Aline desapareceu em janeiro de 2016 e corpo foi achado em novembro

Aline Farias da Silva morreu aos 22 anos, mas só descansou 1 ano e 6 meses depois. Os ossos que restaram de seu corpo decomposto em um cemitério clandestino no bairro Danúbio Azul foram enterrados pela família neste sábado (29), oito meses depois do calvário que se iniciou no dia 25 de novembro do ano passado, quando a Policia Civil encontrou a ossada de Aline, possivelmente uma das vítimas de Luiz Alves Martins Filho, o Nando, suspeito de matar 16 pessoas.

Matilde Farias da Silva, de 39 anos, é o retrato desse sofrimento. Mãe de Aline, ela encerrou hoje a batalha que começou no sumiço da filha, em janeiro de 2016 e se intensificou assim que o corpo foi encontrado. Da falta de reagente para exame de DNA no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) a cancelamento de enterro em cima da hora por falta de certidão de óbito. Burocracia que impediu que ela e as duas netas filhas de Aline, de 6 e 9 anos, pudessem, enfim, ver a jovem descansar.

Neste sábado, um grupo de 15 pessoas pôde encerrar o ciclo do sofrimento e fazer uma cerimônia rápida para enterrar Aline. Foi no Cemitério Santo Amaro, em uma vala comum sem nenhum tipo e identificação ou lápide, no final de uma estrada, que os parentes puderam se despedir do corpo da jovem.

Todos choraram. Matilde chorou. O choro dela parecia estar carregado de alívio. “Eu venci, batalhei muito e venci. O sentimento é de felicidade porque consegui enterrar a minha filha e de tristeza porque a perdi”, diz a mãe.

Vasos com flores de plástico foram a última homenagem que os parentes deram a Aline, que agora descansa. O ritual de ir ao cemitério visitar o túmulo da filha em datas especiais só deve acontecer se Matilde conseguir identificar a cova. “Não tem nome, não tem número, não tem nada. Vou lá [na administração do cemitério] saber como faço para saber onde minha filha está enterrada”.

Batalha

Aline, indicam as investigações, é uma das vítimas de Luiz Alves Martins Filho, o Nando, suspeito de ser o autor de uma série de crimes no bairro Danúbio Azul. Por anos jovens, adolescentes, a maioria mulheres, sumiam do bairro. A polícia descobriu o esquema digno de filmes de terror, em que as jovens com vícios em drogas, eram mortas, em ‘novelo' que envolve tráfico e exploração sexual.

Assim que a ossada de Aline foi encontrada pela Polícia Civil, em novembro passado, restos de roupas indicavam à família que aquele era o corpo da jovem. O exame de DNA demorou em razão de falta de reagente no Imol e consequentemente a liberação do corpo da filha para enterro se tornou tarefa quase que inalcançável.

No começo deste mês o Jornal Midiamax mostrou o drama de Matilde, que semanas depois conseguiu a liberação do corpo. Quando pensou que enterraria a filha, há uma semana, novo problema: havia expirado o prazo para que cartório emitisse certidão de óbito. Sem o documento, o sepultamento não pôde acontecer.

Corpo de vítima de Nando é enterrado após 1 ano e 6 meses; 'Eu venci', diz mãe

Justiça

O que a família quer a partir de agora é Justiça. Rogam para que o judiciário condene Nando, que está preso, mas solicita ao juiz que cumpra prisão domiciliar por problemas de saúde e mau tratamento que estaria sendo submetido no IPCG (Instituto Penal de ). O pedido ainda está sob análise da Justiça.

Outro desejo de Matilde é ser indenizada pelo Estado em razão da demora em conseguir a liberação e sepultamento do corpo da filha. Processo judicial, no entanto, é procedimento caro que a família não tem condições de bancar e acredita que pela Defensoria Pública não teria sucesso.