Hospital está sem contratualização desde dezembro de 2016 e depende de aditivos

Foto - Divulgação Santa Casa“Lista destinada à inscripção das pessoas que contribuem, dando uma esmola, para a criação da Santa Casa de Misericórdia de , refúgio, em breve tempo, dos doentes pobres e desvalidos”.

A mensagem escrita em agosto de 1917 é seguida por 178 assinaturas de pessoas que deram início à criação do prédio que cem anos depois carrega o título e as responsabilidades do maior hospital de Mato Grosso do Sul.

Um século depois, a unidade que começou com esmolas ainda carece de doações e sofre dificuldades financeiras. 

Vice-presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), Heitor Freire, que há cerca de 25 anos faz parte do grupo de diretores da Santa Casa, afirma que as crises sempre acompanharam a história do desenvolvimento do hospital.

“Crises sempre existiram e ao lado a oportunidade. Imagine Campo Grande sem a Santa Casa? O que foi idealizado há cem anos, se traduziu nesse importante hospital que serve não só a Capital, mas todo o Mato Grosso do Sul”, observa. Foto - Aline Machado

A ideia que alcançou 178 doadores partiu de uma comissão formada por Eduardo Santos Pereira, Augusto Silva, Otaviano  Mello, Bernardo Franco Baís, Benjamin Corrêa da Costa, Enoch Vieira de Almeida e o capitão médico Eusébio Teixeira, os primeiros a contribuir.

Freire conta que a principal preocupação apontada pelos idealizadores era a inexistência de um hospital que pudesse atender os oito mil habitantes da região que ainda não tinha atingido a categoria de município, mas crescia por conta da estrada de ferro instalada três anos antes, em 1914. 

Os primeiros valores arrecadados totalizavam 27.080$000 (vinte e sete contos e oitenta mil réis), ainda insuficientes para construção do hospital. Um ano depois cria-se a SBCG (Sociedade Beneficente de Campo Grande), reconhecida como mantenedora e responsável por arrecadar doações junto à população e empresários locais.  

Três anos se passam e Bernardo Franco Baís, presidente da SBCG na época, compra a área onde o complexo começou a ser construído quatro anos depois, em 1924. Foram mais quatro anos de muito trabalho, que contaram com ajuda até mesmo de um carroceiro, José Mustafá, conhecido como Zé Bonito. Segundo relatos, ele contribuía carregando tijolos durante a construção da unidade e foi homenageado muito tempo depois, quando o auditório foi batizado com seu nome. 

Ao longo dos anos houve várias mudanças. A SBCG passou a se chamar ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande).  Mesmos sem solução para as pendências financeiras, o hospital continuou a crescer atendendo cada vez mais e gerando custos maiores. “Sempre houve uma defasagem porque a receita nunca foi suficiente para suprir a demanda'. 

Foto - Divulgação Santa Casa

Crises  –

Em janeiro de 2005, com aval do Ministério da Saúde, o então prefeito Nelson Trad Filho (PMDB) decretou intervenção na Santa Casa. A ABCG foi afastada e o Município passou a assumir o controle da instituição. Foram oitos anos de intervenção, até que a ABCG retomou à administração do hospital em 2013. “Fomos afastados, mas tudo continuou no  nosso CNPJ, as dívidas consolidadas que eram de R$ 37 milhões chegaram a R$ 150  milhões nas mãos do Município. Essa com certeza foi a pior crise que passamos”, frisa.

Quatro anos depois, as dificuldades financeiras continuam. O contrato entre a Prefeitura e o hospital foi encerrado em dezembro de 2016. Desde então, ao menos oito aditivos foram assinados para garantir os recursos oriundos da União, Estado e Município que totalizam R$ 20,3 milhões. Sem contrato o hospital enfrenta atrasos constantes nos repasses e as paralisações ou ameaças de interrupção dos serviços ocorrem quase que de mês em  mês

Foto - Cleber Gellio / arquivo Midiamax

No dia 1º de agosto cirurgias eletivas foram suspensas e um dia depois o hospital fechou as portas do Pronto Socorro para demandas espontâneas e passou a atender apenas pacientes encaminhados pela Central de Regulação da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública). Dias depois, funcionários de enfermagem e administrativos paralisaram atividades por falta de pagamento

Em crise, a possibilidade de uma nova intervenção voltou a ser ventilada e só foi descartada depois que um aditivo foi assinado garantindo  mais dois meses de repasses. “Tudo é objeto de negociação. Participamos de uma reunião com o município e em breve teremos novidades sobre a contratualização”, garante.Criada para atender mais pobres de MS, Santa Casa chega aos 100 anos em crise

Cem anos –

Nesta sexta-feira (14), funcionários e a direção da Santa Casa de Misericórdia de Campo Grande participam da solenidade realizada para celebrar os 100 anos da unidade.

O evento acontece no hospital e conta com a presença de autoridades do Estado e da Capital.