Operação da polícia ‘acordou' cidade de 6 mil habitantes 

Não foram os trovões do tempo nublado que acordaram , distante 47 quilômetros de Campo Grande, nesta quarta-feira (10), mas os 40 policiais civis que deflagraram a Operação Meteoro para investigar supostas fraudes em licitações na cidade. Entre os pouco mais de 6 mil habitantes, entretanto, os desvios não são novidade.

Desde a madrugada a Operação cumpre mais de 20 mandados de busca e apreensão para apurar cerca de R$ 8 milhões em desvios de verbas públicas, que vão desde o serviço de merenda até a borracharia.

Além do prefeito e de quatro vereadores que têm cargo de confiança na Prefeitura para supostamente facilitar o desvio praticado pelo grupo, o pai e o sogro do prefeito também são investigados por lavagem de dinheiro.

Todo mundo sabe

Moradores acompanharam de longe a movimentação na Prefeitura. Em ano de eleições municipais, muitos acreditam que a corrupção está longe de acabar. Indignação e surpresa também não estão entre os moradores, já que muitos confessam que “todo mundo sabe e comenta” sobre os desvios.

O aposentado José Reichel, de 73 anos, mora há mais de 30 anos na cidade. “Eu já tinha ouvido alguns comentários. O povo comenta as irregularidades do prefeito, mas é assim, coisa de conversa. Ninguém fala abertamente”.

Como exemplo, o aposentado citou a reforma do posto de saúde da cidade. “Foi reformado e entregue no ano passado. Tem lá uma placa que diz que gastaram R$ 667 mil para a reforma. Eu, com metade desse valor, pelo que a gente vê que foi feito lá, derrubava e fazia um novo, sem exagero. Não tem motivo para gastar o tanto que eles dizem que gastaram”.

José lamenta que uma cidade tão pequena tenha que ter acordado com tantos policiais nas ruas.

O comerciante Carlos Roberto Pereira Nunes, de 51 anos, nasceu e foi criado em Jaraguari. “É a pior coisa do mundo essa operação policial. Demorou tanto para tomar uma providência dessas. Isso porque a Câmara já tinha recebido denúncias e arquivado tudo a respeito, nunca foi feito nada”.

“Para mim isso não é surpresa não. Todo mundo comenta. A gente só não tem como provar”, completa.

A operação

Desde a madrugada desta quarta-feira (10) cerca de 40 policiais civis da Capital deflagraram a operação na cidade com busca e apreensão na Prefeitura, Câmara de vereadores da cidade e comércios. Ao todo, são cumpridos 20 mandados.

A suspeita de improbidade administrativa motivou um pedido de busca e apreensão no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, com cautelar deferida para ser cumprida nesta quarta. A operação conta com o apoio do Garras, Denar, Derf e Decon.

A denúncia noticia diversos atos de improbidade imputados ao atual prefeito da cidade “em conluio criminoso” com vereadores do município e ainda gestores públicos e privados do Estado.

Em razão do foro privilegiado, as denúncias de fraude em licitação, falsificação de documento público, falsidade ideológica, uso de documento falso, peculato, emprego irregular de verbas públicas, corrupção, passiva, advocacia administrativa, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa seguem sob sigilo.

Em parceria, empresários e poder público estariam prejudicando o comércio local ao superfaturar obras, direcionar tráfico de influência, e outras irregularidades em borracharias, transporte escolar, obras, assistência social, merenda escolar, frota, locação de veículos, recuperação de estradas, informática, alimentação, saúde e despesas oficiais.

A investigação corre desde dezembro de 2015.