10 coisas que toda pessoa LGBT espera de uma amizade com heterossexuais

Siga este manual e torne-se um defensor da comunidade LGBT

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Siga este manual e torne-se um defensor da comunidade LGBT

O recente episódio de um ataque terrorista doméstico motivado por ódio contra LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), no qual 59 pessoas foram assassinadas e outras 53 feridas em uma boate GLS em Orlando, nos EUA, causou comoção no mundo inteiro. E em meio a essa onda de tristeza, muitas pessoas heterossexuais declararam publicamente que apoiam os direitos LGBT.

10 coisas que toda pessoa LGBT espera de uma amizade com heterossexuaisEntretanto, há muitas queixas em relação ao ‘desempenho’ de pessoas heterossexuais diante da causa LGBT. Os relatos mais comuns são que as pessoas até convivem e gostam da companhia de homossexuais, mas tem uma série de reservas e acabam reproduzindo homofobia e transfobia, às vezes até sem saber.

Portanto, e aproveitando que estamos no mês que celebra o Orgulho LGBT, o MidiaMAIS conversou com oito militantes LGBT do Brasil inteiro e perguntou o que eles esperam de seus amigos heterossexuais. Seguindo as 10 dicas que compõem esta listam você podem fazer com que sua amizade com gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais seja ainda mais verdadeira. Do contrário, tem que devolver a carteirinha de apoiador de LGBT urgentemente, ok? Confira.

 

1. Tenha cuidado com as palavras que usa como insulto

10 coisas que toda pessoa LGBT espera de uma amizade com heterossexuais

Você não é um amigo dos LGBT quando no meio de uma discussão qualquer, seja boba ou séria, de repente solta um ‘seu veado’ para ofender o oponente. Isso porque você está utilizando uma palavra que descreve homossexuais como forma de insulto.

“Hoje a palavra ‘veado’ não é mais um insulto, porque a ressignificamos. Não temos problema nenhum em ser ‘veados’, o problema é quando a utilizam como sinônimo de algo ruim”, explica o publicitário Pedro Marques, que é gay. Segundo ele, o mesmo vale para outros termos depreciativos, como ‘trava’ e ‘traveco’. Está na dúvida? Converse com seu amigo ou amiga LGBT.

 

2. Ame-as do mesmo jeito que ama os memes que elas usam

Sim, pessoas LGBT sabem usar memes como ninguém e para completar ainda criam gírias e expressões que nunca saem de moda, o que faz ser muito atraente andar na companhia deles. Mas, nada de ficar calado diante de um episódio de homofobia que você presenciou, esteja ou não na companhia de uma pessoa homossexual, mas principalmente quando não estiver.

“O que a gente mais espera dos nossos amigos heterossexuais é que eles se posicionem, que sejam mais uma voz em defesa dos nossos direitos, que são direitos humanos fundamentais. Quando alguém silencia diante da homofobia ou da transfobia, está sendo conivente com ela”, afirma a bióloga Luana Meireles, que é lésbica. Em outras palavras: seja solidário.

 

3. Demonstre interesse em compreender o ‘mundo delas’

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Tudo o que as pessoas LGBT querem é ter as mesmas oportunidades e direitos que as pessoas heterossexuais, tais como bons empregos, acesso à educação, equiparação familiar e, sobretudo, acolhimento social. Mas, como existem ‘forças malignas’ torcendo pelo contrário, é bastante comum elas se organizem em comunidades – os guetos, digamos assim, tal qual uma boate gay, um café descolado e por aí vai. E com isso, o conhecimento acerca desse grupo acaba circulando menos que o esperado. Que tal buscar compreender melhor o que pensam, querem e porque lutam? Hello, estamos na época da internet!

“É muito comum utilizarem o termo ‘homossexualismo’ para se referirem à homossexualidade. Desde 1990 esse termo foi abolido, porque dava ideia de doença, e nesse ano ser homossexual deixou de ser sinônimo de ser doente. Nem todo mundo sabe disso ou busca saber. Tem também outros termos, como ‘opção sexual’, que não faz o menor sentido. O correto é ‘orientação sexual’, que é bem diferente de ‘identidade de gênero’, explica o pesquisador da USP e ativista LGBT Willian Souza.

 

4. Respeite a identidade de gênero de pessoas trans, mesmo que não conheça nenhuma

Não custa nada, no fim das contas, tratar uma pessoa como ela quer ser tratada. Se você se recusa a fazer isso, é porque não merece a carteirinha de defensores de pessoas LGBT. Se você tem uma amiga lésbica ou gay e mesmo assim continua referindo-se a travestis no masculino, não se esqueça de que está desrespeitando alguém da mesma comunidade. “O respeito ao nome social e à identidade de gênero é um direito constitucional das pessoas trans, que precisa ser respeitado. Tratar uma travesti no masculino ou até mesmo perguntar o nome civil dela é uma forma de humilhação. É algo que não se faz”, explica a travesti e ativista LGBT Cris Stefanny, ex-presidente da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).

