Investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) que resultou na prisão de Claudinho Serra (PSDB) mostra que o político utilizava pai e mãe para receber propina de esquema de corrupção em Sidrolândia, cidade a 70 km de Campo Grande.
Além dele, o assessor Carmo Name Júnior e o empreiteiro Cleiton Nonato Correia, da GC Obras e Pavimentação, foram presos na 4ª fase da Operação Tromper, na semana passada. Ainda, novos investigados por integrarem o esquema de desvios em contratos públicos foram identificados a partir de aparelhos de celular apreendidos na 3ª fase da operação, em abril de 2024, em que o ex-vereador de Campo Grande havia sido preso pela primeira vez. Veja a relação dos investigados mais abaixo.
Assim, novo relatório de investigações que motivou a nova operação mostra que Serra recebia propina até mesmo pelos pais. Anteriormente, o Gaeco já havia revelado que o tucano cobrava de 10% a 20% do valor do contrato a título de propina dos empresários que ganhavam licitações em Sidrolândia. Os crimes teriam sido cometidos quando Serra ocupava cargo de secretário municipal de Fazenda, na gestão da sogra, a ex-prefeita Vanda Camilo.
Pais recebiam propina para Serra
Conforme apurado pelo Gaeco, conversas entre Serra e Thiago Rodrigues Alves — intermediador das propinas junto às empreiteiras GC e AR — revelaram os dois combinando pagamento de propina.
Assim, em mensagens trocadas no dia 24 de julho de 2022, Claudinho pergunta se ‘amanhã está ok’.
Thiago responde que vai combinar com o Rosa (Edmilson Rosa — empresário) e agendar o horário. Depois, Serra diz que deve ser em Campo Grande.
No dia seguinte, o Gaeco aponta que Claudinho cobra a propina de Thiago, que diz que ‘vai resolver’ porque tem que ‘sacar um monte lá para fora’.

No dia 27, o relatório aponta que houve prévia combinação para que o dinheiro fosse entregue ao pai de Claudinho, Cláudio Jordão de Almeida Serra. Então, o político questiona Thiago: “Falou com meu pai?”.
Assim, Thiago informa que vai levar ‘tudo de uma vez’ e que vai ‘mandar uma mensagem para ele aqui’, referindo-se ao pai de Claudinho.
Claudinho, depois, demonstra interesse na entrega e pergunta se Thiago foi ao escritório do pai.
Logo, Thiago manda mensagem ao pai de Claudinho: “Boa tarde seu Cláudio. É Thiago, o senhor está pelo escritório? Tenho que levar encomenda do Claudinho, quero sabr onde é, que no máximo meia horinha to descendo pra ai”.
Mais à frente na conversa, Thiago manda uma foto e avisa Claudinho que está no local.
No dia seguinte, questiona se ‘nosso trem andou’.
Em outra ocasião, Thiago pergunta: ‘Vai deixar o negócio onde?’. Ao que Claudinho responde: ‘Meu pai’.
O Gaeco aponta diversas ocasiões em que o pai de Claudinho teria recebido propinas.
Noutra conversa, após Claudinho e Thiago comemorarem as medições de uma obra de asfalto, Claudinho pergunta se ‘ta pronto ja’.
Na sequência, Thiago responde: “Estou resolvendo já. Até umas 15h está no jeito” e pergunta: “Vai entregar td para o pai?”.
Depois, Thiago Rodrigues Alves manda áudio dizendo que está tentando articular, que o dinheiro do “pai” vai mais tarde. Cláudio Serra Filho, por sua vez, responde dizendo que o dinheiro do “meu pai” não tem hora.
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‘Laranja’ mandava dinheiro para a mãe de Claudinho

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Apontada como ‘laranja’ no esquema, Jacqueline Leiria enviava dinheiro para a mãe de Claudinho, Márcia Regina Flores Portocarrero Serra.
Para os investigadores, o movimento de enviar propina para a mãe do político era para ocultar o verdadeiro beneficiário do dinheiro ilícito: Claudinho Serra.
Assim, os investigadores concluíram: “A comprovação documental supra indica, portanto, que todo o trâmite licitatório para a contratação de empresa para a manutenção do cemitério municipal teve como objetivo real beneficiar Cláudio Jordão de Almeida Serra Filho”.
Município pagou por jazigos que nunca foram construídos
Os valores recebidos pela mãe de Claudinho, segundo o Gaeco, seriam referentes à contratação de empresa para manutenção do Cemitério Municipal de Sidrolândia, em contrato que também foi fraudado pelo grupo comandado pelo ex-vereador de Campo Grande.
Inclusive, delação premiada do ex-servidor municipal Thiago Basso revelou o esquema.
A empresa JL Serviços Empresariais e Comércio Alimentício Ltda recebeu R$ 160 mil para construir 400 túmulos que nunca foram feitos.
Conforme Thiago, a empresa foi contratada após carta-convite para serviço de seis meses de manutenção, dedetização e construção de jazigos. No entanto, a delação traz informações de que a manutenção continuou sendo feita por funcionários da prefeitura no cemitério.
Ainda, Thiago afirma que questionou o vereador licenciado de Campo Grande Claudinho Serra (PSDB) — genro da prefeita Vanda Camilo (PP) — sobre não ser melhor, então, a empresa colocar alguns funcionários uniformizados para ‘disfarçar’, obtendo como resposta que era para deixar o contrato do jeito que estava.
A reportagem não conseguiu contato com os pais de Claudinho Serra ou seus respectivos advogados. O advogado de Claudinho, Tiago Bunning, também não respondeu aos questionamentos da reportagem.
O espaço segue aberto para posicionamento.
4ª fase da Operação Tromper

