Mais da metade das vítimas de armas de fogo em 2012 tinham entre 15 e 29 anos
O número é o pior da série histórica iniciada em 1980
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O número é o pior da série histórica iniciada em 1980
Uma em cada duas vítimas de armas de fogo no Brasil, em 2012, tinha idade entre 15 e 29 anos. De acordo com o Mapa da Violência 2015, das 42.416 pessoas que morreram no país em decorrência do disparo de algum tipo de arma de fogo, 24.882, ou seja, 58%, eram jovens. O estudo foi elaborado pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.
O número é o pior da série histórica iniciada em 1980 e corresponde a um crescimento aproximado de 10% em relação a 2011, quando 22.433 jovens foram vítimas de armas de fogo. Em 33 anos, o total de óbitos na faixa etária de 15 a 29 anos saltou de 4.415 (1980) para 24.882, um crescimento de 463,6%. No conjunto da população, o total de mortes por arma de fogo cresceu 387% no período, passando de 8.710 para 42.416. Entre 1980 e 2012, a taxa de crescimento populacional foi de aproximadamente 61%.
De acordo com o levantamento, que será divulgado amanhã (14), o crescimento do número de mortes por armas de fogo entre os jovens resulta da elevação dos casos de homicídio nessa faixa etária. Se na comparação entre 2011 (21.594) e 2012 (23.867) os homicídios cresceram cerca de 10% entre os jovens, do início da série histórica (1980) até 2012, o total de assassinatos de jovens por arma de fogo cresceu 655,5%.
Para o sociólogo e autor do levantamento, Julio Jacobo Waiselfisz, o crescimento expressivo do percentual de jovens mortos por armas de fogo ao longo dos anos no Brasil decorre do “abandono” de políticas públicas voltadas para essa parcela da população.
“Basicamente, há todo um processo de abandono de políticas públicas dirigidas à juventude. Por exemplo, a educação: nos últimos dez anos, o número de matrícula de jovens [nas escolas] praticamente permaneceu constante, não acompanhou o crescimento populacional. Tem muito jovem fora da escola, onde deveria estar”, disse Jacobo à Agência Brasil.
Procurado pela reportagem da Agência Brasil, o Conselho Nacional de Juventude – composto por representantes da sociedade civil e do governo – cuja missão é formular e propor diretrizes voltadas para as políticas públicas de juventude, não retornou os contatos. Instituído em 2005, em meio à criação da Política Nacional da Juventude, o Conjuve é composto por 60 membros, divididos em 20 representantes do Poder Público e 40 da sociedade civil. A representação do Poder Público contempla, além da Secretaria Nacional de Juventude, todos os ministérios que têm programas voltados para os jovens.
Segundo o Mapa da Violência, se for considerada a taxa de mortalidade de jovens por arma de fogo – índice que leva em consideração o crescimento populacional – 2012 também representa o pior resultado, com 47,6 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes. Antes, a taxa de mortalidade juvenil mais elevada havia sido registrada em 2003, quando o índice ficou em 46,5 para cada 100 mil.
No conjunto da população, a taxa de mortes por armas de fogo, que em 1980 era de 7,3 por 100 mil habitantes, passa para 21,9 em 2012, um crescimento de 198,8%. Entre os jovens, o crescimento foi bem maior. As taxas passaram de 12,8 óbitos por 100 mil jovens para 47,6 em 2012, um crescimento de 272,6%.
Segundo o estudo, no recorte por idade, há um pico de mortalidade por arma de fogo entre os jovens com 19 anos de idade – com taxa de mortalidade de 62,9 para cada grupo de 100 mil pessoas.
De acordo com Jacobo, a aprovação do Estatuto do Desarmamento, no final de 2003, conseguiu interromper a trajetória de crescimento da taxa de mortalidade por arma de fogo na população em geral e também entre os jovens nos anos de 2004 e 2005. No entanto, a partir de 2006, o número de mortes voltou a crescer.
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