A estatística é perigosa: ao menos 61% da população de Mato Grosso do Sul apresenta algum tipo de sobrepeso, de acordo com pesquisa promovida pela Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), realizadas em 17 municípios de Mato Grosso do Sul neste mês. Só que além das preocupações comuns decorrentes da , como pressão alta, diabetes e taxas alteradas, outra grave doença pode estar cientificamente associada à obesidade: o câncer.

É o que aponta a artigo intitulado ‘A crescente carga de câncer atribuível ao alto índice de massa corporal no Brasil', publicado na revista Cancer Epidemiology (Epidemiologia do Câncer), de autoria do doutorando da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Leandro Rezende. O estudo publicado foi desenvolvido no Departamento de Medicina Preventiva da faculdade e relaciona o crescimento dos casos de câncer ao aumento do IMC (Índice de Massa Corpórea) da população.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), obesidade e sobrepeso podem aumentar chances de desenvolver 14 tipos de câncer, dentre eles de mama, cólon, reto, estômago e útero, que correspondem à metade dos 400 mil casos diagnosticados no Brasil anualmente.

A pesquisa da FMUSP piora o cenário, já que reforça a relação direta de cerca de 15 mil diagnósticos ao IMC elevado. A estimativa do estudo ainda aponta um futuro assombroso: até 2025, estima-se o surgimento de 29 mil novos casos de câncer com a mesma relação com  a obesidade e sobrepeso.

Má alimentação

Pesquisa alerta para relação entre câncer e obesidade
Alimentos ultraprocessados são apontados como os vilões (Foto: Getty)

Um dos principais fatores para o aumento dos casos de câncer relacionados à obesidade pode ser explicado com a qualidade da alimentação do brasileiro. Segundo a pesquisa, o aumento do poder econômico nos últimos anos levou a um maior consumo – no caso dos alimentos, todavia, há associação com produtos ultraprocessados ou de má qualidade.

A venda desses produtos teve aumento observado em 103% em toda a América Latina, de 2000 a 2013. Paralelamente a isso, o IMC dos países da região também foi registrado – no início do período pesquisado, a obesidade atingia cerca de 40% da população, contra os mais de 60% da atualidade. Em outras palavras, a adoção de políticas que estimulem a moderação da alimentação e a busca pela qualidade dos produtos consumidos poderá reverter este cenário.

“Esse crescimento de vendas na América Latina retrata uma estratégia da indústria de alimentos, assim como foi, ou tem sido, a da indústria de tabaco. Quando alguns países começam a regular minimamente a venda e publicidade desses alimentos, eles partem para regiões em que as leis ainda não foram estruturadas para promover a saúde da população”, conclui Rezende.