A informação faz parte do inquérito que investiga Dirceu no âmbito da Operação Lava Jato

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu recebeu por meio de sua empresa de consultoria R$ 1,45 milhão de Milton Pascowitch, citado pelo ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco como operador de pagamento de propinas ao PT a serviço da empresa Engevix. Os pagamentos a Dirceu foram realizados em 2011 (R$ 300 mil) e em 2012 (R$ 1,1 milhão), através de uma empresa de Pascowitch, a Jamp Engenheiros Associados Ltda., sexta no ranking dos pagamentos feitos ao ex-ministro desde a sua saída do governo.

Segundo relatório sigiloso da Receita Federal, resultado da quebra de sigilo imposto a Dirceu, sua empresa, a JD Assessoria e Consultoria, recebeu pelo menos R$ 29,2 milhões por serviços prestados a 43 empresas, entre 2006 e 2013. A informação faz parte do inquérito que investiga Dirceu no âmbito da Operação Lava Jato, tornado público ontem pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba.

De acordo com o relatório da Receita Federal, seis empresas investigadas na Lava Jato pagaram, juntas, R$ 8,5 milhões a Dirceu: Construtora OAS (R$ 2,9 milhões), UTC Engenharia (R$ 2,3 milhões), Engevix (R$ 1,1 milhão), Camargo Corrêa (R$ 900 mil), Galvão Engenharia (R$ 750 mil) e Egesa Engenharia (R$ 480 mil).

Em depoimento em regime de delação premiada, Barusco disse manter relação muito próxima com Pascowitch e sua família, a ponto de um frequentar a casa do outro, no Rio e em São Paulo. Segundo Barusco, Pascowitch é o homem que operou o pagamento de propinas em sete contratos bilionários da Engevix com a Petrobras. De suas mãos o ex-gerente diz ter recebido R$ 100 mil em dinheiro e outros US$ 510 mil em contas que mantinha na Suíça.

Nesta terça-feira, o ex-vice-presidente da Engevix, Gerson Almada, confirmou à Justiça Federal a relação da construtora com Milton Pascowitch, citado por ele como “lobista” que recebia comissões que variavam de 0,5% a 1% dos valores de contratos obtidos junto à Petrobras, “para facilitar o contato com diretores da estatal”. Preso desde novembro passado, o dirigente pediu para prestar depoimento, porque afirmava ter contribuições à investigação.

— Não sei o que o Pascowitch fazia com o dinheiro. O que sei é que se não pagássemos poderíamos não pegar novas concorrências. Ele tinha um bom relacionamento com o PT. Ele era o link que eu tinha com o PT e com a Petrobras — admitiu Almada.

O ex-vice-presidente da Engevix afirmou ter sido apresentado a Duque e a Barusco por Pascowitch e seu irmão, José Adolfo Pascowitch.

— Eles nos apresentavam soluções para nossos problemas de relacionamento dentro da Petrobras. Jantamos várias vezes, mas não falávamos de propinas — alegou o dirigente, para quem o pagamento a Pascowitch “era normal”, pois seu pai também era vendedor de papel e ganhava por intermediações de negócios que fazia.

— Eu não tinha noção que o dinheiro era usado para pagar propina, como agora sabemos pela investigação que a Justiça do Paraná está fazendo — completou o empresário, em outro momento do depoimento.

ENGEVIX CONTRATOU EMPRESA DE DIRCEU

A Engevix também contratou diretamente os serviços da JD Assessoria e Consultoria, por meio de quatro pagamentos anuais. O primeiro ocorreu em 2008 (R$ 100 mil), 2009 (R$ 260 mil), 2010 (R$ 650 mil) e 2011 (R$ 100 mil).

Segundo Almada, foi Pascowitch quem intermediou a relação com Dirceu, pouco tempo depois dele deixar o governo federal, acusado de participação no esquema do mensalão.

— Após a saída do ministro (do governo), tivemos uma primeira reunião em que ele colocou-se à disposição de fazer um trabalho no exterior. Basicamente voltado a vendas da Engevix em toda a América Latina, Cuba e África, onde ele tinha um capital humano de relacionamento muito forte — afirmou Almada.

Depois do primeiro contato, aconteceram mais duas reuniões na sede da JD Consultoria, onde ficou acertado que o ex-ministro iria atuar em Cuba e no Peru. De acordo com o dirigente, Dirceu era um “brilhante open door” (bom abridor de portas), mas não tão bom para fechar contratos, e recebia pagamentos por prospecção de clientes e depois que as obras eram conquistadas. No despacho em que tornou públicas as informações relacionadas a José Dirceu, o juiz Sérgio Moro diz que a “licitude de pagamentos está em apuração, e que qualquer conclusão é prematura”.

A empresa que mais pagou pelo trabalho de Dirceu foi a empresa farmacêutica EMS S.A. (R$ 7,8 milhões), seguida das duas empreiteiras da Lava Jato investigadas. Em quarto e quinto lugar estão as empresas Monte Cristalina Ltda. (R$ 1,59 milhão) e a fabricante de bebidas Ambev (R$ 1,5 milhão). Em sétimo lugar está a Consilux (R$ 1,22 milhão).

Também nesta terça-feira, Almada disse que José Dirceu atuava como lobista em negócios no exterior. A afirmação foi feita quando o executivo foi perguntado sobre um contrato da Engevix com a JD Consultoria, da qual Dirceu é sócio.