Beto Pereira tenta censurar notícias do Midiamax sobre corrupção no Detran-MS, mas juiz nem acolhe pedido

Apontado por comparsa como chefe do esquema de fraude no Detran-MS, Beto Pereira tentou tirar Midiamax do ar até depois do segundo turno

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Juiz sequer acolhe pedido de Beto Pereira para tentar barrar notícias do Jornal Midiamax sobre corrupção no Detran-MS (Arquivo, Jornal Midiamax)

A Justiça Eleitoral sequer acolheu pedido feito pelo candidato do PSDB à prefeitura de Campo Grande, Beto Pereira, que tentava tirar do ar as reportagens jornalísticas do Jornal Midiamax sobre participação do candidato no escândalo de corrupção no Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul).

A ação é mais uma tentativa de censura do candidato do PSDB contra o Jornal Midiamax. Beto também usou um papel assinado pelo PGJ do MPMS para tentar desqualificar as denúncias. No entanto, apesar de espalhar em jornais parceiros da campanha eleitoral do PSDB que o MPMS teria ‘enterrado’ a denúncia, na verdade, o pedido de delação está em tramitação por despacho do próprio procurador-geral.

Beto Pereira tentou proibir Midiamax de noticiar sobre denúncias no Detran-MS

Dessa forma, Beto Pereira tentou impedir o jornal de noticiar as denúncias feitas em vídeo pelo despachante David Cloky Hoffaman Chita, que aguarda resposta do MPMS (Ministério Público de MS) sobre pedido de delação premiada.

O despachante, que confessou operar no esquema, alega que órgãos de investigação de Mato Grosso do Sul estariam agindo deliberadamente para blindar políticos implicados no caso. Assim, ele quer formalizar um acordo de colaboração e garante que tem provas para mostrar que Beto Pereira seria o verdadeiro chefe do esquema de corrupção no Detran-MS.

Para tentar barrar a veiculação das notícias, Beto Pereira ameaçou com uma multa de meio milhão de reais, além do pedido para que Jornal Midiamax fosse ‘tirado do ar’ até o dia 28 de outubro, um dia após o 2º turno das eleições. A defesa de Beto Pereira ainda pediu para que a Justiça proíba a reportagem de “veicular notícias de qualquer natureza sobre o candidato Beto Pereira até o fim do pleito eleitoral”.

No entanto, o juiz eleitoral Ariovaldo Nantes Corrêa sequer acolheu o pedido.

“Prejudicado o exame das medidas cautelares pretendidas em razão da incompetência absoluta deste juízo”.

Vale ressaltar que Beto Pereira também já havia tentado impedir o Jornal Midiamax de divulgar notícias sobre contas reprovadas pelo TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado) referentes ao período em que foi prefeito de Terenos – município de 17 mil habitantes a 31 km de Campo Grande – e também não obteve sucesso.

Para justificar o fato de ser citado como chefe da organização que desviou dinheiro do Detran-MS cobrando propina de motoristas de donos de veículos, Beto alega que as reportagens seriam ‘fake news’ e teriam motivação eleitoral.

Corrupção no Detran-MS: pauta antiga e operações com suspeita de blindagem

No entanto, o Jornal Midiamax há vários anos investiga inúmeras denúncias de corrupção no Detran-MS. Várias delas provocaram operações policiais e levaram até ao indiciamento de servidores, como o primo de Beto Pereira e ex-prefeito de Rio Negro, Joaci Nonato Rezende, réu por corrupção justamente junto com o despachante que agora resolveu delatar Beto Pereira e outros políticos.

Segundo David Chita, as operações seriam sempre orquestradas para ‘dar satisfação à opinião pública’ e salvar a pele dos poderosos implicados. Por isso, ele alega que resolveu falar enquanto está foragido da justiça e diz que corre risco de morte caso ‘caia’ numa prisão em Mato Grosso do Sul.

Hoffaman também revelou que outra prima de Beto Pereira, Priscila Rezende de Rezende, içada ao posto de diretora de registro de veículos no Detran-MS assim que o deputado federal do PSDB o chamou para trabalhar juntos, ajudaria a blindar o esquema dentro do órgão estadual.

Em todas as etapas da apuração jornalística, a reportagem do Jornal Midiamax sempre acionou todos os citados pelo despachante foragido, como é praxe.

Leia também – Justiça enterra tentativa do PSDB de censurar notícias sobre ‘contas sujas’ de Beto Pereira no Midiamax

Prints mostram assessor chamando Beto de ‘chefe’ em conversa sobre corrupção no Detran-MS (Reprodução)

Despachante foragido diz que tem como provar tudo ‘se MPMS quiser’

David fez oficialmente no último dia 24 um pedido de acordo de colaboração e afirma que, com a delação, poderia ajudar o MPMS a chegar aos poderosos por trás do esquema de corrupção no Detran-MS.

No requerimento formalizado ao MPMS, Hoffaman afirma que tem provas que implicam agentes políticos, autoridades e servidores públicos.