O MPMS deflagrou a nova fase da operação após investigação descobrir que o esquema criminoso chefiado por Claudinho continuou mesmo após as fases anteriores.
Assim, essa nova etapa visa ao aprofundamento das investigações, que miram em fraudes em licitações e contratos administrativos da Prefeitura de Sidrolândia.
Além disso, são contratos milionários com empresas atuantes no ramo de engenharia e pavimentação asfáltica. Os contratos já identificados e objetos da investigação alcançam o montante aproximado de R$ 20 milhões.
Entretanto, o grupo apurou que a organização criminosa permaneceu ativa mesmo após a deflagração das operações anteriores e a aplicação de medidas cautelares.
Nessa nova fase, foram reunidos diversos elementos que comprovam o pagamento de enormes quantias de propina a agentes públicos. Ainda, os crimes de ocultação e dissimulação da origem ilícita de valores provenientes dos crimes antecedentes também foram descobertos.
As novas ‘batidas’ do braço investigativo do MP acontecem dois anos após a Tromper; ou seja, de lá para cá, foram três fases da operação, que revelou esquema de desvios milionários em contratos públicos na Prefeitura de Sidrolândia.
Claudinho Serra ocupou cargo de secretário de Fazenda, durante a gestão da sogra, a ex-prefeita Vanda Camilo. Faziam parte do grupo empresários e servidores, além do político.
Confira a lista de alvos, entre mandados de prisão e busca e apreensão:
- Cláudio Jordão de Almeida Serra Filho – ex-vereador de Campo Grande, ex-secretário de Fazenda de Sidrolândia e apontado como chefe do esquema;
- Mariana Camilo Serra – esposa de Claudinho Serra;
- Arielle Sousa – ex-secretária de Esportes, esposa do vereador Cledinaldo Cotócio (PSDB);
- Luiz Carlos Alves – ex-secretário de Saúde;
- Jonas Kachorroski – engenheiro e ex-chefe do setor de planejamento urbano (Deplan);
- Ivanir Rosane Dischkaln Areco, conhecida como “Baixinha” – diretora de Planejamento;
- Cezar Pereira de Queiroz – conselheiro tutelar empossado para o mandato 2024–2028;
- Barbara Fabricio Liçarassa – ex-chefe de compras e licitações da Secretaria de Saúde;
- Janderson Coimbra – servidor da antiga gestão de Vanda Camilo;
- Marcus Vinícius Rossentini de Andrade Costa – ex-chefe da Licitação;
- Thiago Rodrigues Alves – ex-servidor municipal;
- Carmo Name Júnior – assessor de Claudinho Serra;
- Cleiton Nonato Corrêa – empresário da GC Obras de Pavimentação Asfáltica (CNPJ 16.907.526/0001-90);
- Edmilson Rosa (Rosinha) – AR Pavimentação e Sinalização LTDA (CNPJ 28.660.716/0001-34);
- Vilma Cruz;
- Willian Guimarães;
- Godofredo G. Lopes;
- Lidiane Cunha;
- Sandra Aparecida;
- Jéssica Lemes Barbosa;
- Paulo Gonçalves;
- Jarhad Carmo.
Operação Tromper e fraudes em Sidrolândia
O esquema de corrupção sobre licitações da Prefeitura de Sidrolândia envolve empresários da cidade que fraudavam documentos das empresas concorrentes, para garantir que seriam as contratadas. Mesmo assim, sem estrutura, essas empresas terceirizavam os serviços pelos quais receberam milhões de reais do dinheiro público.
Conforme a peça que embasou a operação, o esquema de corrupção teria se iniciado em 2017. Desta forma, os empresários aproveitavam os CNPJs para participar das licitações, mesmo sem qualquer tipo de experiência, estrutura ou capacidade para executarem os serviços ou fornecimento nos contratos firmados.
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