O secretário de obras de Terenos – a 31 km de Campo Grande -, Isaac Cardoso Bisneto, preso por corrupção durante a gestão do prefeito Henrique Budke (PSDB), teve pedido de HC (habeas Corpus) negado liminarmente (provisoriamente).

Ao negar o pedido, o relator do caso, desembargador Luiz Cláudio Bonassini da Silva destacou que a manutenção da prisão preventiva do secretário é fundamental, visto que “a ordem pública estaria resguardada com a prisão preventiva do representado para se evitar a reiteração de condutas criminosas dessa natureza (contra a Administração Pública), já que ele é o Secretário Municipal e foram demonstrados indícios de frustração de procedimentos licitatórios em mais de uma oportunidade, todos envolvendo os empresários alvos desta investigação”.

Ainda, a defesa de Isaac tentou lançar a mesma tese que anulou as decisões da Operação Laços Ocultos que revelou esquema de fraudes em licitação em Amambai (comandada pelo vereador do PSDB, Valter Brito da Silva). Naquele processo, advogado de um dos investigados afirmou que operações comandadas pelo Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) devem ficar nas mãos de uma das Varas Criminais de Campo Grande.

No entanto, o magistrado considerou que o outro caso – o qual ele também foi o relator – é diferente. “Nesta fase processual, resta impossível aplicar o entendimento firmado naquela ocasião, por várias razões”. Acrescentou, ainda, que o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) recorreu daquela decisão.

Contudo, em documento anexado ao processo, Isaac pede a desistência da ação. Ainda, por ocasião da mudança de advogado, que deve tentar nova estratégia para tirar o secretário da prisão.

Dessa forma, nesta terça-feira (20), o secretário completará uma semana preso. Apesar de preso, ele ainda permanece no cargo de confiança do prefeito tucano.

Saiba mais – Empreiteiros tinham ‘irmandade’ para manterem revezamento de licitações na gestão do PSDB em Terenos

A reportagem do Jornal Midiamax questionou o prefeito Henrique Budke sobre exoneração de Isaac, mas não obtivemos resposta. O espaço segue aberto para manifestação.

Um dos investigados é conduzido para a delegacia de Terenos durante a Operação Velatus (Nathália Alcântara, Jornal Midiamax)

Secretário ajudava empreiteiros ‘parceiros’

Conforme apurado pelo Jornal Midiamax, o secretário de obras teria aderido a suposto esquema de corrupção entre empresários investigados. Então, estaria recebendo propina em nome do pai.

Assim, investigação do MPMS obteve planilhas e comprovantes de Pix para o pai de Isaac, que recebeu R$ 21 mil de Cleberson, R$ 2 mil de Sandro e da empresa Angico – vencedora da licitação. Todas constam na planilha denominada “Finalizado – Thiago Calçadas”.

De acordo com mensagens extraídas do aparelho de Isaac, o secretário mostrou preocupação a Hander Grote Chaves (HG Empreiteira), que não estava conseguindo uma documentação com o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de MS) para participar de licitação dada como certa.

Empreiteiro investigado por corrupção na gestão do prefeito do PSDB, Henrique Budke, após deixar delegacia (Nathália Alcântara, Jornal Midiamax)

“Eu to achando que ele não vai conseguir participar de uma licitação que era para ele ganhar um negócio de 280 mil, porque o CREA descobriu que teve esse aditivo, e tá cobrando de ter um atestado e ter um ART complementar disso aí”, disse Isaac.

Empecilhos para quem estava fora do esquema

As investigações apontam que Isaac também atuava de forma a dificultar a participação de empresas fora do esquema nas licitações. Para isso, contou com ajuda de um servidor de sua confiança da pasta de obras:

Servidor (não identificado pelo Gecoc) – Essa analítica, em relação à licitação, orienta assim: não deixa disposição em excel no arquivo pra baixar lá no edital que dificulta até pras empreiteiras, ai ve qual que é a empreiteira mais (ininteligível) … aí a gente manda Excel pra essas, as outras tem que fazer, se quiser. É uma ideia.
Isaac – Dificulta um pouquinho pras empresas montarem

Em outro áudio, outro homem não identificado sugere a Isaac a inversão da ordem de abertura de envelopes para evitar a inabilitação de ‘colegas’, que ainda estavam providenciando documentação para ganhar licitações direcionadas.

São investigados os empreiteiros: Sandro José Bortoloto (Angico), Genilton da Silva Moreira (Genilton Moreira), Sansão Inácio (Sansão Inácio Rezende Eireli), Hander Luiz Corrêa Grote Chaves (HG empreiteiro) e Cleberson José Chavoni Silva (Bonanza). Tiago se enquadra tanto como servidor quanto como empreiteiro nas investigações, por também ter se favorecido de sua empresa, a D’Aço Construção e Logística.

Empreiteiros investigados somam R$ 11 milhões em contratos na gestão do PSDB em Terenos

Os empresários somam mais de R$ 11 milhões em contratos com o município, a 30 quilômetros de Campo Grande. As contratações são dos últimos quatro anos, durante a gestão municipal do PSDB.

As empresas dos investigados possuem contratos no ramo de engenharia e obras. Conforme apurado no Portal da Transparência, as contratações começaram em 2021, após posse do prefeito Henrique Wancura Budke (PSDB).

A reportagem tentou contato com o prefeito Henrique Budke (PSDB), que não atendeu as ligações nem respondeu às mensagens – todas devidamente documentadas. O espaço segue aberto para posicionamento.

Tiago também foi procurado pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos.

Os empreiteiros Sandro e Cleberson também foram procurados pela reportagem através de e-mail oficial cadastrado na Receita Federal – com mensagens devidamente documentadas. No entanto, não obtivemos resposta até esta publicação.

O espaço segue aberto para posicionamentos que podem ser incluídos após a publicação deste material.