Em sessão da CPI da Petrobras, a doleira criticou o Banco Central 

Condenada a 18 anos de prisão em um dos processos da Operação Lava Jato, a doleira Nelma Kodama disse, em depoimento na CPI da Petrobras, na manhã desta terça-feira (12), em Curitiba, que está negociando um acordo de colaboração com a Justiça para tentar reduzir a pena. Assim, Nelma se recusou a responder algumas das perguntas feitas pelos deputados na sessão de hoje com o argumento de que essas questões seriam esclarecidas caso homologado esse acordo.

Nelma foi condenada pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos do caso, a 18 anos de prisão e multa por liderar um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado de forma fraudulenta R$ 221 milhões em dois anos e enviado para o exterior outros de U$S 5,2 milhões por meio de 91 operações de câmbio irregulares.

 “Eu sou doleira, comprava e vendia moedas no mercado negro. E isso vai constar no termo de colaboração que estou firmando”, afirmou a doleira. Ela confessou evasão de divisas num esquema pessoal que movimentava US$ 300 mil, por dia, e relações financeiras com outros dois doleiros presos na Lava Jato (Alberto Youssef e Raul Srour).

A doleira culpou o sistema financeiro nacional pelos casos de corrupção envolvendo contratos de câmbio, citando que milhões de dólares eram enviados e recebidos do exterior, em contratos de importação sem que nenhuma mercadoria fosse entregue e nenhum órgão de fiscalização nunca flagrasse o crime e com os bancos e corretoras facilitando as operações, Nelma questionou: “Qual o maior doleiro: eu, o Banco Central ou as instituições financeiras? Enquanto não tirar o mal pela raiz, que está no sistema, isso não vai acabar”, declarou. “Tudo que o senhor está falando tem a participação do Banco Central, das instituições financeiras, e se as brechas para essa prática não forem encontradas, a corrupção não vai acabar. As instituições financeiras lucram muito com a corrupção”, acrescentou. “O problema é que o Brasil vive da corrupção. Agora que estourou a Lava Jato, que quebrou-se um dos elos da corrupção, o das empreiteiras, o Brasil vive uma crise econômica”, concluiu.

Amada Amante 
Intigada a explicar que relação tinha com Alberto Youssef, a doleira Nelma Kodama cantou trecho de uma música de Roberto Carlos, “Amada Amante”. Ela contou aos deputados que o conheceu no dia 20 de agosto de 2000. O deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) a questionou se ela era amante de Youssef. “Sob meu ponto de vista, eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo, né? Amante é esposa, amante é amiga”, disse. “Tem até uma música do Roberto Carlos: a amada amante, a amada amante. Não é verdade? Quer coisa mais bonita que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela.” Em seguida, a doleira cantarolou a canção.

Quando cantarolava, ela foi interrompida pelo deputado Hugo Motta (PMDB-PB). “Senhora Nelma, como presidente dessa CPI, nós não estamos aqui em um teatro. Peço que Vossa Senhoria se detenha a responder as perguntas, mantendo a ordem e o respeito ao Congresso Nacional, que neste momento está aqui fazendo uma apuração”, disse, fazendo cessar a cantoria.

Nelma também colocou dúvida sobre a delação premiada do doleiro Lucas Pace. “Lucas Pace fez uma delação parcial e mentirosa e atribuiu à Iara Galdino os crimes que quem cometeu foi ele”.