A atriz americana Angelina Jolie, enviada especial da Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), visitou um campo de refugiados em Burkina Faso que abriga milhares de malineses que fugiram da violência jihadista.

Angelina chegou de helicóptero ao campo de Goudebou, acompanhada pelo chanceler de Burkina Faso, Alpha Barry, para lembrar o Dia Mundial do Refugiado.

“Celebro esse dia todos os anos há 20 anos com refugiados em diferentes países e nunca me preocupei tanto com a situação dos deslocamentos no mundo quanto hoje”, declarou a atriz após visitar o acampamento, localizado a uma centena de quilômetros da fronteira com o Mali.

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“Sinto-me honrada por estar em Burkina Faso e pela graça extraordinária das pessoas que conheci aqui.
Estou aqui para mostrar minha solidariedade ao povo de Burkinabe, que continua a acolher seus irmãos e irmãs deslocados, apesar dos terríveis ataques e desafios. Eles compartilham o pouco que tem, numa época em que outros países com muito mais recursos fecharam suas fronteiras e suas mentes aos refugiados.
Obrigada por me permitir estar aqui. Sinto-me muito honrada e grata por estar entre vocês e por me inclinar em respeito por sua coragem e força.
Hoje é o Dia Mundial do Refugiado.
Tenho passado este dia todos os anos durante vinte anos com refugiados em diferentes países.
Nunca estive tão preocupada com o estado de deslocamento global como estou hoje.
Não apenas existem agora mais de 82 milhões de pessoas deslocadas à força em todo o mundo, mas os números dobraram em uma década.
Uma em 95 pessoas – um por cento da humanidade está deslocada, e o número está aumentando.
Temos que ficar atentos ao caminho em que estamos globalmente,com tantos conflitos em curso e a possibilidade muito real de que as mudanças climáticas forcem dezenas, senão centenas de milhões de pessoas, a ter que deixar suas casas no futuro, sem possibilidade de retorno.
Não é que estejamos em um ponto de ruptura – já está quebrado.
A maneira como nós, como comunidade internacional, tentamos lidar com conflitos e insegurança não funciona.
É errático, é desigual, é construído sobre privilégios herdados, está sujeito aos caprichos dos líderes políticos e é voltado para os interesses de países poderosos, incluindo o meu, às custas de outros.
Crimes cometidos contra mulheres e crianças de Burkina Faso, ou Iêmen, ou Mianmar, ou Etiópia, por exemplo, não são suficientes para abalar a ordem mundial estabelecida em seus alicerces como deveriam – e como seriam, se estivessem acontecendo em outras partes do mundo.
Tenho visto as condições impostas aos refugiados em todo o mundo – a fome, o sofrimento, a insegurança e a falta de ajuda – porque escolhemos em quais conflitos prestar atenção e por quanto tempo; porque os governos fecham os olhos aos abusos quando é conveniente; e porque nós, como cidadãos, nos sentimos impotentes para mudar isso.
Existem alguns líderes que querem que acreditemos que não podemos cuidar de nosso próprio povo e ajudar os deslocados; que sugerem que, embora a vasta maioria de todos os refugiados esteja em países do hemisfério sul, nós, nos países ricos, de alguma forma fomos solicitados a fazer muito e justificamos isso fazendo menos. Ou que milhões de pessoas sendo forçadas a fugir de suas casas pela guerra, insegurança alimentar e desastres climáticos não têm nada a ver conosco e nossas ações ou escolhas ao longo das gerações.
Todos esses argumentos evaporam enquanto estou aqui.
A verdade é que não estamos fazendo metade do que poderíamos e deveríamos para encontrar soluções para permitir que os refugiados voltem para casa – ou para apoiar os países anfitriões, como Burkina Faso, os quais lidam, por anos, com uma fração da ajuda humanitária necessária para lhe fornecer apoio básico e proteção.
O fardo recai sobre os deslocados, cujos direitos e oportunidades de vida foram roubados.
Está caindo sobre as crianças – sobre dezenas de milhões de crianças deslocadas.
E está caindo sobre pessoas de países como Burkina Faso e outras nações em desenvolvimento.
É aqui que a humanidade e a decência do mundo são medidas. Onde a força e a resiliência humanas são vistas de forma mais clara e nítida. Não nas capitais reluzentes do mundo, mas em lugares como este.
Não há lugar onde eu preferisse estar hoje do que aqui, com refugiados, as pessoas que mais admiro no mundo.
Obrigada por me permitir estar com vocês hoje, neste Dia Mundial do Refugiado.” –  Angelina Jolie
 
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