Em entrevista ao Jornal Midiamax, o despachante adiantou que tem um extenso rol de provas como trocas de mensagens, conversas gravadas, vídeos, fotos e até comprovantes de Pix que comprometem os integrantes do grupo e confirmam Beto Pereiro como o chefe do esquema.

Na semana passada, o Jornal Midiamax revelou que David propôs pedido de colaboração premiada ao MPMS. O requerimento foi encaminhado pelo PGJ (Procurador-Geral de Justiça), Romão Ávila Milhan Júnior, ao Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção).

Apesar de o Jornal Midiamax ter solicitado informações ao MPMS sobre o andamento do requerimento desde a manhã da última quinta-feira (26), o órgão se mantém calado. No entanto, neste fim de semana, estranhamente, ‘vazou’ cópia do ofício do PGJ, datado do dia 27 de setembro, para veículos ligados à campanha de Beto Pereira.

No documento, ao afirmar não ser de atribuição do PGJ, Milhan alega que não viu fato novo, mesmo com o pivô das operações dizendo que existe um conluio entre o MPMS, delegados e políticos para blindar o suposto chefe do esquema, que seria Beto Pereira. “Não há indicação de qualquer fato e de qualquer pessoa com prerrogativa de foro que traria atribuição a este PGJ para análise“, diz ao encaminhar o requerimento de colaboração premiada ao Gecoc.

David revela detalhes de como Beto Pereira comandou esquema de corrupção no Detran-MS (Reprodução)

Ainda, durante o fim de semana, ‘vazou’ suposto ofício em que Beto Pereira pede ao Promotor de Justiça, Fábio Ianni Goldfinger, que ateste se há investigação contra o candidato em processos relacionados à denúncia de Chita, sendo que o ofício do PGJ foi encaminhado ao Gecoc – comandado pelo promotor Adriano Lobo Viana de Resende.

Titular da 30ª Promotoria de Justiça, Goldfinger assumiu a promotoria em setembro de 2020, após seu antecessor, Marcos Alex Vera de Oliveira, bater de frente com a cúpula do PSDB. No mesmo dia da troca, o Conselho Superior do MPMS arquivou reclamação contra o filho do ex-governador Reinaldo Azambuja – presidente do PSDB em MS.

Apesar de a reportagem ter acionado o MPMS oficialmente desde quando tomou conhecimento do fato, até o momento o órgão não se manifestou sobre o pedido de acordo de colaboração que, segundo o réu foragido, poderia colocar ‘peixes graúdos’ na mira da justiça.

O procurador-geral de Justiça de MS, Romão Avila Milhan Junior, encaminhou o documento para análise do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção).

A reportagem acionou novamente o MPMS para se manifestar sobre o vazamento de documentos e sobre o posicionamento do PGJ. No entanto, não obtivemos resposta até esta publicação.

David: Propina do Detran-MS para caixa 2 na campanha de Beto Pereira

Oficialmente, Beto Pereira continua calado sobre as acusações. Ele não respondeu nenhuma das tentativas de contato da reportagem e foi às redes sociais dizer que a denúncia é eleitoreira. No entanto, Beto nunca ousou negar publicamente as acusações detalhadas e muito menos rebater as informações já liberadas por David Chita.

Então, David teria sido ‘recrutado’ por Beto para atuar em conluio com servidores do Detran-MS no esquema e repassar o dinheiro sujo diretamente a pessoas ligadas à organização do ‘caixa não-oficial de campanha’ do PSDB para chegar à Prefeitura de Campo Grande.

Então, ficaram combinados repasses mensais a três pessoas tratadas como a cúpula do esquema criminoso. Em troca, Beto Pereira supostamente atuou para facilitar a operação com nomeações dentro do Detran-MS, acesso à cúpula da Polícia Civil e da Casa Civil para ‘blindar’ a operação.

Segundo David Hoffaman afirma, o chefe, Beto Pereira, supostamente recebia R$ 30 mil todo dia 10. Já seu assessor e braço direito à época, Thiago Gonçalves, seria responsável por negociar e articular em nome do ‘chefe’ e, ainda segundo David, receberia R$ 20 mil todo dia 30.

Por fim, o então diretor-adjunto do Detran-MS, Juvenal de Assunção Neto, receberia R$ 20 mil no dia 20.

“E tem muito mais. O que estou contando para vocês não é nem 30% de tudo que eu sei. Tem muito mais coisas que podem aparecer se quiserem investigar e se não me matarem antes”, alerta Hoffaman.

Além dos pagamentos fixos, David conta que ainda repassava uma comissão por cada documento fraudado. Segundo ele, mais de R$ 1,2 milhão de reais foram repassados ao grupo chefiado pelo deputado federal no período em que o esquema criminoso operou.

“Beto [Pereira] sempre foi o chefe, nada era feito sem autorização dele”, reforça David Cloky Hoffaman Chita.

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