“Desde criança eu não gostava das minhas pernas. Sempre achava elas muito grandes e com muita celulite. Mesmo fazendo ‘dietas tradicionais’ e pegando muito peso na academia, não reduzia. Pelo contrário, aumentava cada vez mais. Aí comecei a entender que algo estava errado”.
O relato é da revisora textual Amanda Camacho, de 24 anos, que convive com o lipedema desde a infância, mas só recebeu o diagnóstico na fase adulta. A condição é caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura em determinadas regiões do corpo, e costuma ser confundida com obesidade ou retenção de líquidos, o que torna o diagnóstico um desafio para muitas mulheres.
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Amanda conta que percebeu que algo estava errado quando notou que, apesar dos esforços com dieta e exercícios, suas pernas continuavam desproporcionalmente maiores que o restante do corpo. Ao cogitar a possibilidade da doença, decidiu buscar um médico vascular especialista em lipedema, que confirmou o diagnóstico. Três meses depois, iniciou acompanhamento com a personal trainer Jéssica Galeno, que também tem lipedema e orienta pacientes com o mesmo diagnóstico.
Após a confirmação da doença, Amanda precisou mudar completamente sua rotina. O primeiro passo foi cuidar da alimentação e restringir ao máximo o consumo de álcool, açúcar e farinhas brancas, que podem agravar o quadro inflamatório. A revisora percebeu também que a musculação com cargas elevadas não significava hipertrofia para seu caso.
“Faço o tratamento conservador, que é para o resto da vida. Tenho cuidados na alimentação, uso de meia de compressão, atividade física regular e evitar ao máximo passar por estresse”, detalha.
Impacto na autoestima e saúde mental
Um dos maiores desafios enfrentados pela revisora foi o impacto do lipedema na autoestima. Antes do diagnóstico, Amanda relata que se culpava pela aparência das pernas e acreditava que era resultado de falta de esforço e disciplina.
“Até aprender a lidar e entender o lipedema, foram alguns meses sem querer nem sair de casa com certas roupas. Eu achava que as ‘celulites’ eram culpa e falta de esforço meu. Hoje eu entendo que tem nome a minha aparência e sei o que fazer para que ela fique mais próxima do que eu gostaria”, desabafa a revisora.
Amanda diz que busca manter uma rotina adaptada à sua condição. Ela pratica atividades físicas direcionadas ao lipedema com acompanhamento com sua personal trainer, não consome mais bebidas alcoólicas e evita o consumo de produtos com açúcar.
Embora o lipedema não tenha cura, o conhecimento e o tratamento adequado fizeram com que Amanda retomasse o controle sobre seu corpo e sua autoestima. “Procuro seguir uma alimentação saudável durante toda a semana para poder comer algo inflamatório no final de semana e matar minha vontade”, finaliza.
Lipedema x Obesidade
O lipedema é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura em regiões específicas do corpo, como pernas, coxas, quadris e, em alguns casos, braços. Esse acúmulo ocorre de maneira simétrica e desproporcional; por isso, é diferente da obesidade, visto que a gordura do lipedema não responde a dietas ou exercícios.
O cirurgião vascular e endovascular Alex Yuzo Kanomata explica que estudos sugerem que a condição tem origem genética e hormonal, embora ainda não compreendam totalmente a causa exata da doença. A doença afeta quase exclusivamente mulheres e se agrava em momentos de grandes alterações hormonais, como puberdade, gravidez e menopausa, o que reforça essa teoria.
As pessoas confundem frequentemente o lipedema com a obesidade, o que contribui para a dificuldade no diagnóstico, já que ambas as doenças envolvem o aumento do volume corporal. Conforme explica o profissional, o lipedema apresenta uma distribuição de gordura localizada e simétrica, principalmente nas pernas e/ou braços, exceto nas mãos e pés. Já a obesidade costuma causar um ganho de peso uniforme por todo o corpo.
Outro ponto relevante é a dor. Alguns sintomas da doença incluem sensibilidade ou dor ao toque, além de uma tendência a hematomas, enquanto a obesidade, geralmente, não causa dor específica.
