Alvo de operações por desvios na SED (Secretária de Estado de Educação) e no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul), o ex-chefe de licitações do governo de Reinaldo Azambuja (PSDB), Marcus Vinícius Rossettini de Andrade Costa, foi escalado por Claudinho Serra (PSDB) para ajudar a operar esquema de corrupção em Sidrolândia, cidade a 70km de Campo Grande.
No início deste mês, Marcus constou na relação de mais uma investigação. Endereços ligados a ele foram alvo de busca e apreensão pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), durante a 4ª fase da Operação Tromper, que revelou esquema de desvios milionários chefiados por Claudinho Serra, tratado como pupilo dentro do PSDB.
Conforme relatório de investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) o qual o Jornal Midiamax teve acesso, o fato de já possuir antecedentes criminais preocupou Marcus.
No entanto, ao receber convite para exercer o mesmo cargo, de chefe de licitação, ele teria informado ao ‘chefe’, Claudinho Serra — segundo o Gaeco —, sobre seu passado envolvendo escândalos de corrupção quando atuou na gestão de Reinaldo no governo do Estado.
Porém, o tucano, que estava ‘formando seu time’ antes de assumir a Secretaria de Fazenda na prefeitura de Sidrolândia — que tinha sua sogra, Vanda Camilo, como prefeita —, tranquilizou Marcus.
“Meu amigo vc tem toda a nossa confiança“, responde Claudinho, completando que irá manter essa informação em sigilo “Vamos manter isso no máximo sigilo para que as pessoas que não gostam da gente, não explorarem”.
Por fim, Claudinho Serra fecha a aliança com Marcus: “E fique tranquilo, vc já é do time, n abandonamos parceiro por nada”.
Então, Marcus encaminha as mensagens de Claudinho para a esposa, já que havia compartilhado com ela a preocupação se o fato de possuir antecedentes criminais seria um problema. “Olha o que ele falou pra mim. Deus está colocando pessoas boas em nossas vidas”, finaliza Marcus.

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Mesmo cargo: elo entre esquemas
A atuação de Marcus na coordenadoria de licitações de Reinaldo ocorreu na mesma época em que Édio Antônio Resende de Castro estava como adjunto da SED (Secretaria de Estado de Educação), que, por sua vez, também foi alvo de duas operações (Vox Veritatis, da PF, e Turn Off, do Gaeco), as quais revelaram esquemas de fraudes em licitações na gestão Reinaldo.
Alvo de diversas operações contra corrupção nos últimos anos, Marcus também enfrenta denúncia por corrupção por fraude em licitações do HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) na época do então governador, Reinaldo Azambuja (PSDB).

Canetada na gestão Reinaldo
Como secretário especial e superintendente de Gestão de Compras e Materiais, Marcus Vinícius acolhia o parecer e acatava os recursos no mesmo dia da emissão do parecer. O modus operandi se repetiu em algumas ocasiões.
As empresas Max Limp Produtos para Limpeza Ltda e Mega Comércio de Produtos Hospitalares Eireli, alvos da Operação Clean, de 2021, só venceram a licitação investigada depois que a SAD (Secretaria de Estado de Administração e Desburocratização) atropelou leis e acatou recursos administrativos das duas.
Admitido em junho de 2017, Rossettini de Andrade deixaria o comando da Sucomp em dezembro do ano seguinte. Mesmo com o histórico de investigações, em julho de 2021, a então prefeita de Sidrolândia, Vanda Camilo, nomeou Marcus Vinícius.
Além disso, Marcus também já teria respondido por suspeitas de fraudes em licitações enquanto servidor público em Jardim, entre 2009 e 2010.
À reportagem, a defesa de Marcus, representada pela advogada Jennifer dos Reis, afirmou que o processo se encontra em fase de instrução e não há elementos que indiquem o envolvimento de Marcus em práticas ilícitas.
Segundo a defesa, ele faz parte do processo por ocupar, na época, o cargo de superintendente de licitação.
A reportagem acionou novamente a defesa para se manifestar sobre o relatório do Gaeco, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.
Laços com a cúpula do PSDB e mandato após acordo político

