então Serviço de Proteção aos Índios (SPI) em 1017 numa área de 3475 hectares “transformada em área de acomodação de famílias oriundas de dezenas de comunidades das etnias Guarani, Terena e Kaiowá”. Esta reserva segundo ele também agregou paraguaios e moradores da região.

“Dourados é terra de Índio”, diz o historiador Carlos Magno Mieres Amarilha coordenador do Núcleo de Estudos das Identidades Culturais Sul-mato-grossenses do Grupo Literário Arandu. Apesar de se comemorar o centenário de criação, segundo ele, dois anos antes o governador de Mato Grosso, Caetano Manuel de Faria Albuquerque através do decreto 401 de três de setembro de 1915 criou a “colônia de índios de Dourados”.

Amarilha afirmou que, num primeiro momento, a criação da Reserva Indígena foi para proteger os índios dos fazendeiros e dos produtores de erva-mate, uma vez que muitos casos de assassinatos eram registrados na época, pela posse da terra.

Durante a última semana todas as escolas municipais da Reserva Indígena realizaram atividades com os estudantes para comemorar o Dia do Índio, com apresentações de danças nativas, exposição de artesanato e concurso Miss e Mister Indígena.

Hoje haverá celebração na casa do patriarca Guilherme Felipe Valério, 89 anos, um dos indígenas mais idosos da Reserva de Dourados. Ele é da região do Pantanal e está radicado em Dourados desde 1961, por influência do extinto SPI, que remanejou indígenas de suas áreas para aldeias criadas em Mato Grosso do Sul entre os anos de 1915 a 1930.

As reivindicações foram feitas na noite de segunda-feira quando lideranças indígenas ocuparam a Tribuna Livre da Câmara Municipal. O terena Fernando de Souza reclamou pela falta de políticas públicas afirmativas para garantir melhoria as aldeias. Ele listou como problemas a existência de quatro mil crianças que não tem acesso à educação infantil.

O Guarani Silvano Duarte, do Conselho Indígena de Segurança disse que as questões relacionadas à falta de segurança e o alto consumo de drogas ilícitas também afetam a comunidade indígena e pediu ações emergenciais.

TODOS NUM SÓ LUGAR

O historiador Carlos Amarilha afirmou que “com a instituição do Decreto n.º 401 que garante uma reserva de terras para a colonização de índios no Patrimônio de Dourados, buscava reunir nesta colônia índios “dispersos”“. Segundo ele “as comunidades indígenas da região viviam “dispersas” ou “espalhadas” no olhar do colonizador, pois para os mesmos significava “empecilho”, “dificuldade”, para os fazendeiros em se afazendarem na região de Dourados”.

O decreto n.º 401, conf0rme Amarilha, é bem claro e objetivo em assegurar uma “reserva” territorial para os índios fixarem suas residências em uma localidade exclusiva. Isso significa que índios com presença fora da “reserva” era ilegal, clandestina, fora da lei. Com isso, por intermédio de leis os índios foram obrigados a morar em locais designados e criados para este fim, as “Reservas Indígenas”, que na época eram controladas pelo Estado brasileiro por meio do Serviço de Proteção ao Índio (SPI).

Para o historiador o decreto estadual n.º 401, de 03 de setembro de 1915, deixa evidente que a intenção de criar uma Colônia de Índios era para reunir índios da região de diferentes etnias em uma única localidade, para não mais incomodar os fazendeiros de gado da região e a empresa Companhia Mate Laranjeira e os agricultores independentes na extração da erva mate.

 

 

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