Prefeitura de Porto Alegre pede doações para receber haitianos

Capital espera receber estrangeiros somente na quinta-feira

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Capital espera receber estrangeiros somente na quinta-feira

Prevendo a chegada de mais de 400 haitianos e senegaleses nos próximos dias, a Prefeitura de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, pede doações para auxiliar no acolhimento dos imigrantes. Os materiais podem ser entregues a partir deste domingo (24) no Centro Humanístico Vida, localizado na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, 2132, no Bairro Sarandi, na Zona Norte da cidade. O mesmo local vai receber os imigrantes.

“Já preparamos o processo de recepção dos haitianos. Não é um lugar ideal, mas é adequado, com condições básicas necessárias, como banheiro e cozinha. Precisamos muito [de doações]”, afirma o titular da pasta, Luciano Marcantônio. Colchões, lençóis, cobertores, roupas e material de higiene são os itens mais requisitados.

A transferência de refugiados do Acre, principal porta de entrada brasileira de imigrantes, para outros estados, ganhou força na semana passada. Na terça (19), no entanto, o governo federal suspendeu o envio de haitianos para a cidade de São Paulo, que era até então o destino mais procurado. Com isso, estados da Região Sul viraram alternativa.

A Prefeitura de Porto Alegre reclama de não ter sido avisada previamente sobre o envio e, com isso, não ter tido tempo para preparar um planejamento. “Nunca vi tamanha irresponsabilidade. Quero dizer que não somos contra recebê-los, de forma alguma. Imigrantes, sejam alemães, japoneses, italianos, nós recebemos todos. O que está errado, e é um amadorismo, é essa relação do governo federal com o Acre. Não existe um processo, um acordo, sobre a transferência para outras cidades brasileiras”, critica.

As viagens são pagas com o dinheiro de um convênio firmado pelo governo do Acre com o Ministério da Justiça. No dia 12 de maio, o governo acreano publicou no Diário Oficial a contratação de ônibus para transportar os imigrantes em caráter de “emergência social” para Porto Alegre. O custo estimado para o serviço é de R$ 409.920,00. Ao todo, dez ônibus devem seguir viagem em direção ao Rio Grande do Sul.

O assunto será levado para discussão na quarta-feira (27) em Brasília, em um encontro solicitado pela Prefeitura de Porto Alegre com as autoridades acreanas, mediada pelo Ministério da Justiça. “Está muito mal elaborado. Vamos tentar qualificar o processo para todas as capitais do Brasil. Afinal, não é a primeira vez que isso acontece”, desabafa.

Em novembro de 2014, chegaram à rodoviária de Porto Alegre ônibus com cerca de 300 haitianos vindos do Acre. Na época também não houve aviso prévio por parte das autoridades acreanas. Apenas 20 ficaram na cidade, onde conseguiram emprego e moradia. Os demais, partiram para outros destinos.

 

Data da chegada ainda é incerta

Ainda assim, informações sobre a chegada dos refugiados ainda são desencontradas. Com o impasse, a Prefeitura de Porto Alegre solicitou, na quinta (21), que os primeiros ônibus saiam de Rio Branco com destino ao Rio Grande do Sul na segunda-feira (25). Por isso, a previsão é de que os estrangeiros desembarquem na rodoviária da capital gaúcha na madrugada de quinta-feira (28). A distância entre as duas cidades é de cerca de 4,1 mil quilômetros e a viagem dura cerca de quatro dias.

Entretanto, existe a possibilidade de alguns chegarem antes. Isso porque dois ônibus partiram do Acre na quinta (21) com destino a Santa Catarina. Segundo Marcantônio, não é descartada a hipótese de alguns haitianos e senegaleses comprarem passagens para seguir para Porto Alegre. O secretário esteve com uma equipe na rodoviária no começo da madrugada deste domingo (24) para monitorar a situação.

“Não sabemos quantos vão vir nessa leva. Fomos para prevenir, pois há muitos boatos. Não temos informações do governo do acre. Através de mensagem, perguntei ao secretário [de Direitos Humanos do Acre, Nilson Moura Leite Mourão], se será mantido o nosso acordo, mas não tive retorno”, observa. “Eu acho que ele vai cumprir [o acordo]. Mas mesmo assim, estamos atentos”, pondera.

Em contato com empresas de ônibus a rodoviária de Florianópolis, ficou sabido que a previsão de chegada na capital catarinense é 22h. Considerando que o trajeto até Porto Alegre leva cerca de sete horas, eventuais estrangeiros só devem desembarcar na capital gaúcha na manhã de segunda-feira (25).

 

Haitianos no Brasil

A imigração de haitianos que deixaram a terra natal com destino ao Brasil ganhou força em 2010, quando um forte terremoto deixou mais de 300 mil mortos e devastou parte do país. Eles vêm ao Brasil em busca de uma vida melhor e de poder ajudar familiares que ficaram para trás.

Para chegar até o Acre, eles saem, em sua maioria, da capital haitiana, Porto Príncipe, e vão de ônibus até Santo Domingo, capital da República Dominicana. Lá, compram uma passagem de avião e vão até o Panamá. Da cidade do Panamá, seguem de avião ou de ônibus para Quito, no Equador.

Por terra, vão até a cidade fronteiriça peruana de Tumbes e passam por Piura, Lima, Cusco e Puerto Maldonado até chegar a Iñapari, cidade que faz fronteira com Assis Brasil (AC), por onde passam até chegar a Brasiléia, também no Acre.

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