 

5. Doe sangue

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Pouca gente sabe, mas pessoas LGBT não são bem-vindos nos bancos de sangue, sobretudo homens homossexuais e travestis. Isso porque há uma portaria do Ministério da Saúde que considera inaptos à doação homens que tiveram relações homossexuais, mesmo com proteção, num prazo de um ano. De acordo com o órgão, a medida visa proteger os receptores do contágio de doenças transmissíveis pelo sangue, como as hepatite e o HIV.

“É uma medida escancaradamente discriminatória, porque não existe o mesmo rigor com homens heterossexuais, que também podem fazer sexo anal, por exemplo. Nós adoraríamos doar sangue e sabemos que existe muita discriminação contra gays, lésbicas e travestis. Não sabemos se num atentado igual ao de sábado ocorrendo no Brasil, se haveria uma fila enorme na rua do jeito que aconteceu em Orlando. Então, os amigos que doam sangue estão fazendo isso por nós”, considera o estudante e ativista LGBT Nando Gomes.

 

6. Pare de perguntar quem é o homem e a mulher da relação

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Se entre heterossexuais há quem questione o reforço dos papéis de gênero, que só contribuem para uma cultura machista, imagine em relacionamentos homoafetivos. Não, não existe homem ou mulher da relação. Existem duas pessoas. E só.

“Perguntam também quem é o ativo e o passivo o tempo inteiro, achando que o passivo ou o afeminado é a mulher da relação. Não percebem que isso é machismo, que é uma forma de fazer um dos pares da relação ser diminuído. É a mesma coisa com as lésbicas, sempre querem saber quem é o homem da relação. Na boa, não perguntem isso, por favor. Na hora certa a gente fala, se for o caso”, aponta Patrícia Coelho, dentista e lésbica.

 

7. Não diga que gosta dos gays porque eles são engraçados

Apesar da palavra gay significa, no inglês, feliz, nem todo gay é humorista. Em geral, pessoas LGBT não são nada mais que pessoas comuns, como você. Logo, aprenda a valorizá-los da mesma forma que você valoriza pessoas heterossexuais, ou seja, pelo caráter, amizade, companheirismo…

“Eu fico passado quando dizem que gostam de gays porque são engraçados. Acho cansativo isso, porque eu me sinto um acessório, um remédio para depressão. E no fim das contas a gente só é interessante por perto enquanto somos divertidos. Ou quando damos dicas de decoração. Quando precisamos de apoio eles somem”, diz o designer Tadeu Goulart.

 

8. Entenda que nem todo gay gosta de diva pop e que nem toda lésbicas ama roda de samba

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Mais uma vez, um verdadeiro amigo de pessoas LGBT não reforça estereótipos, mesmo que a maioria das pessoas seja exatamente como o senso comum aponta. Outra coisa, promiscuidade não é da conta de ninguém, e mesmo assim, nem todo homossexual é promíscuo ou sai de casa com o claro objetivo de transar.

“Eu, por exemplo, odeio a Madonna e só curto rock. Não que me sinta ofendido por essa generalização, mas ela não ajuda a gente em nada. Também só tive três namorados e só fiz sexo com esses três. Não me considero um santo ou melhor que os outros por isso, mas ta chato isso de achar que todo gay já transou com centenas de pessoas. Por favor, parem com isso!”, clamou o Tadeu Goulart.

 

9. Não tire nunca ninguém do armário.

Para homossexuais, sair do armário tem um sabor especial, pois a partir dali o peso de esconder a própria sexualidade (ou identidade de gênero, no caso das pessoas transgênero) desaparece. Entretanto, nem todo mundo goza desse privilégio, no caso, uma família mente aberta que aceitará a condição da pessoa. Quer dizer, às vezes, manter-se no armário é uma questão de sobrevivência.

“Conheço gente que nunca esteve no armário e acho isso fantástico. Mas fui tirada à força por uma amiga da escola que achou natural conversar com minha prima que eu estava namorando. Foi um pesadelo, porque ela falou para minha tia, que falou para a minha mãe, dali a pouco todo mundo estava sabendo e meu pai me deu uma surra pra eu ‘deixar de ser sapatão’. Tive que ir morar com minha avó até as coisas normalizarem”, conta Marcela Bonfim, fotógrafa.

 

10. Oriente seus filhos e familiares sobre orientação sexual sexual e identidade de gênero

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Por fim, a coisa mais importante que uma pessoa heterossexual pode fazer para ser considerada verdadeiramente amiga de pessoas LGBT é utilizar os canais de comunicação que tem para sensibilizar pessoas ao redor. Ou seja: converse com seus filhos, irmãos, pais, avós e outros amigos sobre o tema, posicione-se e apresente tudo o que aprendeu sobre a diversidade, de forma que os outros também compreendam que não há nada demais em ser diferente, e que o mundo é muito melhor com diversidade.

“Eu acho que isso é o mais bacana, você ter acesso a certos grupos e levar nossa mensagem por igualdade até lá. Pode ser com colegas de trabalho, com os filhos, com a esposa ou marido… Se essa pessoa nos apoia de verdade ela defende nossos direitos e também leva informação para romper esse ciclo de preconceito, que se alimenta da ignorância e da falta de informações”, conclui Pedro Marques.

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