Novos depoimentos elevam mistério em torno da morte de jovem gay

Assassinato de Itaberli Lozano ganha três suspeitos além da mãe 

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Assassinato de Itaberli Lozano ganha três suspeitos além da mãe 

O assassinato do jovem Itaberli Lozano, de 17 anos, ocorrido há 19 dias em Cravinhos, no interior de São Paulo, estava prestes a ser esclarecido na semana passada. Havia uma suspeita confessa — a própria mãe do garoto, Tatiana Ferreira Lozano, de 32 anos – e a motivação – um relacionamento extremamente conturbado -, além da arma do crime (uma faca) e o corpo carbonizado em uma canavial. Todas as peças se encaixavam até que, na última quinta-feira, a mãe resolveu mudar o depoimento e envolver mais três personagens na história — uma adolescente de quinze anos e dois jovens, Victor Roberto da Silva, 19 anos, e Miller da Silva Barissa, 18 anos, presos na última sexta-feira.

Segundo o novo relato, ela chamou os dois rapazes para aplicar um “corretivo” em Itaberli, que a estaria ameaçando. A menor, que já havia pedido emprego a Tatiana, gerente de supermercado, em outra oportunidade e era namorada de Victor, teria intermediado o contato com a dupla. Na versão da mãe, os dois mataram o jovem sem o seu consentimento, enquanto ela estava do lado de fora da casa, ouvindo os gritos de socorro do filho.

À polícia o trio contou história diferente. Victor Roberto disse que Tatiana os convocou para assassinar Itaberli, inclusive oferecendo dinheiro pelo serviço. Ele teria recusado a oferta e concordado só em dar “um susto” na vítima. Por fim, confessou ter dado uma chave de braço no garoto, apertando o seu pescoço até ele desmaiar. Depois, teria fugido do local. Miller diz ter deixado o local antes do começo das agressões. A adolescente, por sua vez, diz ter permanecido na casa e presenciado o momento em que Tatiana deu três facadas no pescoço de Itaberli, conforme disse à polícia.

Os novos depoimentos embaralharam o quebra-cabeça, e a polícia agora busca saber quem, de fato, esfaqueou a vítima. Imagens de câmeras de segurança posicionadas em frente à casa mostram os dois garotos batendo em retirada, enquanto a mulher está do lado de fora. Depois, ela entra na residência e ninguém sabe o que aconteceu a partir de então – e nem antes.

O que se sabe é que a mãe enrolou o filho morto em um edredom, retirou o corpo pela garagem dos fundos e o colocou no carro do marido, o tratorista Alex Canteli Pereira, de 30 anos, que também está preso. O casal levou o cadáver até um canavial e o incendiou. Depois, jogaram o celular do garoto em um matagal – o aparelho não foi encontrado.

“Pretendemos fechar melhor o quadro esta semana com as provas circunstanciais. Não dá para saber ainda quem esfaqueou. Mas já é possível dizer que os quatro agiram em conluio para conseguir o objetivo final, que era matar o Itaberli”, disse o delegado Helton Testi Renz, que irá focar o trabalho para descobrir a motivação do crime e montar o perfil de cada um.

Motivação

O promotor Wanderley Baptista da Trindade Junior afirmou que o “principal motivo” do crime é homofobia. Como argumento, cita uma postagem feita por Itaberli dois dias antes de ser morto. Nela, o garoto diz que foi espancado pela mãe e posto para fora de casa porque era homossexual. “Tem uma testemunha, que estamos para ouvir, que disse que ela não aceitava a homossexualidade do filho”, afirmou o promotor.

Além de pedir a condenação dos quatro suspeitos — a mãe, o marido e os dois rapazes — por homicídio qualificado, Trindade afirmou que vai solicitar a internação da adolescente na Fundação Casa. Ela teria sido a primeira testemunha do caso depois que a avó dela foi à promotoria dizer que a neta havia visto um corpo ensanguentado dentro da casa de Tatiana. Por esta versão, a menina teria pedido para usar o banheiro e se deparou com Itaberli morto ao abrir a porta do quarto.

Com base nesse depoimento, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão na casa da mãe de Itaberli. Ao chegar ao local, encontrou o estofado do sofá-cama do filho cortado e manchas de sangue na espuma. Diante disso, a suspeita acabou confessando o crime — e um dia depois mudou a versão. O advogado de Tatiana deixou o caso na última sexta-feira.

Conteúdos relacionados