O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) vai propor alterações no projeto de sua autoria que equipara o aborto ao homicídio quando feito depois de 22 semanas de gestação. Ele defende agora que a mulher estuprada que optar por interromper a gravidez nesta fase da gestação não seja mais acusada de cometer crime, segundo a coluna da Mônica Bergamo desta quinta-feira (27).

Sóstenes afirma que a inspiração para a mudança veio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que divulgou um vídeo nesta semana dizendo que o aborto deveria ser punido sem que a mulher fosse criminalizada. “Eu vi o vídeo da primeira-dama e os argumentos que ela apresenta são importantes. As alterações que vou propor vão evitar desgastes desnecessários e assim podemos continuar valorizando a vida”, afirma o parlamentar.

O projeto apresentado por ele causou comoção porque, se aprovado, imporia às mulheres estupradas que interrompessem a gravidez uma pena, a de homicídio, que pode chegar a 20 anos de prisão —maior que a de seu violador. O estupro é punido com até dez anos de prisão.

Os protestos contra ele se intensificaram com a constatação de que a maioria das vítimas de estupro que engravidam no Brasil são meninas de até 14 anos — violadas em grande parte dentro de suas próprias casas, por seus próprios familiares.

Os médicos que participarem do procedimento — e que Michelle chama de “aborteiros” em seu vídeo — seguirão sendo punidos como se fossem homicidas, de acordo com a proposta.

Questionado se, na prática, a mudança não impediria a menina ou a mulher adulta de acessarem o SUS para um procedimento seguro de interrupção da gestação, Sóstenes afirmou que “a mulher não vai ser obrigada a levar a gestação adiante se não quiser”.

Segundo ele, depois de 22 semanas ela não poderá mais abortar, mas sim “vai dar à luz, e o bebê vai ser encaminhado para a UTI neonatal”. O médico seria obrigado a realizar um parto para que “a criança nasça com vida”. E, “se não quiser, a mãe a entrega para a adoção”, afirma o parlamentar.

“Ela vai dar à luz e a criança vai para a UTI neonatal. Não precisa matar o bebê”, segue o deputado, afirmando que as chances de sobrevivência nestes casos seriam razoáveis. Estudos já mostraram que nascidos com 22 semanas têm de 2% a 15% de chance de não morrer.