Psicologia do crime: por que as pessoas se interessam tanto por true crime

Nos últimos anos, o gênero dos crimes reais tem conquistado uma legião de fãs ao redor do mundo. Seja em documentários, podcasts ou livros, as histórias capturam a atenção de milhões.

Júlio Brandão – 29/08/2024 – 09:48

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Imagem de Tom Masat por Unsplash

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Nos últimos anos, o gênero dos crimes reais tem conquistado uma legião de fãs ao redor do mundo. Seja em documentários, podcasts ou livros, as histórias capturam a atenção de milhões. Mas, por que as pessoas se interessam tanto por true crime?

Um estudo da Nielsen revelou que, em 2023, mais de 60% dos ouvintes de podcasts nos Estados Unidos consumiram ao menos um episódio de true crime, aumento expressivo em relação aos anos anteriores. No Brasil, o cenário não é diferente.

Séries como “Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime” e “O Caso Evandro” se tornaram fenômenos culturais, destacando o crescente apetite do público por narrativas criminais.

Uma pesquisa recente da ExpressVPN, que explora a relação entre tecnologia e consumo de conteúdo, revela insights fascinantes sobre esse fenômeno. O estudo mostra que, além do interesse natural pelo tema, o consumo de true crime está fortemente ligado ao comportamento digital, com as pessoas usando plataformas de streaming e podcasts como formas primárias de acesso. Mas o que, exatamente, torna essas histórias tão irresistíveis?

Por que as pessoas se interessam tanto por histórias de crimes reais?

A fascinação por crimes reais é um interesse antigo, evidente desde o caso de Jack, o Estripador, até crimes contemporâneos como o de Chris Watts.

Este interesse vai além do entretenimento, com estudos psicológicos e sociológicos buscando entender a atração por tais histórias, conforme mostra a pesquisa da ExpressVPN, que detalha muitos dados sobre o tema.

Consumidores deste gênero são geralmente curiosos e desejam compreender comportamentos extremos, o que reflete uma necessidade de examinar a moralidade humana.

O gênero de true crime serve como catarse para muitos, oferecendo insights sobre a complexidade humana e moralidade. Pessoas com ansiedade moderada tendem a se engajar mais com esses conteúdos, pois simulam mentalmente riscos enquanto permanecem seguros em casa, o que proporciona controle sobre seus medos e uma forma segura de lidar com emoções.

Exploração do desconhecido

As narrativas permitem que os espectadores explorem o lado sombrio da humanidade sem sair do conforto e segurança de suas casas. É uma maneira de entender o que leva alguém a cometer atos tão extremos sem se colocar em risco. Psicólogos apontam que essa exploração pode funcionar como uma forma de preparação mental para enfrentar possíveis situações de perigo na vida real.

Empatia

Embora pareça contraditório, o consumo de true crime pode aumentar a empatia. Ao mergulhar em histórias de vítimas, o público se conecta emocionalmente com as pessoas envolvidas, compreendendo as consequências devastadoras de um crime.

Muitas vezes, isso vem com a reflexão sobre as próprias vulnerabilidades e as injustiças sociais, gerando ligação emocional profunda com as vítimas e suas histórias.

Busca por justiça

Muitas pessoas se sentem atraídas pelo gênero porque ele muitas vezes explora a ideia de justiça. Acompanhamos as investigações, os julgamentos, e sentimos uma sensação de satisfação quando o culpado é punido. Isso tem a ver com o desejo intrínseco de ver uma ordem moral sendo restabelecida, algo psicologicamente reconfortante para muitos.

Imagem de Darius por Unsplash

Curiosidade psicológica

O true crime permite que as pessoas explorem as mentes dos criminosos. Psicopatas e sociopatas sempre foram objetos de fascínio, e entender suas motivações pode oferecer uma visão sobre os extremos da condição humana. Tanto que os consumidores mais assíduos costumam ter interesse em temas relacionados à psicologia e ao comportamento humano, tentando compreender como as anomalias psicológicas se manifestam em ações extremas.

Entendimento dos sistemas de justiça

Muitos documentários e podcasts oferecem uma visão detalhada sobre o funcionamento do sistema de justiça criminal, ajudando o público a compreender melhor como crimes são investigados e julgados.

Consciência situacional

Consumir true crime pode aumentar a consciência situacional, fazendo com que as pessoas fiquem mais atentas a situações de risco em suas próprias vidas. Alguns estudos sugerem que os espectadores frequentes de true crime tendem a ser mais cautelosos e vigilantes no cotidiano, uma reação psicológica que os ajuda a evitar situações perigosas.

Como a tecnologia influencia o consumo de true crime?

Sem dúvidas, o avanço tecnológico desempenha um papel crucial no aumento da popularidade do gênero. Hoje, temos acesso a uma quantidade infinita de conteúdo em plataformas como Netflix, Spotify e YouTube, que se adaptam perfeitamente ao desejo incessante por novas histórias de crime. Segundo a pesquisa da ExpressVPN:

  • Streaming e podcasts: as formas mais populares de consumo, com 72% dos entrevistados utilizando plataformas de streaming e 54% ouvindo podcasts regularmente.
  • Personalização de conteúdo: algoritmos de plataformas digitais ajudam a personalizar o conteúdo baseado nos interesses do usuário, facilitando o acesso a novos casos e documentários que se alinham com suas preferências.

O fascínio que não tem fim

O interesse pelo true crime não parece estar diminuindo. Na verdade, com o crescimento das plataformas digitais e o desenvolvimento de novas formas de narrativas, é provável que esse gênero continue a evoluir e atrair cada vez mais público. Para aqueles que consomem esse tipo de conteúdo, é importante balancear o fascínio com a consciência dos possíveis impactos psicológicos.

Se você é fã dos gêneros de crimes reais, considere explorar diferentes perspectivas e discutir as histórias com outras pessoas. Compartilhar suas experiências pode não apenas enriquecer sua compreensão, mas também ajudar a moderar o consumo. Lembre-se: o crime real não é apenas entretenimento; é uma janela para os aspectos mais complexos e, às vezes, perturbadores da condição humana.

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