Motorista de trio diz perder 4kg durante o Carnaval

Essa é a realidade diária de Genivaldo Bispo durante o Carnaval

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Essa é a realidade diária de Genivaldo Bispo durante o Carnaval

Já pensou em percorrer 2,5 quilômetros em 4h30, com velocidade máxima de 10km/h? Não, isso não é o trânsito de São Paulo em um dia caótico, com trânsito recorde. Essa é a realidade diária de Genivaldo Bispo durante o Carnaval.

 Motorista do trio elétrico do bloco “Eu Vou”, Genivaldo não passa além da primeira-marcha do caminhão, que pesa, em média, 57 toneladas. É incontável o número de vezes em que ele usa a embreagem do veículo. Ponto-morto, primeira. Ponto-morto, primeira. Ponto-morto, primeira…

 E ele faz isso com a maior paciência e prazer do mundo. Com seu olhar sereno, uma camiseta leve, shorts e chinelo, Genivaldo dirige o trio há 10 anos e adora!“Sou apaixonado pelo Carnaval, mas é bem melhor curtir daqui, não acha mais seguro?”, me pergunta ao me dar uma carona.

 Dentro da cabine não conseguimos conversar. O barulho do trio é ensurdecedor, mas a alegria é contagiante. Os bancos são super confortáveis e vibram com cada batida da música. O ar-condicionado ligado o tempo inteiro dá a sensação de alívio tão esperada quando se está andando sem parar pelas ruas de Salvador.  No volante, a mão tranquila do motorista se mexe no ritmo da música.

 Pode-se dizer que a cabine do caminhão é um camarote privado. De lá dá para ver a reação do público, os requebrados e rebolados dos baianos, os beijos acalorados, típicos de Carnaval.

 Mas Genivaldo não faz o percurso ali sozinho. Sempre há um motorista reserva pronto para assumir o comando do trio. O bloco não pode parar nem se o motorista precisar ir ao banheiro.  Para aguentar o tranco, Genivaldo faz uma alimentação leve, toma muita água e acaba perdendo até 4kg por Carnaval.

 E a maratona não acaba depois das 4h30 de circuito. Quando o bloco se dispersa e o artista vai embora, o motorista precisa estacionar o veículo e esperar o momento de retornar ao ponto zero da avenida. Às vezes, ele fica até o meio-dia envolvido nessa “operação”.

 De repente, Genivaldo  fecha os vidros do caminhão. Com o isolamento acústico, conseguimos conversar. Com um sorriso no rosto, ele aponta para a multidão e reafirma: “não é bem melhor estar aqui? Consigo me divertir, ver tudo o que está acontecendo e ainda estou longe de empurra-empurra e roubos”.

 Do interior da Bahia, Genivaldo arrasta blocos pelo Brasil todo, durante o ano inteiro. Com micaretas do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, o motorista chega a ficar mais de um mês fora de casa. Mas não se vê fazendo outra coisa: “gosto muito”.

 

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