O primeiro-ministro Matteo Renzi falou em “relações baseadas na cortesia”

Em visita à Itália nesta sexta-feira (10), a presidente Dilma Rousseff ouviu do primeiro-ministro Matteo Renzi que o governo de Roma espera “soluções” em casos bilaterais “difíceis” na área de Justiça.

Sem citar diretamente os casos recentes de Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil condenado no mensalão e preso na Itália, ou de Cesare Battisti, italiano condenado por terrorismo que ganhou asilo no Brasil, Renzi falou em “relações baseadas na cortesia” e disse esperar soluções para “questões abertas”.

“Temos também algumas questões abertas, em particular no que diz respeito ao setor da Justiça. Penso, espero e creio que essa renovada relação possa nos ajudar no respeito das leis de cada país, inclusive na solução dos casos mais difíceis”, afirmou Renzi.

Cesare Battisti foi condenado à prisão perpétua pela Justiça italiana, por quatro homicídios cometidos na década de 1970, quando integrava um grupo de extrema esquerda. Ele conseguiu fugir da Itália e chegou ao Brasil em 2004. Foi preso três anos depois, mas o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou a extradição no último dia de seu governo, em 2010. Desde então, o italiano vive legalmente no país.

Já Pizzolato foi condenado a 12 anos e sete meses de prisão no “mensalão” por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Fugiu para a Itália em novembro de 2013, entrando no país com o passaporte de um irmão morto. Detido em fevereiro de 2014 no norte da Itália, ele teve a extradição autorizada em abril deste ano pelo governo italiano, mas entrou com recurso administrativo e ainda aguarda decisão, que deve sair em setembro.

Foco na economia 
Foi o primeiro encontro de Dilma Rousseff com Renzi desde a decisão sobre Pizzolato. O tema, espinhoso, foi o único que tirou o sorriso do rosto de Renzi. No restante da declaração conjunta, o primeiro-ministro mostrou-se animado e empolgado.

“Sabemos do amor profundo que liga o povo italiano ao povo brasileiro. Compartilhamos valores comuns, como alegria de viver, paixão e entusiasmo. Com a presidente Dilma, fizemos um longo exame de todas a nossas questões bilaterais e internacionais, seja nas relações Brasil-Itália, seja questões relativas ao mundo que nos circunda”, disse.

Já Dilma, que chegou a Roma nesta sexta-feira, trouxe junto o semblante fechado e preocupado que marcou a passagem pela Rússia para a cúpula dos Brics. A presidente preferiu abordar assuntos de economia, citou a Itália como “parceira essencial” e mencionou desejo de “empoderar a relação”.

“O que acertamos hoje é que nossas relações se darão no mais alto nível entre os ministros. Queremos empoderar a relação para garantir que ocorram modificações reais que elevem esta relação a um patamar mais elevado”, afirmou Dilma.

Antes da reunião com Renzi, Dilma teve encontros com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, e com o diretor-geral da FAO (braço da ONU para agricultura e alimentação), o brasileiro José Graziano.

A presidente disse ainda que o Brasil tentará aprender com a Itália estratégias para melhorar a situação de pequenas e médias empresas. “A Itália é conhecida pela sua alta capacidade na área de infraestrutura e na área das pequenas e médias empresas, que é muito importante para nós. Sem sombra de dúvida, se há um país no mundo que foi capaz de construir um tecido social complexo com suas pequenas e médias empresas, este país é a Itália. Esta parceria será excepcional para o Brasil.”

Em 2014, a Itália foi um dos dez parceiros comerciais do Brasil. De 2008 a 2014, o fluxo de comercio cresceu cerca de 10%, passando de US$ 9,38 bilhões para US$ 10,33 bilhões. De janeiro a maio de 2015, a corrente de comércio entre os dois países alcançou US$ 3,47 bilhões.