Em meio a conflito agrário, parte dos indígenas de MS boicota Jogos Mundiais

Jogos começam semana que vem, em Palmas (TO)

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Jogos começam semana que vem, em Palmas (TO)

Está marcado para dia 20, em Palmas (TO), o início da primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas que, durante 13 dias, reunirá membros de etnias provenientes de 23 países. Diante de cenário de insegurança e morte em conflitos com produtores rurais em Mato Grosso do Sul, indígenas da etnia Guarani-Kaiowá se dividiram: enquanto uma delegação do Estado com índios Guarani-Kaiowá e Terena devem participar do evento, outra parte da comunidade divulgou moção de repúdio ao evento. 

O Conselho Aty Guasu, que representa indígenas Guarani-Kaiowá, divulgou a seguinte nota:

Começamos esta moção, agradecendo a solidariedade demonstrada pelos povos Krahô e Apinajé com a situação do povo Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Por conta do massacre que praticam abertamente contra nosso povo, eles abandonaram a ideia de participar no que estão chamando de “Jogos Mundiais Indígenas”. 

Em outro trecho, a nota diz: “enquanto nós, Guarani e Kaiowa, enfrentamos um verdadeiro genocídio, marcado por ataques paramilitares, assassinatos, espancamentos, estupros e perseguição de nossas lideranças, o governo brasileiro debocha de tudo isso buscando criar folclore para distorcer a realidade e camuflar a real situação dos povos originários”

O posicionamento dos indígenas representados pelo Aty Guasu se une ao de outras etnias brasileiras, que também decidiram boicotar os jogos, como os povos Krahô e Apinajé, do Tocantins, que também criticaram a competição. Em carta aberta, eles disseram que havia desrespeito da organização, com construção de instalações vulneráveis, e o uso indevido da imagem dos povos, “ocultando a verdadeira realidade e o sofrimento dos povos indígenas do Brasil”. “Os idealizadores também não consultaram e nem convidaram ao menos os povos anfitriões do estado do Tocantins para participar da organização”.

Além das competições dos chamados jogos nativos de integração – os esportes tradicionais comuns para a maioria dos povos nacionais –, os indígenas poderão apresentar as práticas particulares ao seu povo, sem caráter competitivo. Etnias estrangeiras que desejarem mostrar os jogos tradicionais praticados em seus países também poderão se inscrever.

Jogos Mundiais

Os jogos foram idealizados pelos irmãos Marcos e Carlos Terena, da etnia Terena, de Mato Grosso. Eles foram responsáveis pelas 12 edições dos Jogos Indígenas. A primeira foi realizada em 1996 e contou com apoio do Ministério do Esporte. O evento em Palmas já tem confirmada a participação de etnias de 10 países. 

A previsão é de 2.200 participantes. O Brasil estará representado por 24 etnias. Como foi estabelecido nas normas dos Jogos, cada nação tem direito a trazer uma delegação com 50 pessoas, mas esse número pode variar de acordo com as condições de cada país. A Guatemala, por exemplo, será representada por 25 integrantes da etnia Maya.

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