Mesa de debate repudiou a atitude dos deputados
Considerada como uma situação preocupante as últimas censuras realizadas nos espaços culturais aqui no Estado, no Rio Grande do Sul e em São Paulo que o deputado Pedro Kemp (PT), em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) propôs a audiência pública Arte! MS contra a Censura. O debate foi realizado nesta quinta-feira (5/10) e contou com a participação de autoridades do assunto e acadêmicos.
“É importante fazermos uma reflexão de tudo que estamos vivendo. O momento é de intolerância, de ódio e de autoridade. Nosso objetivo é resgatarmos a possibilidade de um debate diferenciado, respeitando as diferenças de pensamento e precisamos banir com os falsos moralistas”, declarou o propositor que também é presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Casa de Leis.
A mesa de debate repudiou a atitude dos deputados estaduais de Mato Grosso do Sul que censuraram as obras da artista mineira Alessandra Cunha, expostas, desde junho, e com exclusividade, no Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul (Marco).
O presidente do Instituto Cultural Gilberto Luiz Alves e conselheiro do Marco, Gilberto Luiz Alves esclareceu qual a bandeira defendida. “A censura no marco foi uma típica cena de ditadura, o acontecimento foi um abuso de autoridade, o julgamento partiu de parlamentares que não frequentam os museus. Nós defendemos o direito de expressão”, afirmou Alvez.
Ainda o vereador Eduardo Romero (Rede Sustentabilidade) considerou a atitude dos políticos como oportunista. “É um total desrespeito com o que é público, foi mobilizado para um fim eleitoreiro, os parlamentares agiram de forma equivocada”, disse. E o advogado Marcelo Barbosa Martins complementou. “Houve uma violência desnecessária com a censura da obra da Alessandra Cunha, uma ilegalidade”.
Já o vice-presidente do Sindicato dos Arquitetos de Mato Grosso do Sul, Ângelo Arruda apresentou uma reflexão da arte e dos acontecimentos. “É muito oportuno depois de tudo que estamos passando nos últimos anos pararmos e refletirmos o estado que a arte se encontra. A prisão de uma tela. Qual o significado para uma sociedade a prisão de uma tela? Foi um ato de arbitrariedade, a tela foi aprisionada em uma denuncia vazia e sem provas”, destacou.
“Está sendo generalizado e quem perde é a população que está sendo impedida de usufruir da arte com toda essa censura. Quando não podemos ter contato com a arte, há um empobrecimento da sociedade porque a arte é capaz de mexer com a realidade”, ressaltou o professor doutor do curso de Artes Visuais da UFMS, Paulo Duarte Paes.
Para a presidente do Fórum Estadual de Cultura, Fernanda Teixeira levantou dois elementos importantes para o debate. “Em primeiro lugar destaco o machismo, porque não é por acaso que o tema da exposição no Marco incomodou. E em segundo a censura que já vem acontecendo há alguns anos. De que forma? Pela falta de investimentos na cultura desde 2014, nas três esferas, municipal, estadual e federal o que dificulta para que a população tenha acesso a arte”, explicou Fernanda.
“Nós temos que ocupar o espaço público e reivindicar nossos direitos, porque a arte liberta. Eu não tenho dúvidas que tudo isso que vem acontecendo é um projeto de censura já planejado a muito tempo e que vem sendo executado com toda força”, alertou Fernando Cruz que representa a Rede Nacional do Teatro.
De acordo com o deputado Pedro Kemp será feito um documento que possa refletir tudo o que foi debatido na audiência pública e será encaminhado para o Governo do Estado, para o secretário de Estado Cultura e Cidadania, para e Ministério Público Estadual. “Eu estou muito satisfeito com o debate, foi uma tarde proveitosa onde falamos de forma qualificada sobre toda essa polêmica envolvendo a censura da arte. Na semana que vem irei usar a tribuna na Assembleia para relatar aos demais parlamentares tudo que foi levantado aqui”, considerou Kemp.
Também foi assinado pelos presentes no evento uma ação contra o delegado Fábio Sampaio, que apreendeu o quadro da artista Alessandra Cunha. Na ação é pedido a abertura de processo disciplinar contra o delegado.