Petistas criticam ‘recalque’ e lamentam ausência de Lula
O protesto de hoje foi comandado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT)
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O protesto de hoje foi comandado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Recalque da direita”, e de uma “direita reacionária, coxinha” que não aceitou o resultado das eleições. Foi assim que um grupo de militantes de décadas de filiação ao Partido dos Trabalhadores (PT) definiu, nesta sexta-feira (13), a manifestação marcada para domingo em ao menos 50 cidades brasileiras pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Profissionais liberais e funcionários públicos, eles participaram do ato em defesa da Petrobras iniciado na Avenida Paulista, em frente ao escritório da estatal, e encerrado na Praça da República, no centro. E lamentaram a ausência do ícone do partido, da esquerda e que justamente nas ruas fez o partido crescer: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antecessor e padrinho político de Dilma.
O protesto de hoje foi comandado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), que arregimentou outras centrais sindicais, movimentos populares e sociais. Por volta das 16h30, o grupo se uniu a professores da rede estadual concentrados no vão do Masp – em assembleia, acabavam de deflagrar greve – e saíram rumo ao centro.
Para os militantes petistas ouvidos pelo Terra, ainda que a participação de Lula não estivesse prevista no ato pró-Petrobras, a ausência não passou batida.
“Ele faz uma falta imensa para trazer as pessoas para a rua, comandá-las, agitar isso aqui”, comentou o serralheiro José Laudemício, de 53 anos, filiado ao PT desde 1982. Para ele, o fato de a lista de denunciados da operação Lava Jato ter nomes do partido não é razão para a militância não ir às ruas defender o governo Dilma. “Pegaram o PT para boi de piranha. Tem muito mais gente do PP na lista (da Procuradoria Geral da República, apresentada sexta passada ao Supremo Tribunal Federal) do que do PT. Quem errou, que seja punido – mas pedir impeachment de presidente é coisa de golpista”, definiu.
Petista “desde que me entendo por gente”, ou desde a fundação do partido, no início da década de 1980, o técnico de ortopedia no Hospital das Clínicas Carlos Alberto Alexandre, 45 anos, criticou os atos marcados para o próximo domingo. “É puro recalque da direita. E de uma direita cheia de gente grande que certamente quer lucrar não só com a saída de Dilma do poder, como com a privatização da Petrobras”, afirmou. Vestido com a camiseta vermelha com logomarca do PT, a reportagem quis saber: é fácil andar em uma cidade como São Paulo com a vestimenta, no dia a dia? “É sempre muita piadinha sobre ladroagem, mas falta de segurança, por falta de segurança, passamos todos isso na rua com a bandidagem”, declarou.
Presente com dois assessores parlamentares de seu gabinete ao protesto, o deputado estadual Isac Reis, 62 anos, filiado ao PT há 32 anos, disse achar “legítimo” comparecer ao protesto com dois assessores de seu gabinete – Marlene França, 39 anos, e Marcel Mori, de 35. “Legítimo porque tivemos mais de 80% de inflação acumulada no governo FHC e não vi ninguém que pede agora o impeachment da Dilma ter se manifestado sobre isso. Derrubar governo eleito, sim, não é legítimo”, disse o parlamentar. “Aqui em São Paulo a corrupção anda solta e ninguém protesta?”, indagou.
Rumo já à Praça da República, na Rua da Consolação, manifestantes com microfone à mão ironizavam o PSDB com gritos de “Quem não pula é coxinha” e “Quem não pula é tucano”, enquanto, nos carros de som, críticas à “direita reacionária” e à “mídia golpista que quer derrubar a presidente” davam o tom aos pronunciamentos. “Senta a pua nessa direita”, diziam lideranças, antes de cada novo inscrito que tomava a palavra.
Advogada e membro do sindicato dos trabalhadores da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Fátima Satiko Abe, 52 anos, filiada ao PT desder 1985, disse ter ficado “envergonhada e revoltada” quando viu que nomes do partido figuravam na lista de denunciados da operação Lava Jato. “Mas o partido como um todo, muito menos a presidente Dilma, não devem ser responsabilizados pelo que uma minoria eventualmente tenha feito de errado. Não se pode generalizar: assim como há pessoas boas também em partidos como PSDB e DEM, há muita gente boa no nosso”, comentou.
Para a advogada, o acirramento de ânimos entre os pró e anti-governo, agora, vem desde a eleição. “Foi uma eleição de muito ódio, de muitos preconceitos estimulados – mas pela direita”. Se Lula fez falta ao ato? “Faz, sempre faz. Mas o Lula tem seus quase 70 anos (ele completa em outubro deste ano) e não é eterno – cabe à militância levar adiante o que aprendeu com ele”, definiu.
“Tomara que chova dia 15 sem parar”
Enquanto os militantes e sindicalistas desciam a Consolação, um idoso segurando um cartaz com uma mensagem de “Je suis Brezil” se tornou, por alguns minutos, o ponto de atração. Integrante do coletivo Território Livre, José de Freitas, de 88 anos, garantiu ter participado de “18 passeatas, desde 23 de junho de 2013”, quando o mote então era as tarifas do transporte coletivo. O que mudou na sociedade desde seu primeiro protesto? “Ah, piorou muito. Imagina que estão pedindo impeachment da presidente? Tomara que chova (no protesto de domingo) o dia todo.”
Números da PM e da CUT divergem
Pelos cálculos da CUT, ao menos 100 mil pessoas participaram da marcha de hoje – que teve também avisos de “ocupação do Congresso” caso medidas provisórias que afetam direitos trabalhistas não sejam revistas. Durante o ato, porém, as lideranças citavam 50 mil como número estimado de manifestantes. Os números da Polícia Militar foram mais modestos: 12 mil pessoas.
O ato foi pacífico e não teve dispersões nem mesmo durante duas tempestades, uma na Paulista, e outra já na Consolação. “Temos que protestar lá no Cantareira para o governador (Geraldo) Alckmin não cortar a água do povo”, ironizou um manifestante com colete da CUT e adesivo alusivo à falta de água em São Paulo.
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