Alec Butler sofreu preconceito inclusive por parte de homossexuais
Audrey nasceu em 1959, no Canadá. Quando chegou à puberdade, aos 12 anos, começou a menstruar. No entanto, na mesma época, começaram a crescer pelos em seu rosto. Audrey descobriu, então, que era intersexual – alguém que não possui características completas nem do sexo masculino, nem feminino.
Quando o fato ocorreu, seus pais deixaram que a criança decidisse se queria ser menino ou menina. Eles foram instruídos por um médico a colocá-lo num sanatório, ‘até que aprendesse a se vestir como menina’.
“Isso ocorreu aos 12 anos, em uma época que mesmo meninas são forçadas a fazer isso. Felizmente, meus pais ficaram ultrajados e me disseram: ‘Não vamos fazer isso. Vamos apenas amar você e você escolha como quer ser’. Isso foi um presente. Muitas crianças intersexuais não têm isso”, diz Alec em entrevista à rede britânica BBC.
A adolescência, como de qualquer pessoa não considerada ‘normal’, foi uma fase muito difícil. “Tive problemas porque gostava de uma garota, e ela gostava de mim também. Tudo deu muito errado porque eu não era realmente um menino. Me chamavam de lésbica, sapatão. As outras crianças gritavam para mim ‘você é doente’ e, na sala de aula, recebia bilhetinhos sugerindo que cometesse suicídio”.
A identidade ‘Alec’ foi assumida em meados dos anos 90, após descobrir o que é o conceito de intersexualidade. Antes disso, se apresentava como uma lésbica masculina, mas também sofreu preconceito pelo fato de possuir barba. “Mulheres me perguntavam: ‘O que você está fazendo aqui’?. Eu dizia apenas que era lésbica também, e que ‘algumas de nós usam barba’”, relata.
“Quando terminei meus estudos, em 1978, sofri para arrumar um emprego. Mudei-me para Toronto e me apresentei como uma espécie de lésbica masculina. Era uma forma de formar uma comunidade, encontrar apoio e me sentir aceita. Eu não conhecia outras pessoas intersexuais – sequer conhecia essa palavra na época”.
Alec, além de ser um renomado roteirista e cineasta, estuda cultura indígena na Universidade de Toronto. Ele aponta que, antes da colonização, as comunidades nativas do Canadá viam pessoas transgênero e hermafroditas como duplamente abençoadas, por terem os espíritos masculino e feminino.