Mãe conta ter ficado surpresa ao notar que a filha teria recebido 92 solicitações de amizades

Uma mãe decidiu bloquear o perfil do Facebook da filha de 10 anos após acreditar que ela estava sendo assediada por um homem bem mais velho. O depoimento da carioca Eliane Soares postado na rede social reacendeu a discussão sobre a liberação ou não do uso da plataforma por crianças.

No desabafo, Eliane ressalta que sempre foi contra o acesso de crianças às redes sociais, mas que acabou cedendo à pressão da própria filha e da sociedade. “Sempre achei que não deveria ter Facebook, mas a maioria dos amiguinhos da C. tem, e sempre ouvi de muitas pessoas que eu era radical por não deixá-la ter… Enfim, acabei cedendo.”

A carioca conta ter ficado surpresa ao notar que a filha teria recebido 92 solicitações de amizades. “A maioria com fotos de adulto no perfil e sem nenhum amigo em comum! Me pergunto: o que uma criança de 10 anos tem de tão interessante pra um adulto desconhecido? Embora, infelizmente, eu já saiba a resposta”, disse a mãe, que relatou ter ficada ainda mais chocada com a abordagem de um homem em especial.

O desconhecido –que chama a garota de “gatinha linda”– pede para que ela o adicione e diz ter ficado “muito feliz em ser seu amigo”. O homem também faz uma série de perguntas pessoais à garota.  “Que bom que conversamos muito com ela e a orientamos, mas mesmo assim ela poderia ter caído na conversa”, afirmou a mãe, que se passou pela filha para tentar enquadrá-lo. Ele, no entanto, a bloqueou.

“As ruas estão cheias de criminosos ou gente com doenças que podem levá-las a cometer crimes. Por isso, ninguém em sã consciência deixa o filho pequeno sair por aí sem supervisão, certo? Deveria ser assim também nas redes sociais”, relata Eliane, que concluiu seu desabafo: “Tudo no seu tempo.”

Embora não exista a idade certa ou errada para a liberação das crianças às redes sociais, há alguns cuidados que os pais precisam tomar na exposição dos filhos a esse ambiente virtual. Veja abaixo de seis dicas:

1.   Proibir não é a saída 

Como aponta Diana Laloni, professora da faculdade de psicologia da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), o risco da conexão está muito mais ligado à falta de educação e de treinamento das crianças. “Proibir não é saída, até porque com a disseminação da internet é facilmente possível que seu filho encontre maneiras de se conectar mesmo sem sua permissão. E é muito pior que ele faça isso sem a devida supervisão”, aconselha.

2. Ensine a criança a se comportar na rede 

Mesmo antes de os pais liberarem o acesso às redes sociais, é preciso que ensinem os filhos a se comportar no mundo digital, segundo Juliana Cunha, coordenadora do canal de ajuda da Safer Net – brasileira que promove e defende os na internet.

“Os pais precisam identificar se os filhos são ou não capazes de perceber os riscos do mundo digital, que são similares aos do mundo real”, conta. “Essa capacidade, no entanto, não vai aparecer sozinha. É preciso ensiná-lo como se comportar na rede, assim como se ensina a atravessar uma rua”, acrescenta.

Segundo Juliana, a educação digital tem sido tão importante como as regras de convivência no mundo real. “Assim como é importante continuar recomendando aos filhos a não falar com estranhos e a não aceitar doces de estranhos, é primordial falar que ele não pode se expor na internet.”

3. Imponha regras 

“Regras e rotina fazem parte da educação. É importante estabelecer horário de brincar, de estudar e de comer, assim como se faz necessário determinar o horário do acesso à rede”, explica Diana, que não recomenda que esse tempo seja próximo ao horário de dormir. “Esse período precisa ser dedicado a atividades que acalmem a criança. A luz do computador é excitante e tende a prejudicar o sono.”

4. Monitore os acessos 

É importante, de acordo com Juliana, que os pais monitorem constantemente o acesso dos filhos. “Cada um estabelece sua própria estratégia. Alguns liberam o seu próprio perfil para que o filho tenha acesso aos jogos de interesse. Outros ficam ao lado da criança enquanto ela navega pela rede”, afirma a coordenadora da Safer Net, que diz não ser recomendado bisbilhotar escondido o perfil do filho. “Se ele descobrir, isso pode significar quebra de confiança. Qualquer controle deve ser estabelecido em um acordo. O melhor caminho é estabelecer regras como só adicionar pessoas conhecidas”, completa.

Ela orienta que os pais fiquem atentos ao tipo de informações pessoais que as crianças estão divulgando e quais as fotos que estão postando. “Lembre-se que algumas imagens –apesar de parecerem inofensivas– fora do contexto podem ter uma conotação não muito adequada”, diz. Também não é recomendado o uso da ferramenta de geolocalização. “Alerte seus filhos sobre os riscos, não diga apenas o que fazer ou deixar de fazer.”

5. Mantenha sempre o diálogo 

Um bom caminho para o monitoramento do acesso dos filhos é o diálogo, diz Diana: “Assim como você deve perguntar diariamente o que ele fez na escola, com quem brincou e como foi o dia, deve perguntar sobre suas interações nas redes sociais: com quem ele tem conversado, que jogo tem usado”. Segundo a professora da PUC-Campinas, com esse tipo de conversa, será possível obter informações sobre possíveis irregularidades no uso da rede.

6. Atente-se a possíveis mudanças de comportamento do seu filho 

Os pais, de acordo com Juliana, também precisam ficar atentos a qualquer mudança abrupta de comportamento dos filhos. “Esse pode ser um sinal do ciberbullying”, afirma.