André Luís dos Santos, empreiteiro conhecido como Patrola, seria sócio do ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD), de acordo com investigações que culminaram na Operação Cascalhos de Areia. Segundo PIC (Procedimento Investigativo Criminal) que deu origem às investigações nessa semana, Patrola seria aliado do ex-prefeito em supostos esquemas de corrupção.

De acordo com a denúncia, Patrola venceria licitações de cascalhamento de vias não asfaltadas, “para evitar fiscalização na execução dos trabalhos”, já que seria mais difícil de medir o serviço que sequer havia sido realizado.

A denúncia aponta ainda que o fiscal apenas tirava uma foto de uma única pá carregadeira no local como ‘prova’ da medição do serviço. Com o dinheiro das licitações vencidas por Patrola, Marquinhos compraria imóveis, que seriam gerenciados pela esposa do empreiteiro, em Campo Grande.

O servidor aponta na denúncia que esquema semelhante é realizado em Corumbá, na licitação de maquinários alugados e limpeza de ruas, e o valor da licitação ganha foi utilizado para a compra de uma fazenda em Corguinho.

Por fim, o servidor desabafa. “Estamos cansados de nos submeter a esse sujeito na Prefeitura Municipal, pois nos obrigam a fraudar licitação, já que a ordem vem de cima”.

A partir dessa investigação, os promotores Adriano Lobo e Humberto Lapa Ferri, da 29ª e 31ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público de Campo Grande, começaram a analisar os contratos de aluguel de maquinários e cascalhamento na Prefeitura, que culminaram na operação deflagrada.

Marquinhos diz ser amigo de Patrola, mas nega ter negócios

Acionado pela reportagem, Marquinhos Trad afirmou não ter nenhum tipo de negócio com André Luís dos Santos, o Patrola, mas admitiu que o conhece ‘como amigo’.

Questionado se acompanhava a execução dos contratos de cascalhamento em bairros sem asfalto enquanto prefeito, Marquinhos desconversa. “Tudo pregão eletrônico. Não existe. Se você ler de fato a denúncia anônima de 8 linhas eles falam da execução, não da licitação. Além disso, faz o levantamento dos valores de contrato que ele tem ou teve durante meus 5 anos e o que ele tem no Governo do Estado. Por que vocês não fazem isso?”, questionou.

No entanto, o Jornal Midiamax divulgou desde o primeiro dia da operação que além dos R$ 24.705.391,35 em contratos com a administração municipal para serviços de cascalhamento na região do Prosa, Patrola mantém atualmente, R$ 195,8 milhões em obras públicas na região do Pantanal.

A reportagem apontou inclusive que os valores pagos a outros fornecedores por quilômetro quadrado no interior do Estado são menores. Há menos de dois anos, um empreiteiro recebeu R$ 27,2 milhões para cascalhar 59,2 quilômetros de uma rodovia pantaneira.

Ou seja, a empresa fechou a licitação por R$ 459,6 mil o quilômetro de cascalhamento. Já a ALS Construtora recebeu R$ 1,3 milhão por quilômetro, R$ 922,4 mil a mais por quilômetro de cascalho que o outro empreiteiro, para realizar exatamente o mesmo serviço em trecho semelhante da mesma rodovia.

Corrupção e fraude

Os promotores pediram autorização para as buscas e tiveram o pedido negado pelo juiz Valdir Peixoto Barbosa, da 5ª Vara Criminal de Campo Grande. Então, recorreram ao TJMS, que autorizou a busca e apreensão em 17 locais relacionados a empreiteiros por supostos crimes de fraude a licitação, corrupção passiva e ativa, peculato, lavagem de capitais e organização criminosa.

O Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) cumpriram mandados para apurar possível inexecução contratual por parte das empresas licitantes. Segundo o documento que autoriza a operação, obtido pelo Jornal Midiamax, a investigação apurou que há fortes indícios de irregularidades na execução e fiscalização de diversos contratos.

O relator foi o desembargador Zaloar Murat Martins de Souza.

Confira a lista:

1) André Luis dos Santos, dono da ALS dos Santos e ALS Transportes;

2) Mamed Dib Rahim;

3) Edcarlos Jesus da Silva, da MS Brasil Comércio Eireli e Engenex Construções;

4) Paulo Henrique Silva Maciel, dono da Engenex;

5) Ariel Dittmar Raghiant, engenheiro da Engenex;

6) Patricia da Silva Leite, funcionária da Engenex.

7) Adir Paulino Fernandes, dono da JR Comércio e Serviços;

8) Medhi Talayeh, engenheiro da Prefeitura – Supervisor SISEP;

9) Edivaldo Aquino Pereira, servidor público SISEP – Gestor de Projetos

10) Erik Antônio Valadão Ferreira de Paula, servidor Público SISEP;

11) Fernando de Souza Oliveira, servidor da SISEP;

12) Rudi Fiorese, ex-Secretário de Obras – SISEP;

14) Engenex Construções e Serviços;

15) JR Comércio e Serviços;

17) SISEP – Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos da Prefeitura de Campo Grande.

Além das buscas, ficou autorizada a apreensão dos aparelhos telefônicos de: André Luiz dos Santos; Mamed Dib Rahim; Edcarlos Jesus da Silva, da MS Brasil Comércio Eireli e Engenex Construções; Paulo Henrique Silva Maciel, dono da Engenex; Ariel Dittmar Raghiant, engenheiro da Engenex; Patricia da Silva Leite, funcionária da Engenex; Adir Paulino Fernandes, dono da JR Comércio e Serviços; Medhi Talayeh, engenheiro da Prefeitura – Supervisor SISEP; Edivaldo Aquino Pereira, servidor público SISEP – Gestor de Projetos; Erik Antônio Valadão Ferreira de Paula, servidor Público SISEP; Fernando de Souza Oliveira, servidor da SISEP; e Rudi Fiorese, ex-Secretário de Obras – SISEP.

O objeto, segundo a determinação, é fazer a extração forense e materializar eventuais evidências dos delitos em aplicativos como o “WhatsApp” e “Telegram”, entre outros.