Snic: Vendas de cimento caem 5,1% em setembro; guerra em Israel deve elevar custos do setor
40% dos gastos para a produção de cimento são dedicados para a compra do coque, produto obtido a partir do petróleo
Fábio Oruê –
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As vendas de cimento em setembro no País totalizaram 5,2 milhões de toneladas, recuo de 5,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado de janeiro a setembro, a soma é de 46,8 milhões de toneladas, recuo de 2% ante igual período de 2022. Os dados foram divulgados hoje pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic).
De acordo com a entidade, a taxa básica de juros (Selic) em patamares elevados (12,75%) impacta diretamente no número de financiamentos imobiliários para construção, que registrou redução de 44% no acumulado até agosto de 2023, na comparação com o mesmo intervalo do ano anterior.
Ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna, alertou sobre sérios riscos que a guerra em Israel pode trazer para a indústria de cimento no Brasil, sobretudo em termos de elevação de custos. Segundo o executivo, 40% dos gastos para a produção de cimento são dedicados para a compra do coque, produto obtido a partir do petróleo. Neste sentido, se a guerra provocar uma apreciação do petróleo, haverá reflexo no custo deste material.
“Cerca de 90% do coque que compramos no Brasil vem de origem importada e o coque é subproduto do petróleo, então quando acompanhamos um aumento no preço do barril de petróleo, isso afeta diretamente nos custos e traz impacto para a indústria do cimento”, afirmou Penna.
O porta-voz do setor relembrou que durante a guerra da Ucrânia, o preço do coque chegou a subir 240%, apontando outros fatores como responsáveis pelo fenômeno, como a desorganização nas cadeias produtivas como um impacto indireto da guerra. Na avaliação de Penna, caso ocorra uma escalada do conflito, há enormes riscos de reflexos que poderão ser sentidos no setor.
Em relação ao mercado doméstico, Penna afirmou que a indústria de cimento deve finalizar 2023 com uma redução de 1%. Caso ocorra uma recuperação forte no final do ano, a projeção poderá ser de estabilidade, mas a possibilidade é considerada menos provável no momento. “Não escondo a frustração de que esse processo de recuperação que se esperava não aconteceu com essa queda de setembro, que foi muito significativa”.
Ainda segundo Penna, o consumo de cimento foi impactado por uma frustração com o desempenho do programa Minha Casa Minha Vida, além de outros fatores como as fortes chuvas registradas na região Sul do País e a seca na região Norte que prejudicou o transporte de cimento pelo modal hidroviário).
Na ponta positiva, ele destacou um cenário de recuperação de preços e do Produto Interno Bruto (PIB), além do controle da inflação na comparação com o mesmo período do ano passado. O executivo avaliou que o avanço de programas de renegociação de dívidas, como o Programa Desenrola Brasil, desempenham um papel fundamental para a retomada do consumo de cimento no mercado doméstico.
“Precisamos marchar com programas de desoneração em conjunto ao combate da inadimplência. O endividamento da população continua altíssimo. O fato de termos 71 milhões de brasileiros negativados impacta significativamente nos investimentos em obras”, disse Penna.
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