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Inimigos do fim: entenda o porquê gostamos tanto de estender as comemorações juninas

Mesmo com o fim de junho, muitas festas típicas acontecem em Mato Grosso do Sul. Entenda a tradição e o desejo das pessoas de continuarem as comemorações
Jennifer Ribeiro -
Festa Junina da AOCG, em Campo Grande. Foto: Henrique Arakaki/Jornal Midiamax

Não dá para negar que a festa junina é um grande acontecimento e por isso o mês de junho é tão aguardado em todo o país. Seja pelas danças, pelas comidas típicas, por questões religiosas ou apenas pela atmosfera de confraternização da data, todo mundo gosta de curtir uma boa festança.

E aqui em Mato Grosso a galera é tão inimiga do fim, que junho já acabou, mas o que mais se vê nas redes sociais são festas julinas sendo divulgadas. E pasmem ou não, até festa agostina está sendo organizada.

Mas, se originalmente a comemoração acontecia exclusivamente em junho, por que o sul-mato-grossense gosta tanto de estender a festa? Para compreendermos essa fascinação, primeiro vamos voltar no tempo e entender mais sobre a origem das comemorações.

Origem da festa junina

A festa junina como conhecemos hoje está ligada ao período de colheita, de fartura e claro, aos santos católicos, em especial São João Batista, que tem como data de comemoração o dia do seu aniversário, que é 24 de junho, ou seja, exatos 6 meses da véspera de Natal, quando há celebração do nascimento de Jesus. Mas, se a Bíblia não afirma a data de nascimento de Cristo, como essas duas datas se cruzam?

O jornalista e pesquisador de folclore, Andriolli Costa, explica que a Bíblia afirma que João Batista nasce 6 meses antes de Jesus, justamente para preparar a sua vinda na terra, ou seja, se João nasceu em 24 de junho, logo os estudiosos entendem que 24 de dezembro é o dia em que o menino Jesus vem ao mundo.

“Em determinado momento, quando Jesus está em ascensão e os discípulos de João estão preocupados porque a fama de João Batista vai diminuindo, ele os acalma dizendo que é normal, que era para isso mesmo. E aí ele cita a frase que ganha essa notoriedade: ele precisa acender e eu diminuir”, explica.

Com essa afirmação de João Batista, os estudiosos entendem que essa frase tem relação com os solstício de inverno e verão, períodos em que, por conta dos movimentos de rotação e translação da Terra, ela se aproxima e se distancia da lua, fazendo com que uma das suas faces fique mais afastada do que a outra, da lua e do sol. Isso explica os períodos de dias e noites mais longos.

“Se o dia é mais curto, as coisas são mais difíceis. Se a noite é mais longa, então simbolicamente é um período em que trevas estão ganhando. E para isso a gente precisa que a luz venha, que aí é o nascimento de Jesus. Esse é o motivo pelo qual o nascimento de João Batista é colocado no que é muito próximo ao período de solstício [de inverno], que é no 21 de junho. Você marca o solstício de verão e inverno, porque são os períodos em que Jesus e João estão para nascer, então o sol está para vencer as trevas ou as trevas estão para vencer o sol”, explica o pesquisador sob as interpretações católicas.

Assim, as festas juninas têm a simbologia de espantar as trevas, afirma o jornalista. “É onde você acende as fogueiras ali para que essa escuridão seja derrotada, onde você está estourando os fogos para espantar os espíritos ruins”.

Por que continuar comemorando após junho?

Agora, a pergunta que deu início a matéria: por que as pessoas prolongam as comemorações e fazem festas temáticas mesmo com o fim de junho?

“Acho que o primeiro [motivo] é pelo desejo de continuar festejando. E aí, como diz o professor Luís Antônio Simas, um grande historiador de festas populares, ‘a gente não faz festa porque a vida é boa, mas justamente pelo contrário’. E como a vida é sofrida e a festa espanta miséria, a gente tem esse ímpeto de festejar e emendar uma festa na outra”, conta.

No entanto, Andriolli explica que, por ser possível controlar como a festa é celebrada, muitos grupos vão apagando qualquer tipo de simbolismo que tenha nessa comemoração, deixando só a estética típica, e transformando ela em festa sertaneja, camponesa ou da colheita.

“Qual que é a lógica por trás disso? A lógica é você pegar a estética e trabalhar em cima dela e apagar os sentidos. Você deixar ela esvaziada. Você acha que o que importa é somente o encontro, mas é mais que um encontro. A cultura popular tem propósitos, a gente que às vezes feche os olhos para isso”, afirma.

“Tudo faz sentido, tudo tem razão, tudo tem lógica, a gente que não percebe. Aí quando a gente faz esse tipo de apagamento, outras coisas ganham força”, finaliza.

O pesquisar ainda explica que muitas vezes, ao tentar apagar todos os simbolismos que existem em torno da comemoração, muitas comunidades acabam praticando o terrorismo cultural.

Reflexo das comemorações

Independentemente dos motivos que têm levado os sul-mato-grossenses a continuarem as comemorações, o reflexo das festanças para o comércio tem sido positiva.

Valéria Santos, proprietária da loja, explica sobre a procura de artigos juninos. (Foto: Kísie Ainoã/Jornal Midiamax

Valéria Santos, proprietária de uma loja de variedades, afirma que a primeira semana de julho foi o ápice de vendas e que a procura continua intensa, apesar de junho ter acabado. “Sábado foi bem movimentado e vendemos principalmente bandeirolas e chapéus. Acho que pelo fato das pessoas terem recebido ajudou nas vendas”, conta. A lojista afirmou ainda que, devido à procura, deixará os produtos expostos até o final do mês, para vender todo o estoque.

Gerente em uma loja de artigos diversos, Valdemir Ferreira conta que, apesar da procura estar bem parecida ao que foi ano passado, muitas pessoas continuam indo até a loja em busca de itens festivos para as celebrações julinas. “Já não temos mais estoque, os únicos produtos que temos são os que estão expostos. Acredito que até o final de julho conseguimos vender tudo”, afirma.

Itens juninos também são vendidos durante julho. (Foto: Kísie Ainoã/Jornal Midiamax)

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