Sargento da Máfia dos Cigarreiros é condenado à exclusão da PMMS e 12 anos de prisão
Ele é acusado de receber propina para deixar carretas lotadas de cigarros passarem
Renata Portela –
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O sargento da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) José Roberto dos Santos foi condenado à exclusão e também a 12 anos de prisão. Ele é um dos militares acusados de integrarem a Máfia dos Cigarreiros.
A sentença, assinada pelo juiz Alexandre Antunes da Silva, da Justiça Militar, condena o sargento por corrupção passiva, corrupção ativa, também por integrar organização criminosa. Além disso, por ao menos 47 vezes facilitar o contrabando.
Ao todo, o militar foi condenado a cumprir 12 anos e 5 meses de reclusão, em regime fechado, além do pagamento de 28 dias-multa. O sargento ainda foi condenado à exclusão dos quadros da PMMS.
Máfia dos Cigarreiros
Em junho de 2021, os dois policiais militares, um já excluído do quadro de inativos da PMMS, foram denunciados e se tornaram réus pela Operação Nepsis, que já condenou outros 22 criminosos.
No dia 11 de junho daquele ano, sargento José Roberto dos Santos e o ex-cabo da PMMS Joacir Ratier de Souza foram denunciados pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). A acusação relembra a investigação da Polícia Federal, que resultou na Operação Nepsis, após descoberta da organização criminosa que contrabandeava cigarros do Paraguai.
A rede criminosa era comandada por Ângelo Guimarães Ballerini, Carlos Alexandre Gouveia, Valdenir Pereira dos Santo e Fabio Costa, o Pingo, também ex-PM. Eles eram responsáveis por organizarem corredores logísticos de passagem dos veículos que transportavam os cigarros contrabandeados até outros estados.
José Roberto e Joacir faziam o serviço de ‘garantidores-pagadores’, agindo em Nova Andradina e Dourados, respectivamente. Eles recebiam um valor mensal da quadrilha e atuavam para garantir o ‘sucesso’ de todas as cargas contrabandeadas que passavam pelas cidades.
Ao término das investigações, o juízo federal declinou da competência para julgar os crimes imputados aos policiais, em favor da Justiça Militar Estadual.
Fatos criminosos
Conforme a investigação, em 2017 o sargento José Roberto recebeu propina, enquanto PM, para praticar ato infringindo o dever funcional. Ele deveria informar aos contrabandistas sobre fiscalizações policiais e ainda servia como contato entre os interesses da organização criminosa e outros policiais que aderissem ao esquema.
O sargento era na época comandante da PM de Nova Casa Verde e recebia mensalmente do grupo criminoso R$ 30 mil para dividir entre 10 policiais que compunham o efetivo do posto.
Registro telefônico mostra momento em que o sargento recebe ligação de um dos chefes da quadrilha, pedindo pra que PMs da região parassem de se movimentar, já que a fiscalização estaria atrapalhando a passagem das cargas de cigarro.
Entre junho e julho de 2017, a organização criminosa teria liberado aproximadamente 400 carretas, das quais 13 foram apreendidas. O corredor logístico utilizado era a rota sul, que passava por Sete Quedas, Amambai, Juti, Naviraí, Ivinhema e Bataguassu ou Sete Quedas, Tacuru, Iguatemi, Juti, Naviraí e Bataguassu.
José era apontado como responsável por repassar informações privilegiadas à organização, como localização das viaturas e guarnições de serviço. Com isso, evitaria que as forças policiais abordassem as carretas lotadas de cigarros. Entre setembro e outubro do mesmo ano, a quadrilha teria liberado mais 400 carretas, das quais 35 foram apreendidas.
Em um dos trechos usados pelos caminhoneiros, a carga passava inclusive por Campo Grande. A investigação apontou também que Joacir Ratier era amigo de Fabio Costa, um dos principais nomes da organização.
Condenações
Em janeiro de 2021, os integrantes da organização criminosa foram condenados, em penas que somavam mais de 500 anos. As maiores sentenças foram de Ângelo Ballerini, 64 anos, 10 meses e 12 dias, e Valdenir Pereira, 66 anos, 8 meses e 19 dias. Já Fabio Costa foi condenado um mês depois, a 39 anos e 9 meses pela Operação Nepsis.
Operação Nepsis
A investigação teve início quando a corregedoria da PRF (Polícia Rodoviária Federal) constatou que alguns dos seus policiais estavam envolvidos com o contrabando de cigarros. Foi solicitado apoio e a investigação da Polícia Federal para que fossem atingidos na ação também os demais integrantes da organização criminosa que não fazem parte da instituição.
Com o objetivo de desarticular a organização criminosa e combater a corrupção policial que facilita o contrabando, a PF deflagrou em 22 de setembro de 2018 a operação em cinco Estados: Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Alagoas.
Entre os presos, além dos líderes e dos “gerentes” da Organização Criminosa, encontram-se policiais da PRF, da Polícia Militar e da Polícia Civil do Estado do Mato Grosso do Sul.
Só em 2017, os envolvidos teriam sido responsáveis pelo encaminhamento de ao menos 1.200 carretas carregadas com cigarros contrabandeados às regiões sudeste, centro-oeste e nordeste. Os valores em mercadorias contrabandeadas atingem cifras superiores a R$ 1,5 bilhão.
Foram apreendidas grande quantidade em dinheiro em resort, casas, e apreendidos carros e embarcações de luxo, além de armamento pesado e cargas de cigarros contrabandeados.
*Matéria editada às 15h30 em 21/08/2023 para correção de informação
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