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Transparência

Conta que não fecha nunca: Santa Casa amarga déficit mensal de R$ 13 milhões e deve R$ 250 milhões aos bancos

Todo mês, só de juros, maior unidade de saúde de MS paga em torno de R$ 5 milhões
Celso Bejarano -

Num ano fecha no vermelho; noutro, também.

É o retrato, por décadas, dos negativos relatórios financeiros anuais da Santa Casa de , maior e mais bem equipado hospital de , com 700 leitos. Presidente da suprema unidade de saúde estadual, Alir Terra Lima, disse que o déficit mensal do hospital oscila na casa dos R$ 13 milhões [R$ 156 milhões anuais], que deve R$ 250 milhões aos bancos e, todo mês, paga R$ 5 milhões, dinheirama que abate apenas os juros da conta.

Fosse uma empresa dominada apenas pela área privada, a Santa Casa de Campo Grande já tinha deixado a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e seguido para o seu último ato, o cemitério.

De 1990 para cá, por exemplo, período de 35 anos, quem por aqui mora já viu jornais estampando manchetes enunciando que, por falta de recursos, o pronto-socorro do hospital foi trancado com cadeado, atendimentos médicos interrompidos, enfermeiros fizeram ou ameaçaram com , cirurgias marcadas foram suspensas e até a concessionária de energia ameaçou a apagar as luzes da Santa Casa por atraso no pagamento das tarifas.

Em 2005, por conta dos seguidos tropeços financeiros, o hospital sofreu intervenção, situação que se arrastou por oito anos. E nada mudou. Nem prefeitura, nem governo estadual, federal e Ministério Público conseguiram sanar as contas.

Novos tropeços

Semana passada, médicos do hospital foram à polícia e disseram que, por falta de insumos, pacientes poderiam até morrer.

Seguiu o cenário negativo numa das últimas notícias da Santa Casa: o hospital briga judicialmente com a prefeitura por um repasse de R$ 46 milhões, dinheiro que, segundo a diretora do hospital, Alir Terra, resolve temporariamente a situação, como o pagamento de três folhas atrasadas da classe médica e ainda sobram recursos para a compra de insumos essenciais, como aparelho de pressão, seringas, luvas, lâminas de bisturi e agulhas hipodérmicas.

Alir Terra Lima é perita judicial, formada em Direito e foi a primeira diretora-geral do Tribunal Regional Eleitoral. Atualmente é a diretora da Santa Casa (Nathalia Alcântara, Midiamax)

A semana terminou com anúncio de repasse de R$ 25 milhões, quantia arrecadada por meio de emendas parlamentares de senadores e deputados federais sul-mato-grossenses. No entanto, o valor em questão captado pelos congressistas foi insuficiente para espantar a crise do hospital.

Alir Lima, advogada, ex-servidora da Justiça Federal, já aposentada, primeira mulher presidente do maior hospital, que completa 108 anos no mês de agosto, em entrevista exclusiva ao Midiamax, semana passada, revelou os motivos que justificariam as tantas intempéries financeiras que todo o ano afetam o hospital da Santa Casa, que tem como dona a Associação Beneficente de Campo Grande, entidade sem fins lucrativos.

Pelos números mostrados por Alir é possível presumir que o hospital deva seguir, por um tempo sem data para acabar, no vermelho. Isso confirma-se pelos indicativos dos empréstimos bancários que, por seguidas vezes, salvam a pátria do hospital. Confira a entrevista:

Presidente, a crise parece ter fincado o pé no prédio da Santa Casa há décadas e de lá não quer sair. Poderia comentar os motivos que justificariam essa tensão financeira?

“É necessário ter uma explicação disso. Porque sempre que a Santa Casa teve problema financeiro, ela recorreu a um empréstimo bancário para poder solucionar a questão. É como se fosse um cartão de crédito. Você ficou devendo mais e mais e mais e mais e mais. Então, o que você precisa hoje? Hoje você precisa ter um equilíbrio econômico-financeiro do contrato [com o SUS, Sistema Único de Saúde, de onde sai a parcela maior da arrecadação do hospital] porque grande parte dos nossos recursos, eles são consumidos por empréstimo bancário para suprir determinadas faltas como essa de agora, entendeu? Essa de agora [crise recente], por exemplo, nós poderíamos correr no banco, fazer o empréstimo e solucionar, não é do dia para a noite. Porque um empréstimo alto demanda muito tempo. Nós até tentamos um empréstimo, que ainda não saiu, mas a gente sempre fez empréstimo. E eu acho que essa prática não é saudável. Nós temos que sentar com os responsáveis pela saúde, sendo o município de Campo Grande, o governo do estado, os parlamentares federais, e alterar esse processo.”

Presidente, a senhora tocou aí num assunto que é a questão dos empréstimos, que salva o hospital em situações delicadas e que recorrer a esta prática “não é saudável”, qual é a dívida com os bancos?

E a presidente assim respondeu: “nós temos o valor estimado de uma média de mais de R$ 250 milhões, sendo que esse valor em empréstimo consignado já vem descontado em torno de R$ 5 milhões da folha que eu recebo. Já vem como se fosse um empréstimo consignado.”

