Poucos demonstraram ser contrários ao resultado

No início da tarde desta quarta-feira (31) a população brasileira começa a colher o clima e também o despertar de um ‘novo’ governo. Não mais interino, Michel Temer (PMDB), agora assume a chefia do executivo até 2018. No centro de Campo Grande – capital de um dos estados que mais se mostraram favoráveis à saída da presidenta -, as pessoas começaram a perceber o resultado. Na crônica do impeachment anunciado, aqueles que não comemoram, parecem não se importar. Poucos demonstraram ser contrários.

No Bar do Zé, ponto clássico de movimentações políticas, a TV, desligada, já é um sinal de que o resultado não era surpresa. Nos arredores do local, antigos frequentadores comemoravam. Gritando palavras ‘ofensivas’ à presidente, alguns faziam festa.

O músico Samuel Benites, 48 anos, afirma que ‘vai comprar uma caixa de fogos’. “Sim, comemoro e muito. Nem precisavam de tanto, 61 a 20, olha só. Fora Dilma! O Lula poderia ser o maior herói mas foi o maior vilão. Chega dessa ditadura do PT”.

Funcionário do bar, Amilson Matos, 33, foi a favor do resultado. Ainda assim, ele não acredita que afastar a presidente resolva os problemas. “Não resolve só tirar a Dilma, tem o Renan Calheiros, Eduardo Cunha. Mas passou da hora da Dilma e do PT largarem o governo. Em algumas coisas acertaram, mas erraram mais que acertaram. Infelizmente deixaram os partidos tomarem conta. Acredito que o novo governo vai tentar minimizar”, afirmou.

Já o artista plástico José Reinaldo, 57, não comemora. José não é a favor ou contra a presidente, conforme explicou. Ele apenas acha que, além de esperado, o resultado não altera a situação política.

“Fiquei sabendo agora que você me falou, mas já sabia. Esse impeachment foi perda de tempo. As pessoas vão pra rua pedir impeachment mas não vão pra questionar os benefícios dos políticos. É a mesma coisa do prefeito [prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal]. É um grupo de bandidos tirando a presidente.Ela está pagando sozinha por algo que todos fizeram. Lá todos são canalhas”.

“Esse governo não vai melhorar nada, porque é poder partidário. Enquanto existir coligação política vai ser assim”, conclui.

Muitas pessoas, a exemplo de Lázaro Bonifácio da Silva, 56, afirmam que o processo foi ‘político’ e afirmam que ela não cometeu ‘crime’. Ainda assim, concordam com a saída da presidenta.

“Até agora aqui no bar não teve reação, mas a minha particular é a melhor possível. Porque o legado desses anos do PT foi o pior possível. Tem três vezes mais desemprego do que eles dizem que tem. O PT fez uma coisa chamada ‘meio circulante’ com a economia. Essa crise é artificial”, afirma.

Para o “professor Lázaro”, como prefere ser chamado, o governo de Temer terá impacto positivo para a macro economia. “Porque o PT não tinha nenhuma credibilidade. A senhora Dilma estava fadada ao ostracismo. Foi um julgamento político, não teve nenhum crime, mas foi bom”, afirma.

‘A pior máfia é a política’

Na Praça Ary Coelho, o clima de apatia e descrença era maior. Mesmo quem comemorou não se mostrou surpreso com o resultado. Patrícia Rocha, 38 trabalha como divulgadora e afirma que não acompanhou o processo ‘por não ter tempo’. “Às vezes assistia ao jornal nacional”. “Você já esperava, não esperava?”, perguntou ela.

“Acho que é bom né. Mas, pra falar a verdade não dá pra saber porque aconteceu muito rápido. Acho que se fosse pra analisar mesmo ela não fez nada sozinha. Espero que melhore agora, tem que melhorar, porque o que eles queriam mesmo era tirar a Dilma, agora tem que mostrar a que veio”, declara.

A cozinheira Ivanir Alves de Oliveira, 54, também estava dividia entre a comemoração e a descrença. “Louvado seja Deus”, afirmou, quando soube do resultado. “Mas pensando bem, sai um e entra um pior que o outro”.

“Vocês viram a reportagem do bandido que está na cadeia? Ele disse que a pior máfia é a política. É sem solução esse país de hoje, só Deus mesmo. Mais nojo ainda é eles obrigarem a votar, se nem eles valem o voto da gente”, disse.

“Não espero nada desse governo”, afirmou a vendedora Maria Ines, 46. Contrária ao processo de impeachment, ela acha que, agora, vai ficar pior. “Acompanhei por alguns dias o impeachment. Não foi bom porque agora vai ficar pior. Vai trocar por outro e ficar pior. Eu acho que são todos iguais, os que estão lá. Não espero nada desse governo”.

Já a auxiliar administrativa Nathalia Peralta, 28, foi aos protestos pela saída da presidenta e acha que o resultado é ‘uma oportunidade que Deus está dando’. “Achei correto, acredito que é uma nova esperança. O povo foi pra rua e acredito que é uma nova oportunidade, até uma oportunidade que Deus está nos dando. Tenho esperança com esse governo”.

O estudante de arquitetura, 24, afirmou ‘não gostar de política’. Desacreditado, ele afirma que irá justificar o voto nas eleições de 2016 e de 2018.

“Eu acompanhei o processo e não acho que vai fazer muita diferença. Eu fui contra porque não vi motivos para tirarem ela. Quem entrou não vai resolver porque precisa de uma reforma política. Desse governo não espero nada. Estou completamente desacreditado”.