O monte Everest, no , continua sendo o grande objetivo dos mais aventureiros montanhistas, mas também segue como um dos locais mais mortais da Terra. Entre as montanhas mais altas do mundo, com 8.848m de altura, é a única que já tirou mais de 100 vidas, com a contagem em 308 mortes.

Para encarar o desafio de chegar ao “topo do mundo”, um grande preparo físico e emocional envolve o treinamento dos escaladores para a experiência que demora em média 2 meses.

A jornada para o Everest começa em Katmandu, capital do Nepal, de onde saem as expedições de diversos grupos e agências de logística. De lá, um voo até Lukla, cidade que está a 2.860m acima do nível do mar e é o principal ponto de acesso ao Himalaia.

De acordo com Ayesha Zangaro, que atingiu o ponto mais alto do Everest em 20 de maio de 2018, aos 23 anos, tornando-se a mais jovem brasileira, “os primeiros dias são o trekking de aproximação até o campo base. Demora, geralmente, 9 dias, contando com uma aclimatação bem-feita e cuidadosa”. Em média, a experiência toda leva 2 meses, desde o voo à Lukla até o retorno para Katmandu.

Neste ano, com filas enormes de alpinistas esperando sua vez de chegar ao topo da montanha mais alta do mundo, enquanto sofrem os efeitos do frio e da altitude por horas além do ideal, foi desencadeada uma importante discussão do que pode ser feito para diminuir os riscos para os que desejam se aventurar nas montanhas do Himalaia.

Para entender melhor a situação atual e o desafio de tentar subir ao topo do Everest, o time de pesquisa da Betway, site de cassino online, conversou com dois experts no assunto: Manoel Morgado, que chegou ao cume em 17 de maio de 2010, aos 53 anos, e com a jovem alpinista Ayesha Zangaro.

“Minha escalada foi razoavelmente tranquila, pois estava muitíssimo bem preparado, tanto em termos físicos como em termos de experiência, com mais de 30 anos de montanha. E tive muita sorte com o clima. Mas, mesmo assim, o Everest é uma montanha muito exigente física e psicologicamente. Estar no campo base, um dos lugares mais extremos do planeta, por dois meses é muito difícil. Lidar com a ansiedade de ‘será que vou dar conta? Será que o clima vai ajudar? Será que vou ficar doente?, tudo isso, por tanto tempo, é muito complicado”, destaca Manoel Morgado.

A subida é longa e demorada. Fazer tudo com pressa pode ser fatal, como relata Manoel: “muita gente morre na descida, já que, muitas vezes por não ter a experiência necessária, não sabem quanta energia ainda têm no corpo, dão tudo para chegar no cume e não sobra para a descida”.

Níveis de altura

 

Monte Everest é o ponto mais alto do mundo e que agrupa maior número de mortes
(Reprodução, Wikipédia)

O acampamento base fica a 5.364m acima do nível do mar. Para se ter uma ideia, a cidade mais alta do mundo, La Rinconada, no Peru, está aproximadamente 200 metros abaixo disso. A 5.800m, o acampamento base-avançado oferece uma possibilidade de descanso, após a passagem pela exigente e imprevisível cascata de gelo.

O acampamento 2, que possui melhor estrutura que o anterior, já fica a 6.400m de altura, o que reduz os níveis de oxigênio a condições extremas. Para efeito de comparação, o monte Denali, no Alaska, possui 6.190m.

O próximo acampamento é o 3, que fica a 7.300m. Quer imaginar como é respirar e praticar esporte de alta performance nesta altura? Imagine jogar bola em La Paz, na Bolívia, o que é uma discussão bastante comum no mundo da bola. Agora dobre esta dificuldade de respiração, e você terá uma ideia do que é estar no acampamento 3 do Everest.

O último acampamento é o 4, que fica a quase 8.000m, e já pode ser classificado como dentro da “zona da morte”, onde a eficiência de oxigênio é de um terço em relação ao nível do mar. De lá, atravessa-se alguns pontos de altíssimo risco, e segue-se o ataque ao cume, que fica a 8.848m.

Principais riscos

Monte Everest é o ponto mais alto do mundo e que agrupa maior número de mortes
(Reprodução, Wikipédia)

E onde estão os principais riscos desta escalada? Há algum ponto que mereça ainda mais atenção do que o normal, para um desafio como este? Para Ayesha e Manoel, há duas situações em que o alpinista deve tomar cuidados extras: a cascata de gelo (Khumbu Icefall) e a zona da morte.

“O Everest tem várias partes delicadas. A cascata é a parte mais inclinada do glaciar que desce do cume da montanha até seu campo base e, com isso, o gelo se fragmenta criando um caos de grandes blocos de gelo, alguns com mais de 30 metros de altura, que podem despencar a qualquer momento”, diz Manoel Morgado. Ayesha concorda: “é um lugar muito instável. Dependendo da temperatura ou outros fatores externos, é um lugar que se mexe”.

Entretanto, mesmo com toda a dificuldade que o Everest impõe aos que buscam vencê-lo, montanhistas cada vez menos experientes se propõe a desafiar o monte. A soma de diversos fatores já faz do ano de 2019, um dos mais catastróficos em número de mortes na montanha. Ayesha Zangaro elencou alguns destes fatores que colaboraram para um dos anos mais mortais da história do Everest.

“Cada vez mais, o Everest tem chamado a atenção de pessoas com menos experiência. Além disso, há também o lucro do governo do Nepal. Montanhismo é a maior fonte de renda do país. As poucas janelas de bom tempo que tivemos nesta temporada, o uso de permissões antigas, que espiravam este ano e empresas pouco qualificadas vendendo serviços de logística” são alguns dos elementos que ela considera responsáveis pela atual situação do Everest.

Para Manoel, as coisas não devem mudar tão cedo. “O Nepal jamais vai limitar o número de escaladores. O país vive de turismo e é muito pobre. A única maneira de fazer algum controle disso seria as empresas aceitarem somente quem tem a experiência necessária para uma montanha como o Everest. Mas, isso nem sempre acontece”.

Desastres no Everest

Em 2015, o terremoto que devastou o Nepal também fez vítimas no Everest, com uma série de avalanches que atingiram acampamentos e arrastaram tudo pelo caminho. Por conta disso, este se tornou o ano com mais fatalidades na história da montanha, chegando à marca de 19 mortes entre 25 de abril, dia do desastre, e 1º de maio.

Outro ano que ficou famoso por sua alta contagem de vidas perdidas foi 1996, em que uma tempestade inesperada ceifou 15 vidas. Esta história foi retratada no livro “Into Thin Air”, de Jon Krakauer. Em 2015, o filme “Everest”, que foi baseado na história contada por Krakauer, chegou aos cinemas.

A maior montanha do mundo seguirá sendo um dos lugares mais fascinantes e perigosos do planeta por muito tempo. Histórias como as de Ayesha Zangaro e Manoel Morgado se repetirão, ganharão novos protagonistas e continuarão a impactar as vidas de muitos que reconhecem os sacrifícios que quem se propõe a subir, deve realizar.