Caciques reúnem-se com nova gestão da Sesai mas divergências continuam
Lideranças do estado divergem quanto a gestão da pasta
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Lideranças do estado divergem quanto a gestão da pasta
A nova gestão do Dsei (Distrito sanitário especial indígena) de Mato Grosso do Sul, coordenada por Edemilson Canale, se reuniu na manhã desta quinta-feira (28) junto ao Fórum de Caciques Terenas, que levaram as demandas e necessidades de comunidades no interior do estado. Ainda assim, a exoneração de Lindomar Terena da coordenação do Dsei e a gestão da pasta encontram divergências entre as lideranças no estado.
Jânio Reginaldo, 53, é liderança na Terra Indígena (TI) Buriti, na região de Sidrolândia, 65 quilômetros de Campo Grande, e afirmou que a antiga gestão caminhava de uma forma ‘eleitoral’. A afirmação da liderança que faz parte do Fórum de Caciques Terenas, no entanto, é a mesma declarada por lideranças que defendem a volta de Lindomar ao cargo.
“O Fórum avalia a gestão dos órgãos, como a Funai [Fundação nacional do índio] e a Saúde indígena. Eles viram que a situação estava caminhando de uma forma… estava sendo usado de forma eleitoral”, declarou Jânio. Ele afirmou que a organização deve continuar acompanhando o desenvolvimento da nova gestão, e que a principal demanda nas comunidades são medicamentos, que estão em falta, e viaturas para o transporte das equipes.
Outros problemas como a falta de médicos, enfermeiros e a taxa de mortalidade infantil são apontadas pelas lideranças. Ana Batista Figueiredo Almeida, 42, vice-cacique da Aldeia Tereré, na região de Sidrolândia, afirma que essas são as principais preocupações. “Lindomar é um grande companheiro na luta pela questão da terra”, afirmou. Ana, ainda assim, criticou o Conselho Terena, outra organização política indígena do estado da qual Lindomar participa.
“Hoje o Conselho Terena não tem validade porque estão usando para conseguir algumas coisas em prol de poucas pessoas”, disse.
Edemilson é formado em Terapia Ocupacional, com pós-graduação em Saúde Indígena. O coordenador afirma que a exoneração de Lindomar ocorreu em um contexto de “pressão e desentendimento com a precarização do serviço”. “Temos muitos problemas. O mais urgente é restabelecer o atendimento dentro das aldeias e tratar da questão do crescimento da mortalidade infantil”. O coordenador afirmou que taxa é de 33 a cada 1000 crianças.
Questionado sobre a contaminação por agrotóxicos, problema decorrente em comunidades, aldeias e áreas “retomadas”, ele afirmou que há um setor que irá fazer análise da água. “As retomadas nosso papel é com o envio de equipes de saúde, nosso problema são as benfeitorias, não podemos construir poços, por exemplo, porque não são áreas demarcadas. Em algumas mandamos caminhões pipa”, explicou.
Para o coordenador, outro ponto se refere às atribuições da Dsei. “Estamos discutindo a Saúde e o que é de responsabilidade da Dsei. Muitas vezes agrega outras questões e não temos pernas suficientes para dar conta”, disse. Edemilson também afirmou não fazer parte do Fórum. “Sou um trabalhador, fui apontado por conhecerem a minha trajetória”. Ele também admitiu as divergências entre o Fórum de Caciques e o Conselho Terena.
Alberto França é liderança da Aldeia Buriti e participa do Conselho Terena. Para ele, a nova gestão faz parte de um grupo que já esteve na coordenação da Dsei, e afirmou que muitos caciques não aceitam o retorno. “Colocamos como pauta principal o retorno do Lindomar porque esta volta do Edemilson será um desastre na Saúde, esse grupo já esteve, encabeçado pelo Wanderlei Guenka, e os caciques não aceitam”, contou.
Ele também explicou que, na gestão de Lindomar, reuniões com Ministérios e com a Sesai (Secretaria de saúde indígena) buscavam suprir as demandas na Saúde indígena no estado, além de denunciar a falta de recursos.
“A gente estava indo em busca de recursos, de mostrar o que está acontecendo na Sesai, a questão do orçamento, que é um dos menores de Saúde indígena no país. A gente ia com uma agenda nos Ministérios, e fomos surpreendidos com a exoneração do Lindomar. Temos representação nos três Conselhos indígenas do estado, no Fórum dos professores indígena de Mato Grosso do Sul, que são quatro organizações reconhecidas dentro do estado e no país”, defendeu.
“O que nós queremos é que faça de fato os trabalhos acontecerem na base, o atendimento de uma forma correta”, complementou Alberto.
Para Lindomar, as reclamações da gestão “vinham sempre daqueles que viviam na farra de diárias e na nossa gestão não íamos admitir isso”. O Terena afirmou, ainda, que parte do grupo citado faz parte do Fórum de Caciques.
“São questões políticas, a gente estava fazendo um trabalho junto as organizações, parcerias com os municípios que tem populações indígenas, a responsabilidade da saúde não é apenas do Dsei, e sim das três esferas do Estado. A gente assumiu no dia 6 de abril, há 3 meses, quando assumimos solicitamos auditorias pra compreender como é que estávamos ‘pegando’ o órgão, ficou constatado a questão de precariedade, das frotas, então diante desse quadro, de 208 carros e 35 rodando, encaminhamos a proposta para Brasília. Conseguimos aprovar a solicitação e a gente acredita que em 30 ou 40 dias as comunidades estarão com as frotas novas, a nova gestão vai dar continuidade a isso.”, declarou.
Lindomar também acusou o Fórum de ser um grupo criado por políticos. “Eles estão dizendo isso, o que nós podemos apresentar é que com a nossa exoneração todas as organizações do estado manifestaram nota de repúdio. Então, esse grupo criado pela Mara Caseiro [deputada estadual, PSDB] e Paulo Correia [deputado estadual, PR], eles reproduzem a fala dos ruralistas, uma vez que esses caciques estão sempre acusando o Ministério Público Federal e nos acusando, é claramente a reprodução da fala dos ruralistas”, criticou.
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