Professor de balé denuncia ataque homofóbico em ônibus

Convencido por amigos ele decidiu registrar ocorrência

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Convencido por amigos ele decidiu registrar ocorrência

Um professor de balé do Teatro Nacional foi agredido com dois tapas, em um ônibus, e gritou ofensas homofóbicas contra ele. Segundo Yuri Briedis, 28 anos, o ataque aconteceu na hora em que ele descia do veículo. O agressor o teria xingado, entre outras coisas, de “doente”. 

O ataque aconteceu por volta de 13h de segunda-feira (24) e, nesta terça (25), convencido por amigos, o professor e bailarino decidiu registrar ocorrência na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), no Departamento de Polícia Especializada (DPE) da Polícia Civil.

Ainda abalado, Yuri contou que percebeu que o homem o encarava próximo à porta, mas que não pensou que fosse apanhar. De acordo com o professor, o ato pareceu aleatório. “Não que tivesse algum problema, mas eu não estava sequer com as roupas do balé, que são justas. Eu estava de camisa e bermuda, as roupas que uso para dar aula em uma academia”, afirma. “Eu conversava por mensagens de voz com uma aluna sobre assuntos relacionados ao balé. Não falei de relacionamento ou nada assim. O que me faz pensar que ele agiu por conta do meu modo de falar ou pela minha postura”, completa.

“Eu ainda fiquei pensando se poderia ter evitado, descendo por outra porta. Mas eu não pensei nisso na hora. A porta abriu. Era a mais próxima, e eu desci. Ninguém pede para apanhar por descer nessa ou naquela saída.” A agressão aconteceu na linha 136.9, que faz o trajeto Plano Piloto-Varjão. A vítima entrou no coletivo em frente ao Brasília Shopping.
 
Hoje, para trabalhar, Yuri pegou um trajeto mais longo, para evitar novo constrangimento. “Foi um esforço. Eu não queria sair de casa”, revela. Segundo a vítima, quem estava no veículo ou na parada não esboçou reação. Diz, ainda, que pensou em não registrar ocorrência por medo de que “não desse em nada”. “A pedido de alguns alunos, postei a agressão no Facebook. A postagem teve muita repercussão. Cheguei a pensar em ir atrás de alguma câmera de segurança para conseguir a imagem do agressor. Eu conseguiria reconhecê-lo. Até porque era um homem alto e que tinha uma tatuagem na mão”, descreve.
 
Um dos argumentos que convenceram Yuri a denunciar o caso foi a possibilidade de contribuir para que agressões semelhantes não se repitam. “Não sei explicar por que, mas me sinto envergonhado, impotente e despreparado. Mas vergonha é o que eu mais sinto. Eu sou uma pessoa que tem instrução. Fico me perguntando o que acontece com o homossexual que é pobre ou analfabeto. O que acontece com ele? Apanha constantemente e fica quieto? Morre sem saber por quê?”, questiona.

Investigação

A delegada adjunta da Decrin, Elisabete Maria de Morais explica que o primeiro passo das investigações será procurar novas testemunhas. Ela pede a quem presenciou a agressão ou crimes semelhantes que denuncie pelo número 197, no Whatsapp da Polícia Civil (98626-1197), no site da corporação, ou pelo e-mail [email protected]
 
“A vítima registrou ocorrência. Como homofobia não é um crime tipificado, a possibilidade é que o agressor responda por injúria real. Vamos identificar novas testemunhas e o autor da violência. Vemos esse tipo de crime com muita preocupação”, afirma. “A impressão que temos é que a intolerância ocorre em todos os lugares do DF. É importante denunciar, pois as políticas públicas são feitas com base em estatísticas. Se ninguém souber que um tipo de crime acontece, não haverá políticas públicas naquele setor. A própria criminalização da homofobia depende, em partes, dessas denúncias”, alerta a delegada.

 

 

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