‘Aventureiros’ descobrem belezas do Ceroula, mas nem sempre lembram de preservar
Área de preservação não tem plano de manejo e, enquanto isso, lixo se acumula
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Área de preservação não tem plano de manejo e, enquanto isso, lixo se acumula
A beleza natural da região do córrego Ceroula, em Campo Grande, encanta aqueles que visitam o local, porém são poucos que o fazem conscientemente. Sacos plásticos, garrafas pet e até uma churrasqueira pendurada em uma árvore denunciam o descaso com o manancial, que faz parte de uma APA (Área de Proteção Ambiental) e tem potencial de abastecimento da cidade, além de ser o único córrego da cidade que está na bacia Pantaneira, pois deságua no Rio Aquidauana, que, por sua vez, vai para o Rio Paraguai. A situação vem piorando nos últimos tempos, desde que as cachoeiras do local viraram atração para quem gosta de passeios na natureza.
O poder público também não está fazendo sua parte. Embora tenha sido criada em 2001, ou seja, há 16 anos, a APA do Ceroula não tem plano de manejo. Ou seja, as atividades ali, inclusive as turísticas que começaram nos últimos tempos, ocorrem sem qualquer tipo de fiscalização ou disciplina do que pode ou não ser feito.
A área é visitada regularmente por Nilson Young, guia da empresa Sopa de Pedra, e grupos de aventureiros que desbravam trilhas e preocupam-se com o abandono do local. Uma das cachoeiras, a Ceuzinho, fica próxima às ruínas da primeira hidrelétrica construída em Mato Grosso do Sul. Mesmo as ruínas, que contariam histórias, estão sendo degradadas.
“Uma vez por mês fazemos a trilha da usina abandonada, que é uma caminhada na natureza. As cachoeiras foram protegidas por algum tempo, porém como o anel rodoviário passando próximo, facilitou muito o acesso. A gente sempre encontra muito lixo e despachos na Ceuzinho”, lamenta Nilson.
Outra testemunha da falta de consciência de alguns frequentadores do córrego Ceroula é o fotógrafo Giovani Neves, que acompanha as trilhas da Sopa de Pedra. “Vou para a área das cachoeiras desde que era adolescente, com o movimento escoteiro, acampávamos sempre lá e não tinha a sujeira que tem hoje. Era longe e desconhecido, não ia tanta gente, somente escoteiros desbravadores, que não jogam lixo”, relembra.
Segundo Nilson, são 4 cachoeiras com alturas distintas até chegar à usina. “A Energisa, que é proprietária da área da usina abandonada, tentou tomar algumas providências para conter a degradação. Cercaram novamente, colocaram placas mas não adianta, as pessoas não respeitam”, observa. O guia afirma que já entrou em contato com a concessionária sobre a utilização do local para as trilhas e, segundo ele, não houv e contrariedade à prática.
“Somos privilegiados, mas fico triste porque as pessoas poderiam aproveitar o espaço sem degradar. As pessoas deveriam ter consciência e preservar para todos poderem utilizar”, afirma Giovani.
APA
A Área de Proteção Ambiental dos Mananciais do Córrego Ceroula foi criada pelo Decreto Municipal 8.264, de 27 de julho de 2001. Em 26 de dezembro do mesmo ano, foi criado um conselho gestor para a área pelo Decreto Municipal 8.365. A última nomeação realizada para o Conselho Gestor da APA data de 14 de janeiro de 2016, pelo Decreto 111, que vale para o biênio 2016-2017.
Conforme o documento, as finalidades do conselho são:
• Recuperar, proteger e conservar os cursos d’água que compõem a bacia do córrego Ceroula;
• Proteger os ecossistemas locais, suas paisagens notáveis, o solo e demais atributos naturais que possam ser considerados relevantes;
• Resguardar e valorizar aspectos culturais e históricos associados às comunidades locais e à região; e,
• Promover programas, projetos e ações de gestão e manejo da área que contribuam com a sustentabilidade econômica e social de atividades e empreendimentos compatíveis com as finalidades citadas.
De acordo com a descrição encontrada no Decreto a APA mede aproximadamente 66.954 ha. Conforme trecho do decreto, o córrego Ceroula faz parte da “Bacia do Alto Paraguai – BAP e encontra-se inserida na sub-bacia do Rio Aquidauana, da qual faz parte a sub-bacia do córrego Ceroula”.
Sustentabilidade
Para o engenheiro e sanitarista ambiental Neif Salim, o manancial do Ceroula tem potencial para abastecimento de Campo Grande. “Embora a área não tenha um plano de manejo, é uma demanda para a nova gestão. A partir da execução e elaboração deste plano, será possível restringir e orientar os usos da microbacia”, destaca.
Apesar do possível uso como fonte de abastecimento para a capital, o engenheiro ambiental diz que o turismo pode ser benéfico. “A exploração turística sustentável e bem orientada pode ser favorável à conservação, pois pode promover a preservação ambiental. Desde que seja sustentável e atenda a preceitos do turismo sustentável, ou seja, que seja regulamentada e regularizada com licenças ambientais e guias habilitados, a exploração turística é positiva”, finaliza.
A reportagem do Jornal Midiamax consultou a Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo) em busca de informações sobre uma possível exploração turística do manancial. Em nota a Sectur informou que irá realizar levantamento sobre a área e inteirar-se das questões legais e de gestão da APA do córrego Ceroula e então serão feitos planejamentos para “adequações necessárias para atender os moradores de Campo Grande, bem como os turistas que passarem por aqui”.
A Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) informou estar ciente de que a área está sendo frequentada por turistas e pretende tomar decisões em conjunto com o Conselho Gestor da APA sem, no entanto, especificar quais ações serão desenvolvidas.
Procurada, a Energisa confirmou que o terreno localizado na APA do Córrego Ceroula é de propriedade da concessionária, sem especificar no entanto as dimensões da área dentro da APA. Conforme a nota enviada ao Jornal Midiamax “não existe autorização ou consentimento para exploração, travessia ou uso na área para acesso a demais localidades”.
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