Prefeitura de Vicentina gasta em apenas um evento 77% do total da verba anual para cultura
Quatro shows nacionais foram contratados para o 35º aniversário da cidade
Graziella Almeida –
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Com o repasse anual de R$ 850 mil para a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, a prefeitura de Vicentina, distante 251 quilômetros de Campo Grande, gastou aproximadamente 77% do total em um único evento. Porém, grande parte do valor foi investido na contratação de quatro shows nacionais que custaram aos cofres municipais o total de R$ 650 mil.
Após dois anos de pandemia de covid — quando eventos estavam suspensos —, a gestão pública investiu pesado na festa, que juntando todas as despesas deverá ter um gasto em torno de R$ 1 milhão para sustentar os cinco dias de comemoração.
Conforme o comunicador e assessor da prefeitura, Gerson Ferreira, Vicentina ganhou ‘de presente’ um show do Canto da Terra para comemorar a concretização da festa de aniversário da cidade, totalmente gratuito e pago com recursos dos cofres estaduais. “É uma festa que ajuda a girar o comércio e fomenta o turismo, não é somente o município que está arcando com todo valor, mas também estamos recebendo ajuda de parceiros, como o Governo do Estado e da Assomasul (Associação dos Municípios do Mato Grosso do Sul)”, disse, sem citar valores.
Vicentina tem aproximadamente 6.115 habitantes, considerando apenas o valor investido nos shows nacionais, cada morador pagará R$ 106,29 para assistir o compilado de shows, que variam entre música gospel com Fernandinho e sertanejo, tendo Maiara e Maraísa como atração principal, Hugo e Guilherme, Clayton e Romário e Bruninho e Davi — o único que está sendo pago pelo Governo do Estado.
O Jornal Midiamax entrou em contato com o prefeito do município, Marcos Benedetti Hermenegildo (PSDB), mas as ligações não foram atendidas. Já o vice, Juraci Rodrigues (PSDB), alegou que não tem conhecimento sobre os dados e se absteve de comentar sobre a 35ª festa de aniversário de Vicentina.
Jateí
Outro município que entrou no jogo foi Jateí e realiza no início de julho a festa 45ª festa da fogueira, porém o evento contará com três shows nacionais e todos sertanejos. Diferente de Vicentina, o município tem um repasse de R$ 6,6 milhões para a Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer e as despesas totais do evento giram em torno de R$ 1 milhão, segundo o prefeito Eraldo Leite (PSDB).
Mesmo conseguindo pagar toda a festa com recursos próprios do tesouro municipal, o valor ainda é relativamente alto comparado ao número de habitantes e representa 2,1% do orçamento anual da cidade. O valor da festa, por exemplo, é suficiente para arcar com as despesas anuais de pastas como do Meio Ambiente e Turismo ou de Desenvolvimento Rural.
De acordo com o prefeito Eraldo Leite, o dinheiro investido foi guardado durante os dois anos de pandemia, pois os valores investidos estão na lei orgânica municipal, entre outros. “Não tivemos apoio de parceiros, nem do Governo do Estado e nem Federal. O valor total da festa, que é tradicional e muita conhecida, gira em torno de R$ 1 milhão. Faço questão de esclarecer todos os dados aos órgãos públicos, pois esse evento é realizado de acordo com as finanças municipais e podemos proporcionar isso à população, significa que temos dinheiro em caixa”, disse o gestor.
Os dados do IBGE apontam que Jateí tem apenas 12,7% da população exercendo algum tipo de trabalho. Além disso, o salário médio mensal dos moradores fica em torno de 1 ou 2 salários mínimos.
Contratações e dinheiro público: como tudo começou
Como apontado anteriormente, os questionamentos acerca das contratações de cantores sertanejos em cidades do interior começaram após o cantor Zé Neto, que faz dupla com Cristiano, criticar artistas que recorrem à Lei Rouanet e dar alfinetada em Anitta.
Porém, o show em que ele se apresentava foi realizado na cidade de Sorriso (MT) e custou R$ 400 mil aos cofres públicos, segundo o Diário Oficial do Município. A investigação, feita pelo jornalista do UOL, Demétrio Vecchioli, também apontou contratos com outras prefeituras, como Extrema (MG), no valor de R$ 550 mil; Sebastianópolis do Sul (SP), com R$ 403 mil, e Aruana (GO), na cifra de R$ 320 mil.
Usuários seguiram na investigação e apontaram outros cachês altos de famosos. O cantor Gusttavo Lima, por exemplo, teria recebido R$ 800 mil da prefeitura de São Luiz (RR), cidade com pouco mais de 8 mil habitantes.
Inclusive, uma apresentação do cantor chegou a ser cancelado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) na cidade de Teolândia, na Bahia, após um pedido do Ministério Público da Bahia. Gusttavo Lima receberia um cachê de R$ 704 mil pela apresentação na cidade. O festival custaria um total de R$ 2,3 milhões, o que corresponde a 40% do que o município destinou à saúde durante todo o ano de 2021.
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