Advogado executado e lobista com influência em MS são elo com desembargadores alvos da PF em MT

Relatório com mais de 9 mil páginas é base para operações da PF contra venda de sentenças em MT e MS

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Desembargadores do MT investigados pela PF por venda de sentenças (Reprodução)

A PF (Polícia Federal) realiza nesta terça-feira (26) nova operação contra desembargadores do Mato Grosso em investigação sobre venda de sentenças. A ação no estado vizinho tem ligação importante com a Operação ‘Ultima Ratio’, deflagrada em 24 de outubro em MS: as duas ocorrem após extração de dados do advogado executado Roberto Zampieri.

Equipes cumprem mandados nas casas dos desembargadores do MT, Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho. Os dois já estavam afastados desde agosto por decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Conforme apurado pela reportagem, a operação desta terça-feira ocorre após dados extraídos do celular de Zampieri. O advogado foi executado com 10 tiros em frente ao próprio escritório, em dezembro de 2023. A polícia indiciou um fazendeiro como mandante do crime. Ele perdeu processo milionário em que Zampieri atuou como advogado da parte contrária.

Roberto Zampieri foi executado após atuar em caso de disputa de terras em MT (Reprodução)

Dessa forma, Zampieri é o pontapé inicial das investigações sobre venda de sentenças que ultrapassou os limites estaduais e já alcançou o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e tem citações até mesmo no STF (Supremo Tribunal Federal).

Assim, cinco desembargadores do TJMS foram afastados: o atual presidente, Sérgio Fernandes Martins, o eleito para comandar o Tribunal a partir do ano que vem, Sideni Soncini Pimentel, Vladimir Abreu da Silva, Alexandre Aguiar Bastos e Marcos José de Brito Rodrigues.

Em relação à investigação em MS, o caso pode envolver integrantes do STJ e, por esse motivo, o processo está no Supremo, com relatoria no ministro Cristiano Zanin. No entanto, as informações dão conta de que a ação está travada por lá.

Relação de Zampieri com lobista que atuava em MS

Como dito, tudo começou com a extração de dados do celular de Zampieri após sua morte. Daí, conversas com o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves vieram à tona, indicando um possível esquema de venda de sentenças.

Andreson de Oliveira Gonçalves (Reprodução, Redes sociais)

Então, Andreson passou a ser monitorado pela PF. Inclusive, é um dos alvos da ‘Ultima Ratio’, que revelou ligação dele com o advogado em Campo Grande, Felix Jayme Nunes da Cunha.

Em uma das conversas interceptadas entre os dois, a investigação flagrou suposta negociação de decisão no STJ: “Mais (sic) falo que a pessoa só tinha 290 mil para pagar. Isso aqui é café”.

Dessa forma, a PF conclui que “Salvo melhor juízo, as frases proferidas levam a crer que ANDRESON estaria insinuando que a quantia de R$ 290.000,00 seria considerada irrisória para o pagamento de propina“, segundo trecho do documento.

Despacho assinado pelo ministro do STJ, Francisco Falcão, baseado nas investigações da PF, indica que Felix recebeu, em 2017, R$ 1,1 milhão da empresa Florais Transporte, cujo proprietário é Andreson de Oliveira Gonçalves.

Mensagens indicam proximidade a ministro do STF

Conversas interceptadas pela PF mostram que o lobista Andreson usou o nome do ministro do STF em negociações de sentenças. Em diversas mensagens é possível ver que Andreson sugeriu ter relacionamento com o ministro Kassio Nunes Marques e que decisões favoráveis foram garantidas às causas que representava.

As conversas analisadas pelo UOL trazem que Andreson citou algumas vezes ter encontrado o ministro Nunes Marques em viagem internacional, com circunstâncias não esclarecidas. Ele também chegou a enviar capturas de tela de mensagens de suposta conversa com Nunes, refutadas pelo ministro.

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