Estudantes do ensino noturno têm pior desempenho escolar, diz pesquisa
Disparidade entre idade e série e menor tempo de aula são alguns dos fatores que contribuem para esse cenário
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Disparidade entre idade e série e menor tempo de aula são alguns dos fatores que contribuem para esse cenário
Um terço dos 7,2 milhões de alunos de ensino médio matriculados na modalidade regular da rede pública estadual estuda à noite. Apesar de o número de matrículas cair cerca de 2% ao ano desde 2010, a quantidade de 2,3 milhões de inscritos nesse turno é muito expressiva, ainda mais quando o desempenho dessa parcela de estudantes é comparado ao das demais turmas. Pesquisa do Instituto Ayrton Senna, com o objetivo de entender melhor essa realidade, que avalia uma série de características dos períodos diurno e noturno, revela diferenças acentuadas.
As principais disparidades entre os períodos são: perfil do aluno, taxas de evasão e tempo de aula. À noite, os jovens são cerca de três anos mais velhos (o que configura alta distorção idade-série), com média de 18,8 anos no 1º ano do ensino médio. No 3º ano, 51% deles trabalham, mais que o dobro do percentual diurno, segundo dados de 2013 do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). As turmas têm uma hora a menos de aula, em decorrência dos limitados horários de funcionamento do transporte público, e a taxa de abandono é maior — 14,5% à noite, contra apenas 4,7% nos demais turnos somados, sendo que, no Distrito Federal, a evasão do noturno chega a 21%.
Entre as conclusões da pesquisa, verificou-se que os índices de rendimento apresentados pelos jovens do período noturno, em comparação aos do diurno, são baixos. A análise dos resultados da Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), aplicada em 2013 pelo Saeb, mostra que, apesar de, em geral, os alunos secundaristas no Brasil não terem atingido a pontuação mínima considerada adequada — de 300 pontos em matemática e 350 em português —, a média obtida pelos estudantes da noite foi 25 pontos menor do que a do diurno. No DF, a disparidade é maior: 35 pontos de diferença em matemática e 28 em português.
Para Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna responsável pela pesquisa, esses resultados expõem lacunas existentes no plano mais discutido nos debates eleitorais do ano passado: investir na implementação do ensino integral. Segundo ele, esse modelo não leva em conta o perfil diferenciado do aluno da noite. “Ver o ensino integral como a bola de prata da educação não resolve as coisas e, se o Brasil não tem uma política clara para o diurno, para o noturno é pior ainda”, destaca.
Já a diretora executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, considera que há oferta excessiva de turmas noturnas para suprir as altas demandas, que aumentam devido à escassez de vagas e à falta de verba para construir escolas. “Dezoito por cento dos jovens com idade de ensino médio ainda estão fora da escola, o que leva a uma corrida das secretarias estaduais para incluir esses potenciais alunos. O ensino médio noturno deveria ser direcionado apenas aos que realmente necessitam dele, que não é o que ocorre.”
No Centro de Ensino Médio Ave Branca (Cemab) de Taguatinga, por exemplo, as demandas na estrutura física são recorrentes. “No terceiro turno, são menos seguranças, a iluminação é precária e o horário contribui para o uso de drogas, apesar de termos minimizado esse problema aqui”, disse a diretora da unidade, Suzane Margarida.
“Para esse público que trabalha o dia todo, o terceiro turno precisa ser adaptado. Essa adaptação tem que ser feita, porém, na medida do possível: a gente não pode tirar do aluno do noturno o direito de ter o mesmo conteúdo do diurno. Até porque, na hora de prestar uma prova, ele compete com todos os outros”, observa o professor de sociologia Marcelo Resende.
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