O empresário Milton Matheus Paiva Matos, réu por integrar grupo criminoso que operou esquema de corrupção em Sidrolândia – município distante 70 km de Campo Grande – chefiado por Claudinho Serra (PSDB), tenta se livrar de medidas cautelares.

Ele é proprietário da empresa 3M Produtos e Serviços LTDA e advogado. Então, com base nisso, Milton – que advoga em causa própria – pediu à Justiça para ficar livre de duas obrigações impostas como condicionantes para ficar livre da prisão:

Permitir que deixe Sidrolândia sem autorização da Justiça.
Suspender a obrigatoriedade do recolhimento domiciliar das 20h às 6h, inclusive aos fins de semana e feriados.

Conforme o pedido, Milton alega que precisa se deslocar do município onde mora para atender clientes em outras cidades. Logo, alega que precisa dessas flexibilidades para exercer sua função.

O juiz Fernando Moreira Freitas da Silva, da Vara Criminal de Sidrolândia, vai analisar o pedido.

Empresário diz ser ‘vítima de coincidências’

Ainda, no início de julho, Milton apresentou alegações finais ao processo. Ele alega que todas as acusações apresentadas pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) contra ele seriam apenas ‘coincidências’ e não suficientes para culpá-lo.

Conforme a peça anexa aos autos, o proprietário da empresa 3M Produtos e Serviços LTDA indica falta de ‘provas concretas’. Para isso, diz que o fato do escritório de sua empresa ser no mesmo endereço da empresa do empresário Ricardo José Rocamora – que seria o principal operador do esquema – e o fato de documentos de Rocamora serem encontrados no armário da sala da empresa 3M seriam apenas ‘coincidências’.

“Seria o réu culpado também se todos moras-sem no mesmo bairro? O que temos aqui é uma coincidência de endereço, nada mais […] Não é moralmente exigível esperar que todo empresário que alugue um imóvel verifique cada gaveta, cada armário e cada canto para evitar ser acusado de crimes”, alega o advogado, que atua em causa própria.

Para o empresário, as acusações não podem se basear em “proximidade geográfica e a herança de um armário com arquivos velhos. Exige provas, fatos, evidências sólidas. E isso, claramente, não foi apresentado”.

No documento do MPMS, consta que “Ana Cláudia Alves Flores afirmou que a empresa 3M [pertencente ao servidor Milton Paiva] e a empresa Rocamora tiveram o mesmo lance. Para desempatar, ela solicitou que Ricardo Rocamora reduzisse o lance de sua empresa em um centavo. Ele assim o fez para que a outra empresa ganhasse, demonstrando o vínculo dessas empresas com a organização criminosa”.

Além disso, a empresa teve o montante de R$ 532.735,60 bloqueados, além da restrição de venda do veículo GM S10 2.8. O mesmo valor também foi bloqueado da conta pessoal de Milton, além da restrição de veículo em seu nome: Toyota Corolla Altis.

Denúncia de fraude na compra de carne para indígenas

A apuração do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) apontou que Milton Paiva e o ex-chefe de compras de Sidrolândia, Tiago Basso, teriam articulado a emissão de notas fiscais para compra de carne para indígenas e os respectivos pagamentos, para fins pessoais e de terceiro, por meio da Prefeitura Municipal e da Fundação Municipal Indígena.

Na divisão de tarefas, o advogado Milton Paiva ficaria responsável pela gestão dos recursos vindos da Prefeitura para a Fundação Indígena, mesmo não tendo vínculo com a municipalidade, enquanto o servidor Tiago Basso seria o responsável pela arrecadação e pelo gerenciamento da propina. 

Dados extraídos do celular de Milton Matos mostram uma planilha nomeada como “Financeiro” que faz menção em duas abas (Josimar, Claudinho) a valores que seriam destinados a Claudinho Serra e Tiago Basso da Silva. 

Conforme investigação do MP, o grupo teria usado a empresa SH Informática (Taurus) para fazer o provável desvio de recursos da Fundação Indígena. Em um troca de mensagens, Milton Paiva teria orientado como deveria ser feito o repasse para beneficiar Cláudio Serra Filho. 

“O único problema é o Tiago querer ficar passando Taurus pro Cláudio através do Josimar, da Fundação Indígena, isso aí não dá, né, mas exemplo, hoje tem cinquenta mil, se esses cinquenta mil ficasse quieto lá, todo mês fosse passando dez, passando quinze beleza, rapidão mata”, diz o áudio.