Moradores relatam mais desaparecimentos no bairro 

Em quatro anos, pelo menos 13 moradores do bairro Danúbio Azul, periferia de Campo Grande, desapareceram. Pobres, usuários de drogas e prostitutas. Essas eram as vítimas do grupo de extermínio que teve origem no bairro, e que demoraram vários anos para serem notadas. Até agora, sete ossadas humanas foram localizadas.

O que restou dos corpos foi encontrado pela Polícia Civil, enterrados no Jardim Veraneio, mas até agora não há quem saiba responder o porque dessas pessoas nunca foram notadas. O motivo é unânime no bairro: “Cagueta roda”, e, por isso, ninguém quer se comprometer.

Aparecida Adriana da Costa era moradora do bairro Danúbio Azul e desaparecida desde o dia 2 de agosto de 2014 é uma delas. A mãe, Maria*, diz que lembra daquele dia como se fosse hoje, e a última frase que ouviu da filha não sai da cabeça. “Vou sair e não sei se volto”, e desde estão, a filha nunca mais apareceu em casa. “Lembro que deixei uma carne pra ela fazer, assar, mas ela não fez a janta. Depois disso nunca mais assei nada”.

Usuária de pasta base e crack, Malu, como era conhecida na vizinhança, chegou a comentar com a mãe e irmã sobre dívidas no bairro, um indício para a família de que o sumiço não foi à toa e acredita que pode estar relacionada com o grupo de extermínio do bairro. Quando desapareceu Aparecida tinha 33 anos.

Apesar do clima de tensão do bairro, onde ninguém quer conversar por medo de represálias dos donos do tráfico, a família contou que o motivo não é segredo. A dívida de drogas levou a filha para longe de casa, e as chances de ela seja uma das vitimas de Nando é grande.

À época, as informações eram de que a filha estava morando nas redondezas da antiga rodoviário, área que hoje é ocupada por usuários de drogas, mas segunda ela, não há nenhum vestígio da filha. “Acho que falavam que tinham visto ela pra me despistar, mas no fim sabem que ela não está mais aqui”.

O curioso é naturalidade. As histórias de desaparecimento estão na boca da maioria dos moradores, assim como o tráfico de drogas, como parte do cotidiano. Para se ter ideia da situação, o caso só foi descoberto pela polícia após a denúncia de adolescente. A lista divulgada pela polícia contém 13 nomes, mas o número pode ser maior, conforme moradores.

“A gente escutava que gente foi sumindo do bairro, mas os comentários era de que a pessoa estava bem, tinha se mudado. Uma das meninas mesmo, a notícia era de que ela estava grávida e morando em outro Estado”, comentou uma moradora, que preferiu não ter sua identidade revelada.

Os desaparecimentos começam em 2012, o mais recente é de setembro desde ano. Os motivos que teriam levado o grupo a cometer o crime também são bárbaros, como Bruno Santos da Silva, de 18 anos, que foi morto em 2013 porque tirava sarro de um sobrinho de Nando, o chefão do bairro.

Presos – As investigações tiveram início em setembro, mas a operação que apura os crimes de tráfico de drogas, exploração sexual de adolescentes, associação criminosa no Danúbio Azul, só teve início no dia 10 de novembro, com a prisão Luiz Alves Martins Filho, de 49 anos, conhecido como Nando, que confessou ter matado 12 pessoas.

O bando aliciava adolescentes e jovens dependentes químicos para vender droga e se prostituir. As vítimas desapareciam quando queriam deixar o grupo ou se desentendiam com algum integrante. Nando está envolvido com pelo menos 13 mortes, e cinco são de menores de idade, entre 13 e 17 anos. As vítimas foram mortas cruelmente, por estrangulamento, enforcamento e espancamento e seus  corpos foram enterrados de cabeça para baixo.

Ao todo foram expedidos pela Polícia Civil durante a operação “Danúbio Livre” 17 mandados de prisão, sendo três em flagrante. As investigações apontam como ‘cabeças’ da organização criminosa e que já estão presos Wagner Vieira Garcia, de 24 anos, Talita Regina de Souza, de 21 anos, que encomendou a morte de Lessandro, Michel Henrique Vilela Vieira, de 21 anos, que é o sobrinho de Nando, além de Jean Marlon Dias Domingos, 21 anos.

 

*O nome foi alterado para preservar a identidade da família.