Tratado como pupilo de lideranças tucanas nas eleições de 2020, Claudinho havia conquistado apenas 3.616 votos, ficando só com a 2ª suplência do PSDB. Nas investigações, nomes de então dirigentes do PSDB, como Sérgio de Paula, foram flagrados em anotações apreendidas em empreiteira.
Dessa forma, ele só assumiu após uma sequência de situações. A primeira, com o titular do mandato, João Cesar Mattogrosso, assumindo cargo no governo do Estado. Assim, o 1º suplente, Ademir Santana, foi chamado. Depois, o vereador João Rocha assumiu também um cargo no governo. Então, Claudinho assumiu como suplente em maio de 2023.
Por fim, conseguiu o mandato em definitivo quando Ademir Santana renunciou ao cargo alegando que deixava a vaga para a qual foi eleito para se dedicar à campanha eleitoral do PSDB. Ademir renunciou e entregou a vaga para Claudinho um mês antes da deflagração da Operação Tromper.
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O nome do secretário Sérgio de Paula, que já esteve à frente da Casa Civil, aparece em um dos cadernos apreendidos na empreiteira AR Pavimentação e GC Obras, localizadas no mesmo endereço.
As duas empreiteiras são implicadas na Tromper, acusadas de fraudar licitações de obras em Sidrolândia.
O nome ‘Claudinho’ também está na página de um dos cadernos. Já o nome de Sérgio aparece em uma página que trata de documentos para obras em Aquidauana e Sidrolândia, além de valores. O Midiamax tentou contato com o secretário para saber que tipo de vínculos ele teria com os investigados e porque acha que seu nome está no material apreendido.
Em resposta, a defesa de Sérgio de Paula encaminhou uma nota em que nega os fatos mencionados, mas que se coloca à disposição das autoridades para esclarecimentos. Na frente do nome aparece o valor ‘500.000,00′.

Já o nome de Sérgio aparece em uma página que trata de documentos para obras em Aquidauana e Sidrolândia, além de valores. O Midiamax tentou contato com o secretário para saber que tipo de vínculos ele teria com os investigados e porque acha que seu nome está no material apreendido.
Em resposta, a defesa de Sérgio de Paula encaminhou uma nota em que nega os fatos mencionados, mas que se coloca à disposição das autoridades para esclarecimentos. Vale ressaltar que Sérgio de Paula não consta como investigado na operação.
Preso na Operação Tromper

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Dentro da administração de Sidrolândia, Rossettini foi preso na terceira fase da Tromper, em abril de 2024. Esta operação também prendeu o ex-vereador Claudinho Serra, apontado como o líder do esquema criminoso na gestão da sogra, Vanda Camilo.
A prisão no bojo da Tromper rendeu a Marcus a exoneração logo após a operação, em Sidrolândia. Com as primeiras fases, a investigação identificou a organização criminosa voltada para fraudes em licitações e contratos administrativos com a Prefeitura de Sidrolândia.
O MPMS aponta na denúncia que o grupo criminoso agia para fraudar e direcionar licitações em Sidrolândia, favorecendo-se. Com isso, desviava valores desses contratos para os investigados. Claudinho, então secretário de Fazenda do município, seria mentor e teria cooptado outros servidores.
Agora, Marcus também foi implicado na 4ª fase, como alvo de busca e apreensão pelos agentes do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e Gaeco.
O MP identificou que a organização continuou atuando mesmo após as operações. Assim, Claudinho e outros dois alvos foram presos.
Sobre a 4ª fase da Tromper, a advogada confirmou que Marcus foi alvo de busca e apreensão, mas que não descumpriu as medidas cautelares, por isso não houve a prisão dele. “[A operação] Teve como objetivo novas transações descobertas em relação aos réus, a quem é imputado que tenham mantido operações ilegais mesmo durante o cumprimento de medidas cautelares, como uso de tornozeleira”, afirma.
Em relação às investigações das fases anteriores da Tromper, a defesa diz que Marcus responde em liberdade provisória, com tornozeleira eletrônica. Recentemente, o TJMS manteve as medidas cautelares aos investigados, incluindo Marcus.
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