Crítica política dá o tom do desfile do Pacotão em Brasília
As fantasias, inspiradas no contexto político do país, são uma tradição para o aposentado
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As fantasias, inspiradas no contexto político do país, são uma tradição para o aposentado
O último dia do carnaval em Brasília teve como destaque os foliões que usaram a criatividade para fazer a crítica social e política. Alguns brincaram com o problema da falta de água em São Paulo, outros sobre as denúncias envolvendo a Petrobras. De colete bege, binóculos e um rifle de fantasia na cintura, o aposentado Paulo Trindade, ao som do Pacotão, um dos blocos mais tradicionais da cidade, tentava, segundo ele, encontrar e “prender” políticos que traem a confiança do eleitor.
“Já prendi um monte [de corruptos] hoje e entreguei para as autoridades competentes”, brincou Trindade, apontando o binóculo para os foliões que acompanhavam o último dia do Pacotão, na contramão da Avenida W3, uma das principais via do centro de Brasília.
As fantasias, inspiradas no contexto político do país, são uma tradição para o aposentado. “Já saí [fantasiado] de programa sede zero, em que usava uma fantasia de uma garrafa de bebida alcoólica, em homenagem ao Programa Fome Zero, e também de lei molhada [uma referência à Lei Seca]”, disse.
Em outro ponto do bloco, que, segundo a Polícia Militar, concentrava mais de 7 mil pessoas, a enfermeira Edna Marcos, fantasiada de bailarina, lamentava os últimos momentos do carnaval na capital do país. “O carnaval vai deixar saudade”, ressaltou.
A chuva que ameaçou chegar a Brasília não desanimou os foliões do Pacotão, que este ano comemora 37 carnavais. O jornalista Armando Rollemberg, irmão do governador do Distrito Federal (DF), Rodrigo Rollemberg, participava do desfile sem se importar com a “homenagem” do bloco ao irmão. “Sou um dos fundadores do Pacotão e essa verve do bloco é muito natural. O importante é que Brasília saia deste momento ruim. É vida que segue”, disse.
Este ano, a música do Pacotão aborda a crise econômica do DF e a troca de comando no governo da capital do país. “Saiu o ‘Agnulo’ e entrou o ‘Enrolaoberque’”, diz o refrão, em referência ao ex-governador Agnelo Queiroz e ao sucessor Rollemberg.
O transportador de produtos inflamáveis Claudiano Martins, que chegou a Brasília no domingo (15), mostrou-se surpreso com a folia na capital do país. “Sou maranhense e imaginava que não tinha carnaval em Brasília. Saí hoje para dar uma volta e encontrei essa coisa maravilhosa”, disse em meio ao Pacotão.
O último dia do carnaval em Brasília não foi apenas para os adultos. Mais de 30 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar, puderam brincar, dançar e se divertir no bloco infantil Baratinha, que desfilou no Parque da Cidade. “Aqui é muito bom, tranquilo, ambiente muito família”, destacou a aposentada Noquimeria Alves da Silva, que levou duas filhas e uma netinha para a folia. “No carnaval vou mais para retiros, mas quando estou aqui gosto muito do carnaval de Brasília. É muito bonito e sem violência”, completou.
A microempresária Cleia Freitas aproveita a festa para ter uma renda extra. Ela comercializa e fornece a vendedores latas de espuma em spray, muito usada pelos foliões no carnaval deste ano, na capital federal. Nos dias de folia no Parque da Cidade, a comerciante disse que vendeu 40 caixas, cada uma com 12 latas. “Se pudesse estaria na praia, mas como não posso, o retorno é muito bom”, ressaltou.
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