Inquérito investiga golpe que teria deixado investidores com prejuízos de R$ 10 milhões em Campo Grande

Plataforma que prometia altos rendimentos ‘sumiu’ e deixou investidores sem retorno

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Investidores alegam prejuízo de R$ 10 milhões após plataforma 'sumir' (Ilustração Freepik)

Inquérito conduzido pela 25ª Promotoria de Justiça apura suposto golpe que teria deixado prejuízo que pode chegar na casa dos R$ 10 milhões a investidores de Campo Grande. Além disso, correm processos na Justiça de Mato Grosso do Sul e Santa Catarina sobre o caso.

O caso foi denunciado ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) por investidores que afirmam terem aplicado recursos financeiros através da plataforma da Global Holding, por meio da empresa Ademicon, para aplicações em corretoras como a InvestX. No entanto, não conseguiram reaver os valores investidos, bem como os rendimentos.

Conforme consta nos autos, o grupo de investidores foi chamado para fazer parte da plataforma, em agosto de 2022, por Maurélio Obenaus, que se apresentava como consultor da Ademicon – empresa de consórcios -.

Na denúncia, constam nove pessoas se apresentando como vítimas. No entanto, o número pode ser maior.

Promessa de altos rendimentos

Como consultor da empresa de consórcio por anos, Maurélio teria grande rede de contatos de pessoas com valores disponíveis para investimentos como pecuaristas e empresários.

Dessa forma, convidava esses potenciais investidores a aplicar recursos em uma nova plataforma, usando o nome da Ademicon, para dar mais credibilidade.

Conforme consta na denúncia, ele iria administrar uma carteira de investimentos da Global Holding, para aplicações em corretoras como a InvestX.

A promessa era ousada, mas nem tanto. A supostas vítimas eram convencidas a aplicar grandes quantias para terem retorno de cerca do dobro do CBD, que é considerado muito osado por alguns especialistas ouvidos pela reportagem.

Saques começam a atrasar e sonho de investimento desmorona

Os investidores tinham acesso a uma plataforma em que poderiam acompanhar seus investimentos. Ainda, poderiam resgatar os rendimentos a cada três meses.

O resgate do valor total investido só seria liberado a partir de 12 meses depois.

O problema começou em novembro de 2023, quando a plataforma começou a atrasar os repasses dos rendimentos aos investidores. Até que em determinado momento, a empresa passou a não atender aos pedidos de saques. Um mês depois, o CNPJ da empresa é encerrado, conforme a Receita Federal por “encerramento liquidação voluntária”.

Indiciamento por estelionato

Consta nos autos do processo no MPMS o indiciamento feito pela PF (Polícia Federal) contra Maurélio pelo crime de estelionato.

Então, a PF decidiu indiciar Maurélio após investigações apontarem que ele teria apresentado atestado médico falso ao Santander, banco em que trabalhava em Santa Catarina.

Ficou comprovado a falsidade do documento, bem como Maurélio já estava atuando como consultor da Ademicon enquanto estava afastado por licença médica pelo banco.

Um grupo de investidores chegou a ser procurado por Maurélio para ingressarem juntos com uma ação contra a Global, já que ele alegava também ser vítima da empresa.

No entanto, quatro investidores desistiram do processo. Outros três, inclusive Maurélio, foram intimados a manifestar interesse na continuação da ação, o que ainda não ocorreu.

Maurélio diz ser vítima

À reportagem do Jornal Midiamax, o advogado de Maurélio, Stephan Darcie, enviou nota alegando que seu cliente também foi vítima do grupo Global.

“A tentativa de atribuir a responsabilidade pelas práticas do grupo Global/Valorama consiste em uma busca irresponsável por uma fonte alternativa de ressarcimento civil. Essa imputação é objetivamente falsa, contraria procedimentos investigatórios oficiais, conduzidos pelas autoridades de outros estados, e apresenta caráter calunioso e difamatório, o que já está motivando a adoção de todas as medidas policiais e judiciais cabíveis contra os envolvidos”, diz a nota.

Ainda conforme o advogado, Maurélio compareceu ‘espontaneamente’ ao MPMS “antes mesmo de qualquer intimação para auxiliar nas investigações e nos colocar à disposição das autoridades”, explica.

O advogado diz que Maurélio também teria feito aportes significativos na plataforma. “O Maurélio creio que tenha sido um dos primeiros prejudicados a ingressar com ação contra o grupo Global/Valorama, buscando reaver esses valores (processo n. 0820795-44.2024.8.12.0001, comarca de Campo Grande/MS). O MP do RJ iniciou uma investigação (MPRJ n. 2024.00544879), apontando o Maurélio como uma das vítimas desse golpe. Foi distribuído inquérito em SC (5015409-37.2024.8.24.0036), apontando Maurélio como uma das vítimas.
Então a condição de vítima dele, de lesado, está amplamente documentada, e é reconhecida em procedimentos de investigação anteriores a esse”.

A reportagem tentou contato com a Global Holding, mas sem sucesso. A Ademicon também foi procurada pela reportagem, mas não obtivemos retorno até a publicação da matéria. O espaço segue aberto para posicionamentos.

Posicionamento

Após a publicação da matéria, a Ademicon se manifestou e informou que não manteve relacionamento com as empresas mencionadas. “A Ademicon Administradora de Consórcios S.A., com operações regularmente fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil, esclarece que nunca manteve nenhum relacionamento comercial ou de parceria com as empresas Valorama, Global Holding e/ou InvestX”, informou em nota.

Assim, ressaltou que “as unidades de negócio licenciadas da Ademicon, bem como os seus consultores, estão autorizadas a comercializar exclusivamente produtos e serviços da marca Ademicon”.

“Por fim, esclarece que não possui nenhum vínculo com as atividades relatadas realizadas pelo Sr. Maurelio Obenaus, bem como os atos denunciados perante o Ministério Público de Mato Grosso do Sul não se referem aos produtos e serviços da marca Ademicon”, finalizou na nota.

*Matéria alterada às 17h38 para acréscimo de posicionamento da parte.