Lona e jornais ajudam a diminuir sensação na Capital

O papelão vira cama, as roupas e os panos velhos o cobertor. Qualquer abrigo improvisado é local pra se esquentar. Fim de tarde fria, perto de 10 graus em , e sem dinheiro ou documentos a única preocupação é se aquecer. 

Os moradores de rua são os que mais sofrem na época do frio. Ângela Maria dos Santos tem 54 anos, e não sabe ao certo há quanto tempo vive nas ruas, mas sabe que “no frio tudo é pior. O jornal é o que ajuda a esquentar porque não tem coberta. A gente até ganha alguma coisinha, mas tudo é muito complicado”, diz. 

A moradora, que ‘cuida' carro com o marido nas proximidades da Igreja Perpétuo Socorro, se agasalha com o pouco que tem, três casacos, duas calças e uma luva. “Quando a única solução é viver na rua, a gente se vira”, diz ela.

Ângela e Paulo moram em um “barraquinho”, como dizem, em uma estrutura de caibros coberta com uma lona. Para a maioria está longe de ser uma casa, mas para o casal “dá pra viver bem”. 

“Pode cuidar aí freguês?”. Qualquer moedinha garante a comida. “A gente ganha um dinheiro e vai jantar. Se derem a comida, melhor ainda. Mas meu sonho mesmo é ter casa e uma televisão”, diz emocionada. 

A falta de cobertor, por vezes, é suprida pelo álcool. Guilherme Gonçalves Filho veio de Aquidauana há 20 anos, e a idade, não sabe, mas admite que sofre com o alcoolismo. “Não consigo tratar”. Gumersindo Gabriel de Souza Filho e Dorival Aparecido da Cunha também têm o mesmo problema. “Aqui não rola droga, só cachaça”, pontua.

Dorival Aparecido da Cunha, de 48 anos, disse que já serviu o Batalhão da Guarda da Presidencial em 1987. Ele não sabe ao certo quando, mas foi vencido pela bebida. “A gente faz o que dá pra ganhar um dinheiro, mas é difícil viver desse jeito”, reclama.  

Guilherme e Gumersindo trabalham com reciclagem, e o ganho? “Uma mixaria. É um sofrimento danado aqui. O pessoal que traz comida pra gente”, pontua. Um conhecido guarda o material reciclável e eles dizem que conseguem tirar 20 reais. Quando o frio aperta, eles se juntam para dividir o cobertor. O companheiro dos três, o Rabugento, um cachorro vira-lata, que também ajuda na hora de se esquentar.

Anjo da guarda

Na região da Igreja Perpétuo Socorro, Ângela e Paulo são conhecidos pela descontração. Ruth Vieira, de 81 anos, sempre ajuda “como pode” os dois. “Há muitos anos que estou aqui na igreja e conheço eles. Semana passada trouxe um cobertor de lã de carneiro pra eles se esquentarem. Estava bem frio”, diz ela. 

Paulo chama Dona Ruth de ‘maezinha'. “Ela sempre nos ajuda. É uma batalhadora, igual nós”, cita.