O atendimento de sempre continua na Rua Clemente Pereira 188
A cidade toda conhece Maria Eronita Batista, de 50 anos. O nome pode soar estranho, a princípio, mas é assim que consta na certidão de nascimento de Anita, a boleira mais conhecida de Campo Grande, dona do ponto mais tradicional de venda de doces da cidade, o ‘Anita Doces’ da Feira Central. Afinal, quem nunca provou as delícias de Anita logo após saborear um sobá da Feirona?
Há 30 anos adoçando paladares na cidade, Anita é história viva na Feira Central. Só que ela está se despedindo do local que lhe consolidou como a boleira-símbolo da cidade.
“Sei que dói muito nas pessoas e em mim também, porque eu estou na Feira Central há 30 anos. Presenciei muitas histórias bonitas em frente a minha barraca e aquele lugar faz parte de mim. Sou muito grata à Feirona. Mas, eu abri minha sede justamente porque precisava dar esse passo além. E agora chegou a hora de me despedir de uma vez. Quando a saudade ou a fome bater, é só colar aqui”, conta Anita.
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‘Aqui’, no caso, é o endereço da sua sede própria, uma vez que Anita não deve mais retornar à Feirona. “Fiz assim, na surdina, porque não quero chororô. Além do mais, estou pertinho de lá”, conta. Sua confeitaria, a propósito, fica na Rua Clemente Pereira 188, bairro Cabreúva. Aberto em 2014, o espaço é climatizado e aconchegante, pensado e decorado para receber bem o cliente.
“Esse lugar é tudo o que sonhei, é tudo o que eu idealizei para mim quando, há 30 anos, levava minha barraca feita de cabos de vassouras para vender doces e bombons na Feirona. Eu tenho certeza de que muita gente vai falar que vou deixar saudade, mas para matar a saudade é só vir aqui, né? Já adocei o sonho de muita gente e isso tudo foi lindo, mas decidi que agora eu preciso mesmo viver o meu sonho”, explica a boleira.
30 anos de estrada
O ano era 1987. Anita tinha chegado de Santa Catarina em Mato Grosso do Sul e vender doces foi a atitude visionária que teve para fazer alguma coisa. “Ninguém vendia doces aqui. A Feirona ainda era uma feira de rua e a barraca a gente montava com cabos de vassoura, depois era só dobrar e guardar. Daí, o cliente comprava suas verduras, comia seu sobá e queriam adoçar o paladar. Foi quando comecei a vender esses bombons. Depois que as tortas surgiram”, conta Anita.
Nesse período, a boleira viu todas as transformações pelas quais a Feirona passou. “Eu lembro muito do último dia, que emocionante foi… Mas, apesar de mudar muito a cara da feira, o novo local deu mais estrutura aos feirantes. Antes, a gente andava com uma muda de roupas dentro do carro, com dois calçados, porque se chovesse era certeza ter que se secar, se trocar e voltar pra barraca sem cerimônias”, revela.
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Não só a Feirona mudou, claro. Nestes 30 anos, o negócio de Anita também deslanchou e se tornou referência na cidade. “Imagina só vender bolo em feira, não existia isso. Até na Prefeitura tive que insistir para obter o alvará. Se hoje uma doceria em feiras é comum na cidade é porque eu ajudei a desbravar esse caminho. Por isso que me despeço dos clientes com consciência tranquila e sensação de dever cumprido”, conta Anita.
Torta ‘Morfeu’ e uma ‘parede de saudades’
Chiffon, torta holandesa, floresta negra e várias outras delícias são a paz em forma de torta que Anita prepara com todo carinho para os campo-grandenses. Mas, nenhuma delas supera a popularidade de sua torta Morfeus, uma livre-adaptação da ‘Orfeu’, que Anita apresentou à cidade.
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“Eu lembro que falaram uma vez que o nome da torta era Orfeu. Daí eu expliquei que era, mesmo, mas que a minha era a filha do Orfeu, a Morfeu”, brinca Anita, às gargalhadas. “É porque a receita mudou um pouco e eu não queria causar expectativas. Mas, modéstia à parte, minha ‘Morfeu’ é boa demais, tanto que é a que mais sai”, afirma.
Uma parede da confeitaria Anita Doces está vazia e a maior vontade da boleira é que ela fique repleta de lembranças, literalmente. “Eu queria muito uma parede lotada de quadros com algumas das milhares de fotos que meus clientes tiraram com a gente ao longo desses 30 anos. Será uma forma de honrar a memória da Feirona e me lembrar sempre de onde vim e que meu sonho é fruto de trabalho e, principalmente, que meus clientes o tornaram possível”, explica.
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Anita até tem as fotografias, mas não na quantidade que gostaria. Por isso, ela lança o desafio aos clientes. “Os primeiros 30 clientes que vierem aqui na minha sede, na Rua Clemente Pereira 188, com uma foto antiga com a gente, com mais de cinco anos desde a data que foi clicada, seja de bolo, seja da gente na feirona antiga, enfim, quem vier com uma boa foto vai ganhar uma torta como forma de agradecimento”, finaliza.
Que tal vasculhar seu álbum de memórias e ver se consegue esse mimo da Anita? A doceria fica na Rua Clemente Pereira 188, bairro Cabreúva, na continuação da Avenida Mato Grosso, logo após cruzar o córrego. O espaço funciona das 8h às 19h30, de segunda à quinta, e das 8h às 20h, às sextas e sábado. Outras informações pelo telefone (67) 3325-7117. Siga a Anita nas redes sociais e fique por dentro das novidades! Facebook | Instagram