Passeata defende descriminalização e convoca debate sobre o tema

Com o fim de lutar pela descriminalização da maconha e de promover um debate sobre a questão, cerca de 100 pessoas reuniram-se na tarde deste sábado (21) para mais uma edição da Marcha da Maconha. O evento, que é realizado no mundo inteiro, aconteceu em Campo Grande na Orla Ferroviária, em frente à Morada dos Baís e luta para que o cultivo, porte e uso da maconha deixem de ser considerados crimes pela legislação.

Descriminalizar combate o narcotráfico, defendem membros da Marcha da MaconhaApesar de estigmatizado, o evento ganha cada vez mais aspectos políticos por também problematizar o sistema de ‘guerra ao tráfico’ desempenhado no Brasil e as consequências decorrentes da proibição, tais como violência e fomento do narcotráfico. Um dos organizadores locais do evento, o professor universitário Paulo Paes, 57, defende que a legalização contribuiria para reduzir os índices de criminalidade no país. “Hoje, no Brasil, cerca de 200 mil pessoas estão presas por causa da proibição da maconha”, lembra.

Ele vê a descriminalização como forma de combater o crime organizado e acabar com a marginalização de usuários. “Nós vamos tirar da criminalidade centenas de milhares de jovens. Cerca de quase R$ 1 bilhão está hoje na mão do crime organizado. Se o próprio Estado fornecer e liberar o plantio, como no Uruguai, você mata cerca de 20% da criminalidade. Grande parte dos meus alunos fuma maconha, e eles não são criminosos”, aponta.

O ator, diretor e professor Fernando Cruz, 52, lembra que a maconha também pode ser a solução para diversos problemas medicinais. “Aids, câncer, todas essas doenças podem ser combatidas com os elementos medicinais da erva. Tem toda uma série de questões ligadas à saúde. A qualidade da maconha também estaria fora desse uso abusivo de agrotóxicos, que é ligado ao narcotráfico. Tudo isso sem falar na utilidade dela para o meio ambiente”.

Mulheres pela descriminalização

Descriminalizar combate o narcotráfico, defendem membros da Marcha da Maconha

​Pensando em como a proibição da maconha atinge a questão feminina, algumas estudantes decidiram criar o ‘Bloco Boladonas – Mulheres Feministas Antiproibicionistas’, que debate a relação da proibição em cima do direito das mulheres decidirem sobre os seus corpos, na hora do aborto e sobre o uso da erva. Elas lembram que a descriminalização diz respeito à liberdade individual das mulheres, além de poder tirar diversas mulheres da criminalidade e marginalização.

Marina Duarte, 23, estudante de Direito e membro do coletivo, lembra dos índices de mortalidade ligados ao tráfico de drogas. “A importância de legalizar é que nós temos várias mortes ligadas ao proibicionismo”, aponta. “Em vez de investir em educação e saúde, estão investindo em algo que está matando”.

Debate mundial

O mundo inteiro tem sido discutido se a descriminalização ajudaria no combate ao narcotráfico e em avanços científicos para a área da saúde. No estado do Colorado, nos Estados Unidos, onde liberou-se o uso recreativo da maconha em 2014, houve um crescimento no número de postos de trabalho, além de redução da criminalidade.

Descriminalizar combate o narcotráfico, defendem membros da Marcha da MaconhaO Uruguai, que também legalizou o plantio, cultivo e uso recreativo da erva em 2014, registrou uma queda no índice de criminalidade entre jovens, chegando a zerar as mortes decorrentes do tráfico de drogas. A informação foi divulgada por autoridades locais na Comissão de Direitos Humanos no Senado uruguaio, meses após a descriminalização.

Este ano, uma reunião da ONU tratou, pela primeira vez, da importância de uma maior flexibilização das leis a respeito do uso da maconha ao redor do mundo. Autoridades de vários países defenderam que um ‘abrandamento’ nas legislações seria positivo.

No Brasil, apesar da proibição, A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou a prescrição médica e a importação, por pessoa física, de medicamentos e produtos com canabidiol e tetrahidrocannabinol (THC) em sua formulação, desde que exclusivamente para uso próprio e para tratamento de saúde.

(Com supervisão de Guilherme Cavalcante)