Defesa Civil de Cubatão afirma que pessoas reclamaram de fuligem

Os trabalhos para combater o que atinge três tanques da empresa Ultracargo, na área industrial do bairro Alemoa, em Santos, no litoral de São Paulo, continuam neste sábado (4). De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, não há nenhuma previsão exata para que o fogo seja extinguido.

O incêndio começou por volta das 10h desta quinta-feira (2) e atingiu quatro tanques de combustíveis. A temperatura no local chegou a 800°C. Durante a manhã desta sexta-feira (3), um quinto tanque também foi atingido. No entanto, durante a noite, apenas três tanques continuavam em chamas. Os trabalhos do Corpo de Bombeiros continuaram por toda a madrugada deste sábado e não há previsão de quando a ocorrência deve terminar. Segundo os bombeiros, ninguém morreu no incêndio e pelo menos 15 pessoas que trabalhavam no local precisaram de atendimento médico. Todas já foram liberadas.

 Na noite desta sexta, alguns peixes mortos foram encontrados no canal do Porto de Santos. De acordo com a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), o fato já era esperado por conta da grande emissão de gazes e não representa grande dano ambiental.

De acordo com a Defesa Civil de Cubatão, as equipes de plantão estão monitorando o município para onde as chamas estão direcionadas. Nesta sexta-feira, duas pessoas acionaram as autoridades reclamando de fuligem na região do bairro Jardim Casqueiro. As unidades de atendimento de saúde emergencial da cidade não receberam nenhum caso relacionado a possíveis efeitos da fumaça do incêndio.

A Prefeitura de Santos enviou mensagens via SMS ou por voz para 466 mil celulares e telefones fixos cadastrados junto a administração municipal. Na mensagem, os moradores eram avisados que o incêndio no bairro Alemoa estava sob controle e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) monitora permanentemente a qualidade doar, além de avisar que o incidente não oferecia riscos à população.

O sub-comandante dos bombeiros do Estado de São Paulo, Rogério Bernardes Duarte, considerou que a operação realizada durante esta sexta-feira, de combate às chamas na Ultracargo, foi um sucesso. “Foram usados quatros jatos de água e espuma durante todo o dia. Um tanque foi totalmente derretido e o outro já não tem mais combustível. No momento, são três tanques com fogo”, afirma.

Já o Comandante da operação, Wagner Bertollini Junior, salientou que os tanques possuem um sistema para retirar o combustível, entretanto ele não funcionou. “Os sistemas foram danificados e os tanques não estão podendo ser esvaziados por baixo. Então eles estão em uma situação quase que surreal porque eles continuam cheios em volta de um tanque pegando fogo. Essa que é a nossa grande dificuldade”, diz.

O gerente da Cetesb explicou que os moradores das cidades da Baixada Santista não correm nenhum risco após a fumaça ter tomado o céu da região. “Há um impacto muito grande esteticamente, mas do ponto de vista de intoxicação ela não traz malefícios para a população. Fizemos uma medição ontem e está tudo dentro dos limites aceitáveis. Não há impacto significativo para a população”, afirma César Eduardo Padovani Valente.

O acesso de embarcações às áreas ao redor do incêndio na Ultracargo teve que ser limitado após o fogo se alastrar. “Os terminais de Santos próximos do incêndio estão fechados e o canal que dá acesso aos terminais de Cubatão também foi bloqueado por motivos de segurança, já que ele é estreito”, conclui o Capitão da Marinha Ricardo Gomes.

Resfriamento de tanques
Segundo os bombeiros, o foco dos trabalhos é no resfriamento dos tanques que ainda não foram atingidos. A temperatura média no foco principal do incêndio gira em torno dos 800ºC, o que causou o derretimento de um dos cinco tanques atingidos. Por causa do calor, os bombeiros ficam a uma distância de 100 metros do local das chamas para fazer a contenção do fogo. A água não é direcionada para as labaredas, já que o líquido evapora antes de atingir o chão por causa do calor.

A internauta Josilayne Carvalho registrou uma das explosões no local. Por volta das 18h10 de quinta-feira, uma nova explosão causou correria entre profissionais da imprensa e bombeiros, que precisaram se reposicionar.

Fumaça
Desde o início do incêndio, uma enorme coluna de fumaça preta pôde ser vista por moradores de várias cidades da Baixada Santista. Moradores contam que uma explosão começou o incêndio e outras foram ouvidas na sequência.

Após a primeira explosão, a Prefeitura de Santos informou que 15 pessoas foram atendidas ainda no local, todos homens com superaquecimento do corpo. Três pessoas foram levadas ao Pronto Socorro Central após terem sofrido ainda com crise nervosa e inalação de fumaça.

Na madrugada desta sexta-feira, o bombeiro Claudio Rodrigues Gonçalves, de 39 anos, foi atingido por uma fagulha e encaminhado para o Pronto Socorro da Santa Casa com lesão ocular, para avaliação oftalmológica, e também foi liberado.

A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) informa que a área atingida fica fora do Porto e que enviou a sua Brigada de Incêndio da Guarda Portuária para ajudar no combate ao incêndio.

Por causa do incêndio, a entrada do Porto de Santos, pela Via Anchieta, foi fechada.

De acordo com apuração da reportagem, 93 bombeiros trabalham no local, com apoio de 22 viaturas, sendo que oito delas foram enviadas da capital paulista.

O Corpo de Bombeiros afirma que equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), da Defesa Civil, da Sabesp e da Polícia Militar acompanham os trabalhos.

Seis navios que estavam atracados nos dois terminais próximos ao local do incêndio interroperam suas operações e foram retirados da região. Uma empresa, que fica a 2 km do local do incêndio, emitiu alerta para os funcionários deixarem a área devido ao risco de serem atingidos por destroços caso haja uma grande explosão.

A Ultracargo informou que a equipe da brigada de incêndio evacuou a área e acionou um plano de ajuda mútua assim que a primeira explosão foi registrada.

Testemunha
Um dos funcionários da Ultracargo ouvidos peloG1 conta que estava trabalhando no momento da primeira explosão.

“Eu estava em um dos tanques, no lote 1, quando escutei uma grande explosão. O fogo se alastrou muito rápido e só pensei em sair daqui”, diz Anderson Santos da Silva.

Ele trabalha próximo de onde o fogo começou e diz que todos os funcionários saíram do local às pressas. “Todos os funcionários foram liberados na hora, ficando apenas os homens do Corpo de Bombeiros próximo aos tanques”, afirmou.

A empresa
O local onde ocorre o incêndio abriga 175 tanques de capacidade de até 10 mil m³, cada um, em uma área de 183.871 m². A Ultracargo possui 58 tanques, com capacidade de até 6 milhões de litros, e armazena produtos como combustíveis, óleos, vegetais, etanol, corrosivos e químicos.

Em entrevista à GloboNews, o especialista em gerenciamento de riscos Gustavo Cunha Mello disse que os tanques que armazenam esses materiais explosivos são construídos com reforço nas laterais, por isso os recipientes não se desfazem quando ocorre a explosão e evitam que líquidos inflamáveis se espalhem.

Estradas
Devido ao incêndio, a Ecovias, concessionária que opera o Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), bloqueou o acesso ao Viaduto do Alemoa, no Km 64 da Anchieta. Os veículos pesados, que não são autorizados a circular no trecho urbano, deverão aguardar até a liberação da via.

Embora possam fazer o acesso pela Anchieta, os veículos de passeio também estão sendo orientados a chegar a Santos pela Rodovia dos Imigrantes.