Além disso, o lipedema não responde significativamente a dietas e exercícios, ao contrário da obesidade, que costuma apresentar perda de peso visível com a mudança de hábitos alimentares e atividades físicas. Uma característica da doença é o inchaço, que piora ao longo do dia. Já em casos de obesidade o inchaço pode ocorrer, mas não é uma característica predominante.
Sintomas do Lipedema
• Aumento simétrico de gordura nas pernas e/ou braços, porém com preservação dos pés e mãos.
• Sensibilidade ao toque e tendência a hematomas.
• Dor espontânea ou ao toque na região afetada.
• Sensação de peso e inchaço nas pernas, especialmente ao longo do dia.
• Dificuldade em perder gordura localizada, mesmo com dieta e exercício.
Impactos do lipedema na qualidade de vida dos pacientes
A doença de lipedema afeta os pacientes de diversas formas. Os impactos físicos podem apresentar dor crônica, cansaço nas pernas e restrição na mobilidade. Ela também afeta o psicológico, causando baixa autoestima, ansiedade e depressão devido à insatisfação com o corpo. Outro fator que o profissional destaca, é a discriminação, isolamento social e frustração ao não obter sucesso com tentativas de emagrecimento.
Desafios do diagnóstico
Atualmente, a maior barreira enfrentada pelos médicos na hora de diagnosticar a doença é, principalmente, a falta de conhecimento sobre ela, tanto por parte dos pacientes quanto por parte de muitos profissionais de saúde.
“Como a doença se parece com obesidade ou linfedema, ela muitas vezes é subestimada ou tratada erroneamente apenas com orientações para emagrecimento. Além disso, não há exames laboratoriais ou de imagem específicos para confirmar o diagnóstico. Ele é feito com base na história clínica e no exame físico”, explica o cirurgião vascular e endovascular Alex Yuzo Kanomata.
A falta de diagnóstico e tratamento adequados, segundo o profissional, pode fazer o lipedema evoluir para quadros mais graves, como o aumento progressivo da gordura, levando à dificuldade de locomoção (lipedema avançado) e inchaço que se torna permanente devido ao comprometimento do sistema linfático (linfedema secundário, ou lipolinfedema).
A doença também pode acarretar problemas articulares, como os causados pelo peso extra e mau alinhamento das articulações, o que coloca o paciente em risco de desenvolver artrose e dores musculoesqueléticas.

Tratamentos disponíveis
O cirurgião vascular e endovascular Alex Yuzo Kanomata explica que existem dois tipos de tratamento: conservador, sendo o mais indicado, e cirúrgico. No caso do tratamento conservador (não cirúrgico), ele consiste em drenagem linfática manual, terapia compressiva (meias de compressão), exercícios físicos de baixo impacto, como hidroginástica e caminhada, alimentação anti-inflamatória e uso de medicamentos para controle da dor e da inflamação.
Em caso de tratamento cirúrgico, realizam a lipoaspiração. “É a única forma eficaz de remover a gordura do lipedema. Esse procedimento reduz o volume das pernas e alivia a dor, melhorando significativamente a qualidade de vida. Porém, não é indicada de rotina e sim para casos específicos”, enfatiza Alex.
Na rede particular os custo do tratamento pode variar bastante, dependendo da frequência das sessões de fisioterapia, drenagem, acompanhamento nutricional e outros cuidados. O valor da cirurgia de lipoaspiração para lipedema varia conforme o número de áreas tratadas, e, assim, pode custar entre R$ 30 mil e R$ 100 mil por sessão.
No ano de 2022, incluíram o quadro na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que reconhece o Lipedema como doença, e não como problema estético.
Em nota encaminhada à imprensa, o reconhecimento pode possibilitar aos portadores da doença, sem condições de bancar o tratamento, a terem acesso à cobertura pelo SUS (Sistema Único de Saúde). No entanto, a SES (Secretaria de Saúde de Mato Grosso do Sul) informou que no Estado não há registros de atendimentos ambulatoriais relacionados ao Lipedema pelo SUS.
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