Todo mês vem descontado?

“Todo mês já vem descontado, isso não é saudável para a instituição”, afirmou a presidente.

Outro inquérito

Mês passado, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) instaurou um novo inquérito para entender a origem das perturbações financeiras que atormentam o hospital.

Equipe financeira da Santa Casa informou ao MP que ano passado captou R$ 383,5 milhões, mas suas despesas somaram 542,4 milhões, um rombo de R$ 158,4 milhões.

Com um déficit deste tamanho, a chefe do hospital, Alir Lima, então, teria algum recado às pessoas que dependem do atendimento custeado pelo SUS?

“O meu recado para a sociedade de Campo Grande é que nós, da equipe Por Amor à Santa Casa [sociedade beneficente, dona do hospital], estamos fazendo uma gestão buscando tanto a expansão na área financeira da instituição Santa Casa de Campo Grande, que é um CNPJ particular e filantrópico. Estamos trabalhando com os governos municipal e estadual para equilibrar o contrato e estamos buscando outros braços de negócios e estamos trabalhando muito na área da economia da instituição. Eu posso te citar, por exemplo, e que por uma conversa muito boa com o senador Nelson Trad, do PSD, hoje a Santa Casa de Campo Grande tem uma estação fotovoltaica na chácara dela, lá em [cidade 30 km distante de Campo Grande]. Essa estação fotovoltaica trouxe uma redução no custo da energia elétrica, mais de 120, 130 mil mês, que dá mais de um milhão por ano. Então, nós estamos trabalhando na redução dos custos e na implantação de modernidades que não foram possíveis, não porque os outros gestores não quisessem em outra época, porque eles sempre quiseram buscar avanços. Mas que pelo fato da gente já pegar uma Santa Casa com uma determinada estrutura, nós estamos implantando várias ações que vão fazer essa Santa Casa ter uma cara diferente.”

Embora o entusiasmo pela economia com a conta de luz, e levando-se em conta que Alir revelou que o hospital deve aos bancos R$ 250 milhões e se o recurso em questão fosse para abater esta conta, precisaria de umas duas décadas para se livrar do tais empréstimos.

A Santa Casa capta dinheiro do SUS, do governo estadual, da prefeitura, das emendas parlamentares produzidas pelos congressistas de MS – senadores e deputados federais – e ainda pelo atendimento de pacientes particulares.

Alir disse ainda que o hospital deve robustecer o criado plano de saúde próprio, cujo número de associados e a atual arrecadação não foram revelados.

Criação de CPI

Semana passada, as contas da Santa Casa e uma provável criação de uma CPI motivaram debates entre os vereadores da cidade. Mas, se uma gestão compartilhada, MP não tiveram forças para conquistar um equilíbrio econômico, será que uma CPI alcançaria tal êxito?

A presidente da Santa Casa opinou:

“Olha, o vereador é o fiscal das atividades do município. Ele é eleito para defender o povo. Nós temos uma contratualização com o município. Eu acredito que o entendimento pela Câmara de Vereadores de como é essa contratualização, o déficit dela e o esforço da Santa Casa. Nós não temos problema nenhum em abrir as contas para serem verificadas. Eu acho que também não teríamos problema nenhum em uma auditoria. Porque ela ia trazer aquilo que conhecemos aqui dentro, que muitas vezes não é conhecido, do porquê desses déficits. Traria um benefício enorme para Santa a Casa de Campo Grande, entendeu? Porque daí as pessoas entenderiam o real custo de um hospital. Então, eu vejo o problema, nós recebemos um ofício pedindo informação, nós vamos dar todas as informações e estamos abertos. Eu acho que contribui com a população. Porque nós estamos aqui para salvar vidas. Essa é a nossa função. Nós fazemos filantropia para isso. Então, é necessário, sim, que a Câmara de Vereadores se preocupe com toda a saúde do município. E nós estamos abertos, não há problema nenhum”.

Número

A assessoria de imprensa da Santa Casa informou que o hospital atende, em média, 150 pacientes por dia, entre os quais crianças, adultos e gestantes, um total de 4,5 a 4,7 mil por mês.

Isso significa que o hospital atende em torno de 560 mil pacientes por não, entre eles, 70 por cento moram em Campo Grande e 30 por cento, no interior do Estado.

Ainda conforme a assessoria, “nenhum setor do hospital está fechado por falta de insumos. O que ocorre, na verdade, são restrições temporárias de atendimento, especialmente nas áreas cirúrgicas. As cirurgias eletivas que estão suspensas encontram-se nessa situação devido às dificuldades financeiras enfrentadas pela instituição”.

“Esse desequilíbrio financeiro tem gerado atrasos nos pagamentos de médicos e fornecedores, levando algumas equipes médicas, diante desses atrasos, a optar pela suspensão dos atendimentos eletivos. No entanto, reforçamos que os atendimentos de urgência e emergência continuam sendo realizados normalmente”, concluiu a assessoria.

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